Três assuntos caminhavam praticamente juntos entre as bandas de rock do anos 1970: psicodelia, ousadia e LSD. Foi assim num mundo que ainda estava absorvendo os sons que ecoaram do Woodstock em diante. Inspirados em Santana, Motown, Yes e Emerson, Lake & Palmer, a juventude se defendia de uma série de revoluções que pipocavam pelo planeta, sempre usando guitarras, sintetizadores e poesia. Foi assim, também, com a banda Casa das Máquinas.

A banda foi formada em 1973 a partir da reunião de músicos já tarimbados em outras bandas. Aroldo (vocal e guitarra) e Netinho (bateria e percussão) faziam parte dos Incríveis, enquanto Pique (piano, órgão, saxofone e flauta) tocava com Roberto Carlos. A eles, somaram-se Carlos Geraldo (vocal e baixo) e Pisca (vocal e guitarras). Com essa formação, eles lançaram um elogiado disco em 1974, todo permeado de guitarras distorcidas e vocais harmonizados. Com uma pegada mais roqueira, o primeiro trabalho dos paulistanos já abre com uma levada de bateria cortada por um riff de guitarra. Os vocais afinados de A Natureza, marca do quinteto, falam sobre uma transa divina que deu origem ao homem. A faixa seguinte, Tudo Por Que eu Te Amo, um blues recitado onde um filho pede desculpas ao pai por ter se tornado roqueiro.

Essas e outras faixas, como o black cafona Mundo de Paz, que cheira a motel barato, compõem um disco que serviu como carta de intenções e ensaio para o que viria a ser considerado o verdadeiro clássico. No ano seguinte, uma nova formação entra em estúdio para gravar o igualmente bem recebido Lar das Maravilhas. Com a saída de Pique, entram o tecladista Mário Testoni e do segundo baterista Marinho Tomaz. Assim como as quatro baquetas, a forte presença dos teclados foi uma novidade deste disco, mais voltado para o rock progressivo. Temas como AstralizaçãoLiberdade espacial dão o tom de uma época onde a paz e o amor eram o tema da hora.

A abertura é com Vou morar no ar, um quase hit marcado por grooves pesados e efeitos viajandões. Os vocais afinados se conectam aos toques de teclado. A natureza, o espaço sideral e o homem se confrontam em letras assumidamente psicodélicas. “Eu vou dormir/ Para sonhar/ Poder sair e me elevar/ Vou viajar/ Num beija-flor entre canais espaciais”, é o que avisa a faixa-título, um hai kaicantado em marcha lenta. E o que dizer de O Sol, com o astro rei falando em primeira pessoa sobe suas angústias. Na contramão, Epidemia de Rock é uma pedrada stoniana acelerada e sem meias palavras.

Mais um disco seria lançado pelo Casa das Máquinas em 1976 (Casa de rock), agora com uma terceira formação. Mas, dois anos depois, eles não resistiram aos novos tempos e encerram a carreira. Um retorno, mais discreto, se deu em 2003, com a participação no festival Psicodália. Mesmo sem a magia dos anos 1970, um novo Casa das Máquinas mantém vivo um repertório ainda cultuado por fãs saudosistas. Da formação setentista, se mantiveram na banda o baterista Marinho e o tecladista Mario Testoni. Aos três discos originais se somam registros caseiros de ensaios e shows recentes. A cada registro uma nova formação, mas preservando as mesmas intenções de falar do homem, da natureza e do espaço.

Faixas de Lar das Maravilhas (1978):
1. Vou Morar no Ar (Aroldo/ Carlos Geraldo/ Netinho) 3:36
2. Lar de Maravilhas (Aroldo/ Carlos Geraldo/ Netinho/ Pisca) 6:15
3. Liberdade Espacial (Carlos Geraldo/ Catalau/ Netinho) 2:20
4. Astralização (Netinho/ Pisca) 5:30
5. Cilindro Cônico (Carlos Geraldo/ Netinho) 5:09
6. Vale Verde (Netinho/ Pisca) 6:55
7. Raios de Lua (Catalau/ Netinho/ Pisca) 3:00
8. Epidemia de Rock (Aroldo/ Catalau/ Netinho) 3:00
9. O Sol (Aroldo/ Carlos Geraldo/ Netinho)
10. Reflexo Ativo (Pisca) 7:56

>> Vou Morar no Ar (Aroldo/ Carlos Geraldo/ Netinho) por Carlus Campos

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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