Virtuosa para uns, chata e modorrenta para outros, a música progressiva também ganhou seus adeptos no Brasil. Nos anos 1970, principalmente, muitos grupos aderiram ao estilo e levaram suas carreiras com um som calcado em imensas camas de teclados, solos viajantes de guitarra e letras pregando a paz, o amor e o sorriso. E, certamente, o nome mais importante do progressivo nacional foi o Terço. Formada no finzinho da década de 1960, o trio carioca pensou no número de integrantes na hora de escolher um nome para se batizar. Antes eles cogitaram Santíssima Trindade, mas temeram os protestos da Igreja.

Participando e vencendo muitos festivais da época, o grupo se formou a partir de músicos de outras bandas, hoje, já esquecidas. O baixista Sérgio Hinds integrava os Hot Dogs, enquanto o guitarrista Jorge Amidem e o baterista Vinicius Cantuária faziam parte do Joint Stock Co. Com essa formação, eles lançaram um primeiro disco em 1970, cujo som era voltado para o rock mais cru, apesar dos flertes com a música erudita. No entanto, logo adiante, uma das principais características do Terço começou a florescer: as incontroláveis entradas e saídas de músicos.

Logo no segundo disco, Amidem seria substituído por César das Mercês, e, com ele, o Terço iria fazer uma turnê com Marcos Valle e participar do disco Vento Sul, de 1972. No ano seguinte, eles iriam lançar seu segundo disco, agora mais influenciados pelo som progressivo. Um dos momentos mais representativos desse período é a faixa Amanhecer Total: Despertar pro sonho, cujos 19 minutos passam por seis movimentos. A canção, cheia de climas soturnos, efeitos lisérgicos e vocais harmônicos, conta com a participação de Patrícia Valle, Luiz Paulo Simas e Chico Batera.

Outras formações viriam trazendo uma aproximação d’O Terço com o que ficou conhecido como rock rural. Daí também viriam os reforços de Flávio Venturini, Sérgio Magrão, que depois formariam a banda 14 Bis. Com eles, o trio lançaria alguns dos seus trabalhos mais celebrados: Criaturas da Noite (1975) e Casa encantada (1976). Embora tenha perdido a mão do sucesso nos anos 1970, quando lotaram alguns estádios pela América Latina, o Terço permanece vivo, tendo apenas Sérgio Hinds como sobrevivente da formação original. Depois de 2001, Flávio Venturini, César das Mercês e outros ex-membros também voltaram a se reunir para apresentações e até gravaram um disco ao vivo, lançado em 2007. Como um sonho do qual não se quer acordar, o Terço é um capítulo marcante do rock nacional, que merece ser relido de tempos em tempos.

Faixas:
1. Deus (Cézar de Mercês/ Vinicius Cantuária/ Sergio Hinds)
2. Você aí (Cézar de Mercês)
3. Estrada vazia (Ezequiel/ Vinicius Cantuária)
4. Lagoa das Lontras (Vinicius Cantuária/ Sergio Hinds)
5. Rock do Elvis (Ezequiel/ Vinicius Cantuária)
6. Amanhecer total: Despertar pro sonho (Cézar de Mercês)

>> Amanhecer total: Despertar pro sonho (Cézar de Mercês) por Carlus Campos

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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