0102va0111“Agora você vai dar licença por que a mamãe está dando uma entrevista. Desculpa, onde é que eu estava mesmo?”. Frases como essa agora fazem parte da carreira da cantora e compositora Badi Assad. Tida como uma das grandes estrelas brasileiras no cenário jazzístico internacional, há cinco anos, ela freou a rotina de shows e lançamentos para cuidar de outro assunto, a filha Sofia. Adiantado ser a primogênita sua “mais incrível criação”, a artista até saiu da cidade grande para cuidar da pequena num cenário de maior tranquilidade, no interior de São Paulo.

No entanto, o período sabático e a maternidade acabaram virando combustível para novas composições, que ela agora apresenta no seu 11º disco, Amor e outras manias crônicas. Inaugurando uma nova fase, mais autoral e descomplicada, o disco é a base dos três shows que ela apresenta a partir de hoje em Fortaleza. Acompanhada Guilherme Kastrup (percussão, bateria e samplers) e Meno Del Picchia (baixo, guitarra e teclados), Badi não lembra se essa é sua primeira vez por aqui, mas adianta que trata-se da mesma apresentação que tem feito pelo Brasil e que já tem datas agendadas para o exterior.

Lançado pelo próprio selo, o Quatro ventos, o novo disco de Badi Assad traz como novidade um acento pop, com melodias doces e assobiáveis. “Quando eu fui lá para o interior, cuidar de filho, a simplicidade me invadiu. As composições ficaram naturalmente mais simples”, explica ela por telefone. Pegando rascunhos de letras e melodias que ficaram incompletas, ela foi reconstruindo ideias e sentimentos. “As letras foram resgates de muita coisa que eu escrevi, mas que não tinha terminado. São letras de vários momentos da minha vida, que permanecem atuais. Claro que tem algumas manias novas que a gente adquire com o tempo”.

Com essa metodologia, ela chegou às 12 composições de Amor e outras manias crônicas. Destas, apenas Saudade verdade sorte é assinada com algum parceiro, no caso Pedro Luís. A demais são melodias e letras de Badi, que ainda dividiu os arranjos com Márcio Arantes e Guilherme Kastrup. Também coube a eles dois a produção do disco. “Tem canções singelas, com letras falando de amor e balão, e músicas apimentadas, falando sobre casais que se amam ou se odeiam. Quando eu compus, queria chamar um produtor que fosse mais jovem, que não fosse do universo do jazz”, explica ela, que logo pensou em Guilherme.

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Aproveitando ainda esse fluxo de composições que veio inspirado na filha Sofia, Badi Assad já está de olho em um projeto infantil, previsto para o começo do próximo ano. Já aprovado pela Lei Rouanet, ela pretende montar um espetáculo onde junte suas porções musical e teatral. Segundo ela, algumas composições já estão prontas e devem entrar para o show desta noite. “No processo criativo, você entra numa onda e ela fica. Ela desponta por algum motivo e, conforme você vai alimentando, ela fica”, divaga a artista que já tem convites para levar o futuro projeto à Sérvia e à Estônia. “Só vou precisar fazer algumas traduções”, adianta.

Carreira

Nascida Mariângela Assad Simão, em São João da Boa Vista, São Paulo, Badi entrou na a música influenciada pelos irmãos Sérgio e Odair, que formam o Duo Assad. Criada desde cedo no Rio de Janeiro, ela começou pelo piano, mas, ainda na adolescência, chegou ao violão. Dona de um estilo peculiar e virtuoso de lidar com o instrumento, ela conquistou muitos públicos pelo mundo, seja em apresentações cantadas ou instrumentais. “Certa vez, na Finlândia, uma senhora comentou que o meu tinha sido o melhor show da vida dela. Quando vi, ela era cega. Ou seja, tudo que eu cantei para ela foi pura emoção”, arremata.

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No entanto, com mais de 20 anos de carreira – comemorados com um DVD lançado em 2010 pela Biscoito Fino –, Badi Assad ainda tem dificuldades de apresentar seu trabalho no Brasil. “Se a mídia não se expande, vários artistas ficam correndo pela beirada. Sei que, se meu público não é maior, é por conta dessa mídia. Tenho que aprender a conviver com isso. Não é por isso que eu vou ficar deprimida”, comenta a artista, que foi escolhida pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) como a melhor compositora de 2012 por conta do novo disco. Embora se esforce para não se deixar afetar, ela admite que gostaria de mais reconhecimento no próprio país. “É a primeira vez que ganho um prêmio no Brasil. Não posso fingir que não existe, mas não posso deixar que me atrapalhe. Sempre escuto que deveria ser mais conhecida. Eu também acho”.

Serviço:
Badi Assad – Amor e Outras Manias Crônicas
Quando: sexta (1º) e sábado (2), às 20h, e domingo (3), às 19h
Onde: Teatro Caixa Cultural (Av. Pessoa Anta, 287 – Praia de Iracema)
Quanto: R$20 (inteira) e R$10 (meia). À venda na bilheteria do teatro
Outras informações: 34532770

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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