Tropicalia ou panis et circencis 1968 (capa)

No fim da década de 1960, a música brasileira era disputada por dois times bem antagonicos. Um deles, o dos puristas, queria que as raízes do samba e do choro fossem preservadas e defendidas da invasão pop internacional. O outro time queria que essa invasão, protagonizada por Beatles, Rolling Stones e The Who, entre outros, chegasse com tudo. Para inflamar ainda mais essa disputa, era também época de Ditadura Militar, dos grandes festivais de música, da música de protesto, de Chico Buarque, Beatles, Elis Regina, Rolling Stones, Roberto e Erasmo Carlos. No meio desse turbilhão de informação, faltava no Brasil um ponto de convergência, que pegasse todas essas informações e as amplificasse. Isso aconteceu em 1967, com a presença polêmica dos músicos baianos no Festival de Música Popular da TV Record. Dominados pelo desejo da mistura, da falta de pudores estéticos e da vontade de dar um passo adiante na cultura nacional, eles pegaram tudo aquilo que estava acontecendo, resgataram o que já havia acontecido, e inventaram um futuro. A essa bagunça organizada foi dado o nome de Tropicalismo, movimento artístico sintetizado num disco lançado no ano seguinte. O disco-manifesto Tropicália ou Panis et Circencis representou no Brasil um grande Carnaval de ideias, que envolviam, além da música, as artes plásticas, a moda, a literatura e outros elementos. Sã 12 faixas que apresentam as letras e/ou as vozes de Gal Costa, Tom Zé, Gilberto Gil, Torquato Neto, Rogério Duprat e os Mutantes. Para dar liga a esse time, Caetano Veloso funcionava como um mentor do movimento. Nara Leão, musa bossanovista de olhar atento para as mudanças, também participa do trabalho cantando a moda lisérgica Lindonéia. Moderno, brasileiro, roqueiro, Tropicália ou Panis et Circencis ainda hoje é motivo de estudos, discordâncias, ódios e amores. O incômodo que causou na época, inclusive levando Caetano e Gil para o exílio em Londres, parece ainda vivo, tantos anos depois. Tão vivo quanto a obra daqueles jovens malucos, que queriam fazer seu som sem amarras temporais ou prisões. Tudo era possível. Tudo era permitido.

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=YvrdfkMzLg0[/youtube]

Faixas:

1. Misere Nobis (Capinan/ Gilberto Gil)
2. Coração materno (Vicente Celestino)
3. Panis et circenses (Caetano Veloso/ Gilberto Gil)
4. Lindonéia (Caetano Veloso)
5. Parque industrial (Tom Zé)
6. Geléia geral (Gilberto Gil/ Torquato Neto)
7. Baby (Caetano Veloso)
8. Três Caravelas (Las tres carabelas) (E.Moreu/ A.Alguerô Jr.)
9. Enquanto seu lobo não vem (Caetano Veloso)
10. Mamãe coragem (Caetano Veloso/ Torquato Neto)
11. Bat macumba (Caetano Veloso/ Gilberto Gil)
12. Hino ao Senhor do Bonfim (Petion de Vilar/ João A. Wanderley)

>> Lindonéia (Caetano Veloso) por Carlus Campos

lindoneia01

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles