6d510016-3358-4959-b7a9-5061b330d0d3Tivesse nascido nos Estados Unidos da América, talvez Leny Andrade fosse reconhecida como uma das grandes divas do jazz internacional. Se parece exagero, não é o que diz, por exemplo, o crooner Tony Bennett. Ele, no auge dos seus 80 anos de vida, diz que ela é a “Ella Fitzgerald brasileira” e nunca perde um show da amiga carioca. Outros artistas, como Liza Minelli, Paquito D’Rivera e Dee Dee Bridgewater, fazem coro e reconhecem na brasileira uma das grandes vozes a viajar pelo mundo.

No entanto, Leny Andrade parece manter uma leitura ambígua para esse posto de diva. Por telefone, ao conversar sobre a turnê que vai passar por Juazeiro do Norte (26), Sobral (27) e Fortaleza (28), e depois seguir para Paris e Japão, ela faz questão de enumerar os grandes feitos da carreira que passa dos 50 anos, mas não deixa de se divertir com as simplicidades. “O meu terror é a mala”, brinca sobre a necessidade de arrumar o figurino para passar por tantos climas.

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Com 70 anos de vida completados em janeiro deste ano, Leny Andrade mantém uma agenda cheia de compromissos que dão uma volta ao mundo. Em Nova York, onde já manteve um apartamento, ela é presença garantida. “Eu não posso ir nem pra fazer uma festinha. O povo se inteira que eu estou lá e sempre arranja algo pra eu fazer”, revela num misto de orgulho e descaso. Depois revela que se desfez do imóvel americano por conta do valor dos dois impostos de renda, o que paga no Brasil e o que paga no exterior. “Com um metro e 48 centímetros, tu acha que eu vou brigar com um leão?”, dispara entre risadas.

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À medida que a conversa vai avançando, Leny Andrade trata de outros assuntos, pouco prováveis, como os dias a mais que pretende passar “bundeando” pelo Ceará, o prazer de dormir sozinha, espiritualidade, mensalão (“fiquei broxa com aquilo”) e o personagem Félix, interpretado por Mateus Solano na novela Amor à vida – “sou fã do Félix. Acho impressionante aquele viado. Ele faz com tanta classe”. Mas, sim, ela também fala de música e aproveita pra elogiar o pianista Tito Freitas, que a acompanha nos shows do Ceará. “O Tito é amigo de longa data. Um excelente pianista, um leitor (de partituras) maravilhoso. Tanto que ele passou de mim pro Pery (Ribeiro), depois pro Emílio (Santiago) e o Emílio não quis mais soltar”.

Ainda sobre música, Leny adianta que já começa a apresentar os dois projetos que deve lançar em breve. O primeiro é um disco em espanhol com músicas de Roberto Carlos. Feito a convite da gravadora Albatroz (de Roberto Menescal), ela deveria fazer uma participação ao lado de outras cantoras. Mas, quando ouviram sua voz naquele repertório, dispensaram as outras vozes. O segundo projeto é um tributo a Ivan Lins e Vitor Martins, batizado de Iluminados. Enquanto cantarola a canção-título (“O amor junta os pedaços quando um coração se quebra. Mesmo que seja de aço, mesmo que seja de pedra”), Leny solta “elogios” aos versos de Vitor. “Aquele bêbado divino, que escreve música como um fila da puta. Tem horas que eu tenho é que bater nele”.

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=zrsMyvW4mlA[/youtube] A propósito, Leny Andrade comenta que raramente se sente à vontade para falar palavrão em entrevistas. Mas ainda deixa escapar um ou outro para reafirmar seu posto de estrela da música. Do início, no mitológico Beco das Garrafas, até os principais festivais de jazz do mundo, passando pelos cinco anos que morou no México para trabalhar com Astor Piazzolla (1921 – 1992), ela conta que só tem a agradecer e seguir em frente. “Imagina, com 50 anos de música dá pra passear por muitas coisas. O importante é que o público fique satisfeito”. E pra isso, os 70 anos só têm feito ela apurar mais seu ofício. “Por sorte já me livrei daquela idade embaraçosa do ano passado”.

Serviço:
Sobral (Escola Educar SESC: Avenida Dom Lourenço, 855 – Campo dos Velhos)
Quando: sexta (27), às 20h
Quanto: 2 kg de alimentos (sócio); R$ 10 mais 2kg de alimentos (não sócio); R$ 5, mais 2kg de alimentos (estudante)
Outras informações: (88) 36110954

Fortaleza (R. Clarindo de Queiroz, 1740 – Centro)
Quando: sábado (28), às 20h
Quanto: R$ 10 (comerciário); R$ 15 (conveniado); R$ 20 (usuário inteira); R$ 10 (usuário meia)
Informações: 34649316

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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