14095 - COMPOSITOR - CEARÁ - K - ZEm 2007, a Prefeitura de Fortaleza homenageou o compositor Lauro Maia com o Carnaval do Balanceio. Com direito a decoração temática e show do Neguinho da Beija-Flor, a homenagem, bastante merecida, resgatava a memória de uma das figuras mais importantes da história musical cearense. Autor de clássicos como Trem de ferro e Deus me perdoe, foi o escolhido daquele ano por conta dos 65 anos de aniversário do estilo que ajudou a propagar, o balanceio.

Curiosamente, hoje, dia em que o compositor completaria seus 100 anos de nascimento, pouca coisa está sendo feita para relembrar sua obra. Uma delas é a entrega da Medalha Lauro Maia, comenda da Comissão de Educação e Cultura da Câmara Municipal de Fortaleza para as pessoas e entidades que contribuem para a música no Estado. Os agraciados de 2013 serão conhecidos no próximo dia 22, data em que se comemora o Dia da Música. Outra homenagem é fruto de uma parceria da SECULT com os Correios, que vão confeccionar um selo e um carimbo postal alusivos ao centenário do compositor. Além disso, até agora, nada.

O descuido com o aniversário de Lauro Maia é sintomático do pouco caso com que é tratada a memória da música popular por estas bandas do País. E olha que motivos para homenagear este compositor não faltam. Nascido época em que Fortaleza cruzava pesadas transformações políticas e sociais, o compositor começou a ter suas primeiras lições de música ainda em casa, com a mãe pianista, Laura. Como o garoto, ainda com 10 anos, não se mostrava muito interessado, ela o passou para outra professora. Tempos depois, o interesse cresceu e ela voltou a dar aulas para o filho.

A estreia de Lauro Maia diante de uma plateia aconteceu por acaso. Contando menos de 16 anos, ele foi convidado para substituir o pianista do Cine Majestic, que havia faltado. Deu certo e, dali em diante, seguiu se apresentando em diversos palcos e rádios locais. Tempos depois, dividido entre o oscilante curso de Direito e o trabalho na Diretoria de Viação e Obras Públicas do Estado, passou a abraçar o ofício de compositor, se destacando como fino carnavalesco. Em 1942, chegou a ganhar uma escola de samba com o seu nome, homenagem do amigo músico Andrade “Canelinha” Júnior.

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Pouquíssimas coisas gravadas pelo próprio Lauro Maia resistiram ao tempo. Por outro lado, são muitos os intérpretes que deram voz ao seu repertório, principalmente as grandes vozes da Era de Ouro do Rádio. Orlando Silva, nada menos que “o cantor das multidões”, foi um deles.  Um dos grandes cartazes brasileiros daqueles anos 1940 e 50, ele lançou Febre de amor e Quando dois destinos divergem, entre outras. Apelidada por Luiz Gonzaga como “a princesinha do baião”, Claudette Soares também entrou para eu time de intérpretes, com Trem de ferro, que também foi gravada por ninguém menos que João Gilberto. Junto com Marlene, Nara Leão e Demônios da Garoa, o grupo de intérpretes de Lauro Maia tem destaque para o quinteto 4 Azes e 1 Coringa, que deu voz a muitas músicas do cearense. Cunhado de Humberto Teixeira, Lauro Maia também compôs muitas coisas com o célebre parceiro de Luiz Gonzaga.

Lauro MaiaEm 1993, o músico Calé Alencar decidiu homenagear seu conterrâneo com um grande projeto em disco e livro. Lauro Maia – 80 anos teve como cartão de apresentação um LP duplo (depois reeditado em CD) com gravações originais de Ciro Monteiro, Namorados da Lua e outros, e regravações inéditas de Ednardo, Fagner, Falcão e outros. O trabalho, recheado com um encarte luxuoso escrito pelo pesquisador Nirez (que tem dois livros escritos sobre o compositor), trouxe para as novas gerações a história de um dos mais importantes nomes da música cearense, com forte notoriedade na cena brasileira. História essa que parece ter sido esquecida nos 100 anos de Lauro Maia.

P.S.: Existe uma imprecisão quanto ao verdadeiro mês do nascimento de Lauro Maia. A certidão de nascimento diz que é novembro, mas o registro civil diz que é setembro. Segundo Nirez, biógrafo do compositor, a confusão pode ter acontecido na hora de passar a limpo as informações. Como era tudo feito a mão, o mês 9 (setembro) pode ter sido substituído por novembro (mês 11). Como Lauro perdeu o pai muito cedo, coube ao avô ditar as informações para os dois documentos. Embora não se tenha chegado a um consenso sobre o assunto, a data da certidão de nascimento é a mais usada.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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