No ano do seu centenário, pouca coisa realmente importante saiu sobre Luiz Gonzaga. Espécie de Tom Jobim do forró, João Gilberto da sanfona ou Bob Dylan do Nordeste, este pernambucano merecia ter seu nome muito mais citado no ano em que completaria 100 anos do seu nascimento. Uma citação aqui outra ali, e uma das poucas homenagens que merecem destaque, até agora, é o tributo preparado pela gravadora Lua Music com 50 versões inéditas preparadas por artistas de várias épocas da MPB. Fora essa, outro trabalho que merce registro é a coletânea dupla Olha pro céu, lançada pela Universal. Trazendo apenas um registro inédito – Caetano Veloso ao violão dando cara nova para Respeita Januário -, a ideia aqui é mostrar até vai a marca do Rei do Baião. Editado com esmero e carinho, o projeto de Carlos Sion agrega 28 faixas pinçadas dos mais distantes pontos cardeais da MPB. Pra se ter uma ideia, vai de uma herdeira famosa de Luiz, Elba Ramalho, até um representante do esquecido soul-funk brasileiro, Gerson King Combo. Enquanto a paraibana comparece com duas faixas – Dúvida (tirada do disco Encanto, 1992) e Roendo unha (de Coração brasileiro, 1983), Gerson vem com um tratamento funk único para Xote das meninas (tirada do excelente Brazilian soul, 1970). Pra melhorar tudo, o projeto vem aberto com um texto do jornalista Tárik de Sousa, que costura toda a proposta da homenagem, e todas as faixas são devidamente identificadas com as datas e os discos de onde foram tiradas. Com esse cuidado todo, é possível se redescobrir trabalhos antológicos que tiveram o dedo de Luiz Gonzaga. É o caso dos antológicos Gal Fa-Tal (1971) e Tamba Tajá (1976), estreia da paraense Fafá de Belém. Do primeiro é tirada uma versão mais triste do que nunca de Assum preto na voz cristalina da baiana, e do segundo vem a dengosa Xamego. Outro destaque de Olha pro céu é a participação deo Quinteto Violado em cinco faixas (Algodão, Numa sala de reboco, Asa branca, Vozes da seca e num pot-pourri de São João) e da carioca Claudette Soares, numa releitura xote-funk de Baião. Nessa mesma pegada o MPB-4 surpreende em Derramaro o gai, numa versão de 1970. Escolhida a dedo do fraco Só forró (que título…), de 1994, a cearense Amelinha também reina com sua voz única no hino A vida do viajante. Viajando em gravações de 1959 (Carmélia Alves) até 2010 (Gilberto Gil), a coletânea Olha pro céu tem o mérito de mostrar a grandiosidade da obra do Seu Luiz, alguém que soube como poucos fotografar a cara do Nordeste.

Faixas:

1. Asa Branca – Caetano Veloso
2. ABC do Sertão – Maria Bethânia
3. Cintura Fina – Alceu Valença
4. Baião – Claudette Soares
5. Algodão – Quinteto Violado
6. Dança da Moda – Gilberto Gil
7. A Vida do Viajante – Amelinha
8. Derramaro o Gai – MPB-4
9. Baião da Garoa – Carmélia Alves
10. O Xote das Meninas – Gerson King Kong e a Turma do Soul
11. Numa Sala de Reboco – Quinteto Violado
12. Dúvida – Elba Ramalho
13. Olha pro Céu – Gilberto Gil

14. Baião de dois – Caetano Veloso
15. Asa Branca – Quinteto Violado e Luiz Gonzaga
16. Assum Preto – Gal Costa
17. Vem Morena – Alceu Valença
18. Xamego – Fafá de Belém
19. Vozes da Seca – Quinteto Violado
20. Respeita Januário – Caetano Veloso
21. Qui nem Jiló – Claudette Soares
22. Imbalança – Gilberto Gil
23. Roendo Unha – Elba Ramalho
24. Siri Jogando Bola/Respeita Januário/Forró do Mané Vito – Dominguinhos
25. Pau de Arara – Marília Medalha
26. Juazeiro (ao vivo) – Gilberto Gil
27. São João do Carneirinho/São João na Roça/Polca Fogueteira – Quinteto Violado
28. A Volta do Asa Branca/ Eu Só Quero um Xodó – Caetano Veloso

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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