MULHERES_NEGRAS_por_eden_barbosa-20

Fotos de Eden Barbosa

“Nosso objetivo é fazer música pop e quem sabe algum dia ficar rico e xarope”. A frase irônica, tirada de Xarope, a levada, do disco Música e Ciência (1988), foi escolhida para encerrar o show que os Mulheres Negras apresentaram este fim de semana na Caixa Cultural. Aliás, ironia parece ser a matéria-prima fundamental desta dupla que se auto intitula a terceira menor big band do mundo. O DISCOGRAFIA acompanhou a estreia da temporada, na sexta-feira (13), junto com o público que ocupou pouco mais de metade das cadeiras do teatro.

Os Mulheres Negras se resumem aos paulistas Maurício Pereira e André Abujamra. Eles começaram a parceria nos anos 1980, se separaram e passaram mais de 20 anos separados. O retorno aconteceu no ano passado. Com apenas dois discos, eles MULHERES_NEGRAS_por_eden_barbosa-38chacoalharam a cena musical dominada pelo rock nacional com um som feito a base de guitarra, saxofone e bases programadas. Só isso e muita teatralidade, figurino assumidamente ridículo (chapéu de palha e pesados capotões), doses absurdas de bom humor e, mais uma vez, muita ironia. Chega a ser difícil saber quando eles estão falando sério. “Se vocês não participarem, eu vou aí dar porrada em vocês”, ameaçou André diante da plateia impressionada.

Em grande parte, a plateia estava impressionada por que tinha muita coisa para absorver naquele show, curiosamente, minimalista. Apenas dois homens, dois instrumentos e metros de fio espalhados pelo chão. Sim, e um ferro de engomar. No entanto, eles fazem muita coisa com esses poucos recursos. Maurício aproveita Arroz, um cover hilário de Rise do Pil, para explicar como nasce o som da banda. Bateria, guitarra base, guitarra rítmica, baixo, tudo vai sendo gravado e encaixado na hora pela dupla. “É assim que a gente ganha dinheiro. Economizando mão-de-obra”, resume.

Com poucos sorrisos, eles parecem interpretar um personagem chamado os Mulheres Negras, que não leva as coisas muito a sério e gosta de tirar sarro com tudo. Num bloco dedicado à Bossa Nova, por exemplo, o que eles menos fizeram foi Bossa Nova. “Olha que eu sou filho do Ravengar”, ameaçou André, filho do ator Antônio Abujamra, que interpretou o perverso bruxo da novela Que rei sou eu?. Eles ainda convidaram voluntários a subir no palco e tocar air guitar (tocar guitarra sem guitarra). Enquanto André tocava de verdade (e muito bem), um corajoso foi lá e deu seu show imaginário. Teve direito até a afinar as cordas inexistentes.

MULHERES_NEGRAS_por_eden_barbosa-106Ao mesmo tempo que o improviso é importante no show dos Mulheres Negras, tudo parece ser milimetricamente pensado. Até a cara de descaso de André e Maurício. Brincando com o fato de ter poucas gravações e de estarem de volta depois de mais de duas décadas separados, eles se limitam a mostrar o que vieram mostrar e pronto. “Estamos fazendo o mesmo repertório dos anos 1980 um pouco por comodismo e um pouco por que o RPM está fazendo o mesmo e se dando bem”, assume Maurício entre as gargalhadas da plateia.

Ainda assim, foi isso que o público foi ver e parece ter ficado satisfeito. Só tetele, Feridas, Porqua mecê, Elza e Milho foram algumas das apresentadas na noite. Embora os músicos não parassem de comentar o fato do público ser pequeno e tímido, bem que eles gostaram de ser aplaudidos de pé depois do bis. Embora fosse difícil saber se o show tinha mesmo acabado.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles