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Essa entrevista está guardada comigo desde julho e não foi publicada antes por contas minhas férias e da correria da volta. Somente por isso. Quanto ao disco, ouvi muito pouco e, num primeiro momento, não me impressionou. Melhor não comentar por enquanto. Ouvirei mais e depois escrevo algo por aqui. A conversa aconteceu por email, infelizmente. Mas agora está aqui. Vamos lá.

DISCOGRAFIA – Queria que você nos contasse um pouco sobre as sensações que você teve ao longo da sua participação no The Voice. O dia que soube que iria participar do programa, o dia que foi escolhida para o time do Carlinhos Brown e, claro, a vitória. Como foi cada momento desses?
Ellen – As palavras num dão conta de desenhar o que acontecia no meu peito. Emoção. Cada etapa teve um gostinho especial. Por poder participar, por ser escolhida pelo público, por ser indicada pelo meu técnico Carlinhos Brown… Por ouvir meu nome anunciado como vencedora, por encontrar pessoas nas ruas que se encantaram com a canção. Tudo isso é muito emocionante.

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DISCOGRAFIA – Pra muita gente, esse disco pós-The Voice é seu primeiro trabalho. No entanto, você um anterior, de 2009, e um DVD. Queria que você falasse um pouco desses trabalhos anteriores ao estouro na TV.
Ellen – Sempre trabalhei. Trabalho desde os quatorze anos de idade. Com a música, desde os dezessete. Compus dois coletivos de artistas em Brasília, minha cidade natal, onde pude “laboratoriar” meu som em diversas estampas. Em 2009 gravei, com dinheiro de cachês e o investimento de amigos músicos (a banda pret.utu) meu primeiro disco. Seu nome: Peça. Totalmente independente. Produção de Rodrigo Bezerra, coprodução de Marcos Pagani. O projeto é fruto de pesquisa musical envolvendo diversos ritmos: samba, bossa, hip-hop e pop presentes já individualmente no trabalho realizado por cada uma e é quando me apresento como compositora. Em 2010 fiz um registro com a banda Soatá, uma mistura bem inusitada pra mim. Nunca pensei que pudesse cantar rock. A Soatá me mostrou que sim. O carimbó, o marabaixo e tantas outras levadas ganham a distorção das guitarras e balanço do funk. A poesia embaçada de Jonas Santos, paraense poderoso em poetar, e esses ritmos típicos do norte do Brasil ganham um tempero candango pesado e isso dá origem a Soatá. É uma espécie de “rockarimbó” ou “funckarimbeat”. O disco é produzido por Riti Santiago (batera do Cambio Negro) e coproduzido pela banda Soatá. Junto com a Soatá, também participei de um DVD que não ficou pronto ainda (produzido por Marcos Pagani) e um filme feito no final do ano passado. Em 2011, gravei o primeiro DVD a banda Pret.utu esteve junto em tudo e tivemos a participação de Hamilton de Holanda e Emicida, queridos nossos. Muitas ideias e muita disposição pro trabalho artístico em resultados gratificantes. O The Voice chega como uma grande possibilidade de mostrar o que temos pesquisado.

Capa_CD_Ellen_OleriaDISCOGRAFIA – No disco que você está lançando pela Universal, tem canções autorais e covers variados. Como nasceu esse repertório? Foi fácil chegar a essas 12 faixas?
Ellen – Montar um repertório nunca é uma coisa fácil. Passamos dias conversando e pensando no que poderíamos usar pra construir um projeto que me identificasse com minhas influências, ou seja, com caráter moderno e bem brasileiro no jeitinho de misturar as tradições e acho que chegamos num belo encontro de águas. Passamos por meus trabalhos já lançados, versões de grandes sucessos, compositores ainda não estourados no cenário nacional e canções minhas inéditas. Os frutos são satisfação e alegria! O disco tá bem bonito. Claro, eu sou suspeita pra falar, então espero que o povo escute e sinta o que tenho sentido em cada faixa. E mais!

DISCOGRAFIA – Como foi esse contato com o Carlinhos Brown, durante e depois do programa? Quem sugeriu Aqui é o País do Futebol pra vocês cantarem juntos?
Ellen – A faixa é parte de uma sequência que eu já interpretava com a banda. O nome de Carlinhos Brown surgiu muito naturalmente, como foi também todo meu encontro com ele, durante o programa ou fora dele, em palcos que dividimos na Bahia e em Brasília. Compartilhar o estúdio com um mestre do cancioneiro popular é pra encher o trabalho da grandiosidade que esse artista carrega. Sem a necessidade e usar hipérboles, é fato indiscutível a expressão do trabalho de Brown, nacional e internacionalmente. A canção que fala do amor do povo brasileiro pelo futebol e que é sutil em falar de questões sociais muito contundentes no dia-a-dia do povo, faz a canção cair como uma luva pro dueto. É só ver como o suingue no beat box ou nas congas define a direção do groove. Brown é mesmo como um grande líder de torcida e sinto que ele me apresenta com carinho verdadeiro.

DISCOGRAFIA – Nesse novo disco você trabalha com gente “grande” da indústria fonográfica. Paul Ralphes, Alexandre Castilho, Torquato Mariano, Zé Bigorna e outros. Como você fez para manter também a personalidade artística que você já vinha trabalhando antes?
Ellen – Não sei! Tem coisa que a gente num pensa muito. Só deixa acontecer e vê no que dá. Acredito que a equipe toda me recebeu com muito respeito, o mesmo respeito que tive com eles também. Acho que na hora de fazer música isso é importante. Claro que anos de experiência na vida dão condições pra esses feras indicarem rotas. Estive pronta pra ouvir. E saber falar também é importante pra manter o desejo em dia. Minha mãe costuma dizer que ninguém sabe o que calado quer.

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DISCOGRAFIA – Junto com programa, o disco, vem também uma exposição grande na mídia. Isso te incomoda de alguma forma? Como você faz para manter sua vida particular longe dos holofotes?
Ellen – Nada é cem por cento positivo. Nada mesmo. A super exposição traz desafios que varrem de vez em quando a purpurina e o glamour que acompanham os últimos eventos que vivi. A violência gratuita na internet, que muitas vezes é uma resposta dos incomodados com o impacto da minha imagem não-padrão em espaços muito restritos e de privilégios, a minha personalidade que num me permite me calar diante de determinadas situações, tudo isso parece que alavanca as ações agressivas de gente com perfil ditatorial. Sou um tanto atrevida, eu sei. E isso incomoda muita gente. Graças às forças divinas, isso agrada outras tantas também! À essa gente que me cerca de cuidados eu chamo de aliados. Tudo que envolve minha vida é pessoal. Num me separo em dimensões pública/privada. Sou toda, inteira. Minha ocupação está em zelar pelo sossego de quem amo. Estive com toda minha intimidade exposta. Estou falando da coisa que faço que mais envolve minha individualidade: a música. Quem já foi num show meu sabe que me jogo! Na íntegra.

DISCOGRAFIA – Há alguns anos, você esteve em Fortaleza cantando na Feira da Música. O que lembra dessa visita ao Ceará?
Ellen – Fortaleza é um presente na trajetória. Estive na feira com a banda Soatá e no ano seguinte com meu projeto autoral e a banda Pret.utu. Tocamos no meio da rua e encontramos um povo disponível, que cantava e dançava conosco. Lembro que o show com a Pret.utu foi transmitido pela rádio nacional e comecei a receber mensagens loucas de gente de outros cantos do país dizendo que tavam ouvindo e que o som tava uma pedrada! Rock in roll! Recentemente, depois do programa de TV, estivemos na Praia do Futuro, na barraca Biruta! Dividimos a noite com o amado Seu Jorge e foi incrível! Grande parte da família do nosso baterista Célio Maciel é de Fortal. Então… em Fortaleza é sempre lindo!

DISCOGRAFIA – Depois desse trabalho, que veio junto de muita expectativa, o que você planeja e espera para a carreira?
Ellen – Quero ter sabedoria pra construir minha caminhada no mundo exercitando a felicidade enquanto um conceito coletivo. As gerações anteriores a nós estavam buscando espaços pra falar. Nossa geração tem que descobrir o dizer em tanto espaço. É meu desafio como profissional, como pessoa.

DISCOGRAFIA – Qual o seu maior sonho como artista?
Ellen – Tenho trinta anos e me vejo fazendo o que sonhei ainda pequena. Tocar com grandes ídolos sempre foi um sonho. E posso dizer que hoje, minhas maiores referências na música dividem o palco comigo. Um obrigada a todas as figuras preciosas que trocaram abraços, sorrisos e lágrimas. Sonho um: ok! Vamos ver o que a vida me reserva. Estou no lucro!

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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