PrintOs 72 anos parecem ter feito muito bem ao veterano  Dr. John. Com mais de 50 anos de carreira, cinco Grammys na estante e recém entrado para o Hall da Fama do Rock, este americano de New Orleans demonstra que não perdeu a veia venenosa no seu novo disco, Locked down (Warner). O hiato de quatro anos sem discos foi quebrado quando Dan Auerbach, músico da banda “novidade do rock” Black Keys, foi bater à porta daquele senhor de barbas brancas lhe propondo a gravação que há anos ele não fazia.  Foi preciso a neta de John explicar quem era o rapaz para que o avô o recebesse com um mínimo e respeito. O encontro deu certo e Locked Down é um trabalho de jazz, funk, soul e blues que deve ser ouvido por qualquer um que se diga fã de boa música. Cheio de grooves poderosos e sonoridade vintage, o disco expõe as rugas adquiridas pelo tempo de um artista que, embora não seja tão conhecido no Brasil, é muito respeitado nos nichos bluseiros. Essas rugas estão expressas em canções que falam sobre os novos tempo, família Deus e Satã. My Children, my angels, por exemplo, faz uma ponte entre o presente e os tempos de folk-rock tipo Bread e Allman Brothers. Já Revolution é uma pedrada suingada que faz sentir saudade de Amy Winehouse, a filha que Dr. John não teve. Sem pontos altos ou baixos, Locked Down é um disco linear, inspirado e obrigatório.

1rc1Embora conte menos idade, Robert Cray também tem experiência no assunto blues. Com 59 anos de vida, metade deles dedicados à música, este americano da Georgia tem parcerias com gente do nipe de Eric Clapton e Albert Collins, e traz no currículo 16 discos. O mais recente é Nothin but love (Som Livre), um trabalho focado em boas melodias construídas sobre sua guitarra virtuosa. Reforçado por um trio de baixo (Richard Cousins), bateria (Tony Braunagel) e piano (Jim Pugh), o disco produzido por Kevin Shirley usa a favor de Robert todos os bons clichês do blues, principalmente as canções cheias de sentimento interpretadas com vigor. As 10 faixas escritas foram pelos membros da banda (e eventuais parceiros), com exceção de Blues get off my shoulder, balada lançada por Bobby Parker em 1958. Feito para pegar o ouvinte logo na primeira audição, Nothin but love tem alguns momentos merecem destaque, como Side dish, um rock acelerado que animaria qualquer pista dos anos 50 até 2013.  Pisando de leve no soul, A memo caminha sobre um riff simples e bonito de orgão. Com sonoridade atípica, Sadder days encerra o disco com a melancolia de um amor acabado. Bela e chorosa, a canção traz embutida a esperança de que tudo pode melhorar. Com esses dois discos, podem mesmo.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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