Em 2013, a cantora cearense Lúcia Menezes completa seus 25 anos de carreira. Para esta data redonda, não há ainda nada combinado, apenas algumas vontades. O primeiro DVD, mais shows… Por enquanto, na lista de prioridades está apenas a divulgação de Lucinha, seu quinto trabalho lançado desde que foi premiada no Festival de Camocim, em 1988, com a música Se a Amazônia falasse (Pedro Magalhães/ Maria Lúcia).

Insatisfeita com a distribuição do seu trabalho anterior, Pintando e bordando (Som livre/ 2008), o disco Lucinha sai por uma gravadora menor, a Timbre, mas cercado por muitos luxos. Começa pela lista de músicos que acompanha a intérprete. Os arranjos, delicados e sinuosos, foram entregues aos mestres João Lyra e Cristovão Bastos. A eles, somem as presenças marcantes de instrumentistas como Adelson Viana na sanfona, Dirceu Leite no clarinete, Jamil Jones no baixo, Mingo Araújo na percussão e muitos outros. E boa parte desses nomes também acompanham a cantora em shows, como o que ela vem fazer em Fortaleza no próximo 15 de julho.

Em partes, pode-se atribuir essa seleção de músicos a outra presença luxuosa, a do produtor José Milton. Reconhecido por colocar os artistas exatamente no lugar onde eles pertencem, o cearense que mora há anos no sudeste tem no seu currículo importantes trabalhos com Nana Caymmi, Miltinho e Fagner. A cantora o conheceu em 2004, por intermédio de Sivuca (1930 – 2006), e logo fez o convite para ele produzisse o disco que sairia no ano seguinte. “Depois, ele disse que veio pra me dizer não. Ele pediu para eu cantar alguma coisa e eu cantei Febre de amor, do Lauro Maia. Eu não sabia, mas o José Milton adora essa música. Depois, cantei umas coisas da Carmen Miranda, cantei Estrada do sertão, e ele foi logo marcando a data (das gravações)”, relembra Lúcia Menezes, falando do Rio de Janeiro, onde mora desde 2002.

A parceria deu certo e eles chegam agora ao terceiro trabalho juntos. Como diz o jornalista Sérgio Cabral na apresentação, Lucinha faz “uma ponte musical entre o Nordeste e o Sudeste”. Selecionado pela cantora junto com o marido e produtor executivo do projeto, Nelson Silveira, e José Milton, o repertório começou com uma indicação para a canção Requebrado, da mineira (radicada em Brasília) Angela Brandão. Depois de uma amizade pelo Facebook e pelo Myspace com a compositora, a cearense pediu para gravar seu samba. Ouviu um “sim” como resposta e, de quebra, ganhou também a buliçosa Bola sete. De uma forma ou de outra, o trabalho foi sendo montado a partir desta primeira composição. “Meu figurino quem faz sou eu e esse foi baseado no Requebrado”, revela a artista.

Para completar as 14 faixas de Lucinha, a procura foi por velhas referências. De Carmen Miranda, já homenageada no disco de 1996, veio Coração (Sinval Silva). Outro ídolo recorrente na carreira de Lúcia Menezes, Chico Buarque cede a recente Injuriado. Dos conterrâneos, tem Estaca zero (Ednardo e Climério) e Dono dos teus olhos (Humberto Teixeira). Ainda pelo Nordeste, tem o amigo Chico César (Moer cana) e Tom Zé (O amor é velho e menina). Do seu baú de descobertas, há ainda Que loucura, pérola autobiográfica de Sérgio Sampaio, que agora conta com a guitarra eficiente do bluseiro Artur Menezes, filho de Lúcia. Longe dos sucessos óbvios, o repertório é montado na base da coletividade, com sugestões ainda de amigos como Nirez e Sérgio Cabral. “É a mesma fórmula dos outros discos. É a minha busca sempre por músicas que estão no acesso, mas não se escuta mais. Eu estava com essas coisas todas guardadas”. Assim Lúcia Menezes explica como construiu essa ponte entre dois “brasis” tão distantes, o do Nordeste e o do Sudeste.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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