Maria Bethânia Viana Teles Veloso, 66 anos, baiana e cantora. Dona de um dos timbres mais reconhecíveis da música brasileira, esta que foi batizada com o nome de um dos clássicos de Capiba, sucesso na voz de Nelson Gonçalves, hoje conta 47 anos de carreira e quase 50 discos lançados (se contar os compactos e projetos internacionais, passa da meia centena). Dessa discografia, o mais recente chama-se Oásis de Bethânia, trabalho que deu origem à turnê Carta de Amor, que chega hoje a Fortaleza para única apresentação no Centro de Eventos.

Embora não tenha perdido a marca da teatralidade, da passionalidade e da entrega, Oásis de Bethânia trouxe novidades para o som da cantora. Para começar, cada uma das 10 faixas foi entregue a um arranjador, o que deu movimento ao disco. Em segundo, os silêncios ganharam mais espaço nos arranjos, muitos deles feitos somente com voz e um instrumento. De Cândido das Neves, Lágrima é divida apenas com o bandolim virtuoso de Hamilton de Holanda, assim como Barulho (Roque Ferreira) e Salmo (Rafael Rabelo/ Paulo César Pinheiro) são cantadas sobre os pianos solitários de, respectivamente, Vitor Santos e André Mehmari.

Como não seria possível viajar com tantas estrelas da música instrumental brasileira, a turnê precisava de alguém que desse esse tom diferente, mais econômico, aos arranjos. Foi aí que Maria Bethânia foi até Minas Gerais chamar o pianista Wagner Tiso para ser seu diretor de palco. Apesar de experiente compositor e músico, o mineiro, velho parceiro de Milton Nascimento, não negou o prazer e o temor de assumir o ofício que, por 30 anos, foi exercido por Jaime Alem.

Mesmo que já tenham gravado juntos, essa é a primeira vez de Bethânia e Tiso no palco. Com previsão de seguir até abril de 2013, a turnê Carta de Amor busca o encontro de duas marcas fortes da música brasileira: a baiana e a mineira. Por isso, o show começa e termina com o tom oratório de Canções e momentos (Milton Nascimento e Fernando Brant), mas lá pelo meio um pot-pourri de batuques dá aquele balanço. Para ajudar nesta viagem pelos cantos do Brasil, o show conta com os cearenses Jorge Helder (baixo) e Pantico Rocha (bateria), além de Gabriel Improta (violão e guitarra), Paulo Dafilin (violão e viola), Marcelo Costa (percussão), Marcio Mallard (cello). “A diferença clara está nos arranjos. Por ser diretor e arranjador novo, a visão é outra. E tem uma coisa muito bacana nesse espetáculo que é arranjo meu e do Marcelo Costa para algumas músicas mais percussivas. Então, cada um tem seu momento especial e isso faz muita diferença”, comenta Pantico.

Juntos, eles contam uma história de amor e entrega à música. Entre músicas novas e antigos sucessos, o show Carta de Amor é dividido em dois atos. São mais de 30 músicas, onde cabe até a inédita Em estado de poesia, de Chico César. Pela primeira vez na voz de Bethânia, A casa é sua, rock inocente de Arnaldo Antunes gravado em Iê Iê Iê, fica ao lado de Negue (Adelino Moreira), Na primeira manhã (Alceu Valença) e Fogueira (Angela Ro Ro), num roteiro emocionado. Sabendo que o palco é o seu ponto máximo, Maria Bethânia caminha à vontade por essas quase cinco décadas, onde exerceu seu ofício de cantar com seriedade e devoção.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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