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Pra mal e para bem, é do Pará que estão saindo as últimas “novidades” da música brasileira. Para bem por que, enfim, deve ter chegado o momento do Brasil olhar para o que acontece em outras praças, que não as cariocas e paulistas. Embora sejam esse dois espaços, ainda, os grande aglutinadores do que acontece por aqui em termos de música, é muito limitador achar que não existe mais nada acontecendo fora de Copacabana ou da Avenida Paulista. Por outro lado, voltando ao Pará, a julgar pela neo diva Gaby Amarantos, ainda é difícil para essa nova leva de artistas separar o que seja estética e raíz do que seja apenas apelação e propaganda. Nessa luta, em muitos momentos, o bom gosto tem perdido.

Ainda bem pouco conhecida, Luê Nayá Jansen Soares parece ter encontrado o ponto exato para a música da sua terra e busca fugir dos estereótipos. Sem roupas espalhafatosas, letras jocosas de corno ou presença maciça na TV (pelo menos por enquanto), a cantora e musicista de 24 anos acaba de lançar seu disco de estreia, A fim de onda, com apoio do programa Natura Musical. A estreia fonográfica, no entanto, coroa uma estrada que começou aos 9 anos, quando ela entrou para o Conservatório Carlos Gomes para estudar violino. Filha do músico Júnior Soares, Luê investiu na carreira de musicista até cerca de quatro anos, quando começou a assumir também o microfone com sua voz leve, doce e afinada, que faz lembrar algo de Roberta Sá.

lueafimdeondaProduzido por Betão Aguiar, To  a fim de onda expõe uma cantora que sabe aproveitar suas boas raízes musicais sem perder de vista o que está acontecendo. Com forte acento pop, o disco chama atenção pelo balanço e pela lista de músicos que desfilam pelas 10 faixas. A fim de onda (Arnaldo Antunes/ Betão Aguiar/ Luê), apesar da letra boba e pegajosa, tem balanço bacana e é adornada pelo trompete inspirado de Guizado. Do mestre Alípio Martins (e Jesus Couto), Onde andará você é um autêntico carimbó paraense, que conta com Pupillo na bateria e o Cidadão Instigado Régis Damasceno nas guitarras. Já gravada por Jussara Silveira, a balada Bom (André Carvalho/ Quinho) ganha a sanfona de Toninho Ferraguti e as baquetas de Curumin. O baterista também comparece no carimbó Cabeça (Leonardo Reis/ Peu Meurray), guiada pela guitarra de Felipe Cordeiro. Espécie de farol da nova música paraense, Felipe é o autor de Sei lá e divide as guitarras da canção com o pai Manoel Cordeiro. Por falar em pai, Junior Soares, compõe (com Ronaldo Silva) e toca violões em Nós dois, onde Luê também toca sua rabeca. De André Carvalho, Prática é um instante de elevação e oração, que conta com a presença sempre inspiradora de Edgard Scandurra. O ex-Ira! também faz bonito na balançada Se colar (Felipe Cordeiro/ Betão Aguiar/ Luê). Luê encerra seu disco de estreia com Cavalo marinho (Ronaldo Silva/ Renato Torres) jogando peso e personalidade numa canção que tem o pé na tradição. Se a música paraense ainda não sabia o que fazer daqui pra frente, eis aqui algumas boas ideias.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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