A história de Roberto Carlos na música brasileira é curiosa. Ela começa no início dos anos 1960, com um disco puxado para a Bossa Nova e o samba canção. Em seguida, ele parte para o rock e se torna um dos ícones da juventude. Mais uma guinada e o cantor e compositor cachoeirense vai com tudo nos metais em brasa da soul music. O tempo vai passando e ele ainda adota uma postura meio Sinatra, entoa cantos religiosos e cai de boca em sucessos populares de gosto duvidoso.

Diante de tanto ecletismo, não seria difícil que o Rei conseguisse fãs nos mais variados nichos musicais. De Maria Bethânia a Marcos “Nasi” Valadão, todo mundo já tirou um pedaço do manto sagrado deste que é um dos mais importantes artistas do País Tropical. Não seria, então, estranho que os novos nomes da música brasileira também tivessem uma queda pelo ídolo. É aí que nasce o Del Rey, quinteto formado pelo ex-vocalista do Sheik Tosado, China, e pela banda Mombojó, que se apresenta hoje à noite no BNB Clube da Avenida Santos Dumont.

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Despretensiosos como uma pelada de fim de semana, a banda de pernambucanos nasceu em 2003 meio que por acaso. Um amigo pediu opinião de algum grupo para tocar em seu aniversário. “Por que nós mesmos não tocamos?”, pensaram. Daí, logo veio a ideia de brincar com o repertório do Rei do Iê Iê Iê. Como o sucesso foi total, logo eles agendaram mais quatro apresentações, e mais, e mais. Hoje a agenda do Del Rey é mais disputada que as carreiras individuais do China e do Mombojó.

“Essa é a nossa hora de se divertir. Como a gente já é muito parceiro, o Del Rey é a hora que a gente celebra”, explica o cantor China, em entrevista por telefone. Segundo ele, as intenções do quinteto são mesmo de seguir tocando e cantando as músicas de Roberto, sem limitar época, estilo ou qualquer outra coisa. Nos shows, eles podem tocar o que bem quiserem. “Nós usamos as passagens de som para ensaiar e vamos testando as músicas novas nos shows. Tentamos pegar a obra completa, desde as gordinhas até as mais antigas. Ainda temos muita vontade de tocar As baleias. Mas, como tem todo um arranjo de orquestra, ainda não conseguimos”, conta o fã incondicional de Roberto.

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Apesar disso, ainda não foi do Rei que veio a benção para o projeto. Ela veio pelas mãos de dois amigos de fé e irmãos camaradas de Roberto. Primeiro foi Erasmo quem não só elogiou o Del Rey, como até dividiu o palco do programa Grêmio Recreativo, apresentado por Arnaldo Antunes na MTV. Em seguida, no mesmo canal, a banda recebeu Wanderléa para uma versão bem diferente do especial do Rei, exibida em dezembro do ano passado. Contando ainda com as presenças de Jorge Du Peixe e Fafá de Belém, eles aproveitaram o programa para criar versões turbinadas para Além do horizonte, Você não serve pra mim, Detalhes e várias outras. Tudo costurado pelo autêntico sotaque pernambucano.

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Por conta do sucesso garantido, hoje o Del Rey criou suas próprias regras de trabalho. Em primeiro lugar, a prioridade é para as carreiras individuais de China e do Mombojó. Depois, eles decidiram não tocar em festivais de música independente. “Por que é antiético. Como é uma banda cover, tiraríamos o espaço de alguém que tem o que tem que mostrar”, explica China. Eles também não têm planos de marketing ou de registrar a parceria em CD ou DVD. Ainda assim, um desejo fica guardado no coração do Del Rey. “Os planos pro Del Rey é um dia tocar com o próprio Roberto Carlos no seu especial do fim do ano”, sonha o vocalista. Pra eles, isso não é um sonho lindo que se foi.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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