A cantora paulista Blubell costuma dizer que, na infância, brincava de boneca ouvindo Ella Fitzgerald. A intimidade com o som desta e de outras divas, acabaram por lhe dar um sotaque refinado, que combina perfeitamente com sua voz peculiarmente aguda. Com dois discos gravados, com destaque para o elogiadíssimo Eu sou do tempo que a gente se telefonava (2011), ela agora chega ponto mais alto da sua intimidade com o jazz.

Lançado pelo selo Borandá, o disco Bluebell & Black Tie traz a cantora de 35 anos acompanhada de um trio formado por Mario Manga, Fábio Tagliaferri e Swami Jr. Espécie de reencarnação do Música Ligeira (grupo que contava com Manga e Fábio), o Black Tie se reveza em muitas cordas – ukulele, violão, baixo, cello – para fazer um som cheio, criativo e sem invencionices. Propondo uma espécie de jazz radiofônico, ou pop sofisticado, os quatro buscaram um repertório que fosse divertido, ao mesmo tempo, para quem ouve e para quem toca.

Com perdão pelo clichê, o resultado foi um gol de placa. Numa mesma pegada, o disco passa da desconhecida Yokohama girl, do paulistano Ignacio Zatz, para o hino My generation, do The Who. Por se tratar de um disco de jazz, há espaço também para standards de Cole Porter (Love for sale) e Edith Piaf (La vie em rose). Para dar uma incrementada, tem ainda Michael Jackson (Ben), George Harrison (Long long long) e Nelson Cavaquinho (Luz negra). Que tal ainda Those were the days, sucesso de Mary Hopkin, imortalizado no Brasil no programa Show de Calouros (aquela do “a Sonia Lima la la la la”). De autoral, apenas Blue, de Bluebell, e Here, de Taglieaferri e Rodrigo Rodrigues, que se adaptam perfeitamente ao clima caloroso desta parceria.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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