foto(3)Mais do que um apanhado de boas canções, o disco Meu corpo minha embalagem todo gasto na viagem tornou-se um marco, um símbolo de uma geração de artistas que ganhou o nome de Pessoal do Ceará. Em 2013, esse disco completa 40 anos e uma das comemorações aconteceu na Caixa Cultural, ao longo do último fim de semana. Começou na sexta-feira (6), com uma roda de conversa, que atraiu um público mínimo, e seguiu com uma seção solene promovida pela Câmara dos Vereadores.

No entanto, o grande momento estava guardado para a noite, quando o cantor e compositor Rodger Rogério e a cantora Teti subiriam ao palco para cantar aquelas canções que, passadas quatro décadas, ainda dizem tanto sobre uma época e uma cidade que já não existem mais. Um misto de nostalgia e saudade tomava conta do público, agora ocupando a maioria das cadeiras do teatro da Caixa. Mas também havia o orgulho de ouvir seu sotaque ser cantado por dois protagonistas dessa história. Tanto que um arrepio descia pelo braço sempre que se ouvia Teti dizer “piquinino” e não “pequenino”.

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Ednardo, terça parte desse Pessoal do Ceará, não pode estar presente. Logo, coube a Rodger abrir a apresentação com Terral. Cada vez mais seguro do próprio canto, ele deixava a voz escorregar pela melodia e alternava momentos de agressividade com outros mais mansos. Se parecia insegura no começo, logo Teti também encontrou um público saudoso da sua presença e deixou que a música a guiasse. “A felicidade é uma arma quente”, afirmava a cantora com a certeza nos olhos.

A banda que guiou o show é um capítulo à parte. Não havia erros. Manassés no violão e Cristiano Pinho na guitarra valiam, juntos, por uma orquestra. Um duo discreto de virtuoses muito bem seguro na bateria de Denilson Lopes e no baixo de Miquéias dos Santos. Com esses quatro no palco, Rodger e Teti se revezavam no microfone fazendo um entra e sai, que até pareceu excessivo. Melhor seria se as canções fossem separadas em blocos para que se pudesse saborear melhor a presença dessas duas vozes imprescindíveis.

Tanto é que, quando os dois se encontravam no palco, toda aquela música parecia fazer mais sentido. Parecia que aqueles anos 1970 ainda estavam vivos. Era impossível segurar a emoção de ver Rodger cantando Falando da vida com Teti fazendo os vocais. Com o microfone posicionado de lado para a plateia, ela olhava para ele e não segurava o sorriso de cumplicidade. Quantas histórias não ficavam nas entrelinhas das canções…

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O final, em clima de apoteose, reuniu Rodger, Teti e o filho Pedro Rogério no palco. Pedro é um militante da preservação da memória da música cearense e sabia da importância daquele momento. Cada música, de Cavalo ferro a Dono dos teus olhos, era como um hino, uma bandeira. E isso era tudo que importava, deixando até eventuais desencontros passarem despercebidos. Com a temporada se estendendo até a noite do domingo (8), só resta agora torcer para que outra apresentação dessas não espere até o aniversário de 50 anos desse Meu corpo minha embalagem todo gasto na viagem.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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