1 Daniela Procopio Gueixa TropicalNatural de São Paulo, mas radicada no Rio de Janeiro, Daniela Procópio estreou oficialmente na música há cinco anos, com um disco onde buscava certa nobreza para o afoxé. Com arranjos preciosos de Eumir Deodato, salpicados com toques de jazz, a cantora e compositora fez um trabalho independente, que juntava seus belos agudos ao balanço do ritmo baiano, fazendo com que ambos convivessem em harmonia. O resultado deu certo e o disco, batizado apenas com o nome dela, tem bons momentos.

No recente Gueixa tropical, segundo parto independente, a bela morena volta a propor misturas curiosas, dessa vez unindo os sons de uma Amazônia indígena com um oriente distante. Essa viagem, aparentemente desconexa, tem paradas sedutoras em outras culturas, com destaque para as latinidades dos arredores brasileiros. “A cultura indígena do Brasil e a japonesa complementam-se por serem exatamente opostas. E, mesmo assim são tão ligadas, tendo claras similaridades como o bater dos tambores, o sopro das flautas de madeira, a pele lisa e os olhos puxados de seus filhos”, explica Daniela nos agradecimentos.

Assim como aconteceu na estreia, a cantora teve ajudas valiosas para construir sua Gueixa tropical. Moraes Moreira cedeu o choro Foi tanto carinho e Tadinho, com cara de Novos Baianos. Para esta, o compositor botou seu violão cada vez mais brasileiro ao lado do bandolim iluminado de Armandinho. Este também comparece em Noite mansa, parceria sua com Daniela e Maria Vasco (prima da cantora), que também cheira a Novos Baianos.

danielaprocopiogueixatropicalOutra participação fundamental foi de João Donato, com o seu sempre delicado piano em Adeus. O bolero tinha mais de 30 anos, até ser resgatado para ganhar letra de Daniela e Eugenio Dale. Carlinhos Brown, convidado do disco anterior, é parceiro da cantora (junto com Dale) em Outro mar, outro amor, momento mais pop radiofônico, mas de rara beleza. Instrumentos japoneses (como um violino feito de couro de cobra) se chegam no arranjo para causar uma bem-vinda estranheza.

Daniela Procópio se revela uma interprete de muitos recursos, sabendo domar os agudos e mergulhar firme nos graves. Dois momentos exclusivamente de intérprete, em especial, revelam isso. De Henri Salvador, Syracuse foi uma sugestão de Nelson Motta para a cantora, que deu à canção um banho de intimismo, climas orientais e oníricos. Colada nesta vem Alma mia, do repertório do cubano Bola de Nieve, refeita num arranjo de piano e violoncelo de fazer lágrimas.

A ideia de Gueixa tropical é apresentar uma brasileira de ascendência indígena, que se apaixona pelos costumes orientais. Nesse percurso, o disco cai em clichês e cresce em termos sonoros. A única bola fora fica com o encerramento deslocado com o reggae We are in love, totalmente sem propósito. Em dueto com a voz bizarra de Luciana Pestano, a música pode ser ignorada sem deixar nada a dever. Deixando esta faixa de lado, todo o disco parece sim uma grande história de amor.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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