Oficialmente, são dois anos de carreira, mas tem outro tanto de apresentações ao vivo para trás. Nesse intervalo, foram dois discos lançados, um deles com direito ao primeiro lugar nas listas dos melhores de 2010 feitas pela revista Rolling Stone e pelo jornal Folha de São Paulo. Com tantos floreios, vieram também turnês pela Europa e pela América do Norte. Até para o Japão ela já foi e já tem data para retornar. No entanto, a primeira da cantora e compositora Tulipa Ruiz em Fortaleza foi neste sábado (24), no BNB Clube, que está completando 58 anos de vida.

“Finalmente, né? Já cantei em muitos lugares do Nordeste, mas vamos desencantar agora em Fortaleza”, comenta a cantora que, há tempos, ouve falar sobre o público da Cidade. “O meu técnico de som (Vitor Paranhos) é o mesmo do Marcelo Jeneci. Eles vão para aí e quando voltam é botando a maior pilha. ‘Tu tem que ir. É muito legal’”. Ela até chegou a ser anunciada como convidada do show de Jeneci, no Festival UFC de Cultura 2011, mas outro show já marcado atrapalhou a vinda. Para compensar a demora, Tulipa adianta que preparou um show onde mistura os melhores momentos de Efêmera (2010) e Tudo tanto (2012), seus dois únicos discos.

Hoje com 34 anos, a santista que cresceu em São Lourenço, Minas Gerais, é uma das figuras mais comentadas da música brasileira. Batizada com o nome de uma flor que os pais gostavam, Tulipa demorou a enveredar pela música. Antes, trabalhou como jornalista e ilustradora. Filha do guitarrista Luiz Chagas, membro da banda Isca de Polícia que acompanhava Itamar Assumpção (1949 – 2003), ela só foi morar com pai em São Paulo quando era “jovenzinha”. Até lá, ficava recebendo dele, que também é jornalista, uma série de discos com os releases. “Isso era muito legal por que eu ficava antenada”, acrescenta.

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Fazendo participações em shows de amigos, ela começou a desenhar uma carreira de cantora em 2009, período em que começou a gestação de Efêmera. A espera foi tão na medida que, quando o disco nasceu, saltou logo para o topo das listas de melhores do ano. “Não imaginei que a música fosse ser minha profissão. Quando isso aconteceu, foi muito difícil por que o risco ia ser muito grande”, lembra ela que ainda se desiludiu ao tomar contato com o lado burocrático da história, coisas como advogado e direito autoral. “Eu liguei para o (músico) Tatá Aeroplano e disse: ‘Tatá, meu, to achando isso chato, esquisito. Quer dizer que eu tenho que entender de edital?’ Era como se eu tivesse acabado de pegar a grade de matérias na universidade”, lembra.

Passar pelo primeiro susto valeu à pena e facilitou o caminho para que Tudo tanto chegasse com mais tranquilidade, com o apoio do edital Natura Musical. O aprendizado também valeu para a parte musical. “Esse disco é resultado de muita estrada, de uma convivência em grupo, em banda. É um disco mais maduro, com mais horas de voo. Tudo era novo na hora de gravar o primeiro. Nesse, eu desfrutei mais do estúdio”, lembra Tulipa, que disponibiliza seus dois discos para download gratuito em seu site oficial. “Num primeiro momento, eu acredito que o download é uma primeira relação. Hoje o perfil do público é híbrido. Tenho uma prima de 12 anos nunca comprou disco, um amigo que compra LP e outro que nem baixa, só ouve em streaming. Se eu não ofereço (nesses formatos) eu to restringindo o meu público. E eu soube que meu disco vazou, quando eu fui ver era numa qualidade péssima. Essa coisa da baixa resolução é o mal contemporâneo. Ou seja, quer me baixar, me baixe com dignidade”, encerra.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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