2012 tem sido um ano bom para o cantor paulistano Marcos “Nasi” Valadão. Há poucos meses, teve sua história contada na elogiada biografia A Ira de Nasi (Belas Letras), escrita pelos jornalistas Alexandre Petillo e Mauro Betting. Recentemente, também fez as pazes com o irmão e empresário Airton Júnior e, de quebra, tirou das costas o peso dos processos que carregava desde 2007. Mesmo que não tenha reatado com os antigos colegas do Ira!, pelo menos, Nasi passou também a ser dono da marca que ajudou a criar.

Para fechar, ele acaba de lançar o disco Perigoso pela Coqueiro Verde. Esse disco chega seis anos depois do ótimo Onde os anos não ousam pisar e dois anos depois de Vivo na Cena, primeiro trabalho pós-Ira!. Mais próximo deste segundo do que do anterior, Perigoso é um disco de rock autêntico, feito com baixo, bateria e guitarra. Em parte, isso se deve ao fato das gravações terem sido transmitidas ao vivo na internet, pelo projeto Trama Virtual. Por conta disso, o reality show musical tinha prazo máximo de um mês, o que exigia urgência e poucas firulas.

Essa pressa se reflete na versão nervosa de Dois animais na selva suja da rua, composição de Taiguara gravada em Carlos, Erasmo, clássico setentista do Tremendão. “Fui surpreendido quando vi que era do Taiguara”, confessa Nasi em entrevista por telefone. “Não o conheço muito, mas tinha a referência de ser um grande cantor e um cara de sonoridade diferente. Um cara da elite da MPB”. Ao lado desta, outras quatro versões marcam presença em Perigoso. O funk soul Tudo bem, do Garotas Suecas, ganha velocidade, enquanto a jovenguardiana Como é que eu vou poder viver tão triste (Demétrius) vira um blues encorpado. Também do iê iê iê, Não há dinheiro que pague (Renato Barros) sublinha a fúria da letra com um solo de teclado. Para fechar, As minas do Rei Salomão é uma parceria de Raul Seixas e Paulo Coelho gravada em Krig-Ha Bandolo, disco que, assim o de Erasmo, fica entre os preferidos de Nasi.

Ao lado destas homenagens, outras cinco faixas revelam os bons ventos que sopram para Nasi. A faixa-título é um country blues escrito em parceria com Johnny Boy, que lembra o melhor estilo Johnny Cash (1932 – 2003). “É um blues de redenção, típico dele de se vangloriar sobre as vitórias da vida”, revela o cantor que declara na letra “Eu tenho orgulho de todas as minhas cicatrizes. Que graça tem a vida sem nenhuma crise”. Rock quadradão, Ori é uma espécie de reza politicamente incorreta que se alinha com a ótima Amuleto. À sua maneira, Nasi também fala de amor na mezzo balada Não vejo mais nada de você, co-autoria de Carlos Careqa e Johnny Boy, e na sinistra Feitiço na rua 23, parceria com Nivaldo Campopiano.

Cheio de personalidade e vigor, Nasi ri da fama de brigão e ainda tira um sarro no título de Perigoso. “Foi sem nenhum pudor. Já que me colocaram esse rótulo, vou me vender à partir dele. Estranho seria se eu fizesse um título como o do Padre Marcelo”, explica ele que tem planos de relançar em breve seus outros discos solo (incluindo os quatro ao lado dos Irmãos do Blues) num box. Também faz parte dos seus projetos uma autobiografia com a parte da história que ainda não pode ser contada. “Essa primeira (A ira de Nasi) cumpre uma função de contar a minha história de vida e a história do Ira!. Mas tem muitas histórias que ainda não prescreveram, por isso não poderiam ser contadas. Somos uma banda de rock, tínhamos até obrigação de ter vivido aquilo”, comenta repetindo que, nem de longe, queria ver sua história contada pela metade. “Eu não embarcaria num trabalho desses se fosse chapa branca. Tudo que eu não quero é uma biografia Justin Bieber”.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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