Show Wilson das Neves + BNegãoElegante e discreto, sempre no fundo do palco, o baterista Wilson das Neves é uma estrela que tem adquirido ainda mais brilho nas últimas décadas. Embora rejeite títulos como “mestre” ou “monstro sagrado”, menos que isso seria pouco para se referir ao músico. Ao longo de mais de 60 anos de carreira, ele já tocou com quase todo mundo que importa na música brasileira – como Elis Regina, Chico Buarque, Roberto Carlos e Elizeth Cardoso – e ainda deu canja para astros internacionais do quilate de Sarah Vaughan, Toots Thielemans e Michel Legrand.

E essa lista continua crescendo, tendo como um dos mais novos integrantes o rapper BNegão, membro do fumacento Planet Hemp. Eles não lembram quando foi o primeiro encontro, que certamente aconteceu num show da Orquestra Imperial, da qual Wilson é integrante e BNegão um convidado. A interação da dupla foi tão evidente e natural, que o empresário do baterista logo quis levar à frente a parceria e eles montaram um show juntos, em 2011, que agora vira uma breve turnê, que passa este fim de semana por Fortaleza.

“É um show surpreendente. Apesar de não gostar de ser chamado de mestre, mas ele (Wilson) é mestre sim”, reafirma BNegão (apelido do carioca Bernardo Santos), acrescentando que, assim como o parceiro Marcelo D2, também é um velho fã do samba. “Eu gosto muito de samba cantado de uma forma antigona. Ouço o Dorival Caymmi todo dia”, revela elencando também a geração pagodeira do Cacique de Ramos. Dos discos do novo parceiro de palco, BNegão aponta o antológico dueto com Elza Soares, lançado em 1968. “(Agora) Ele está numa fase absurda, que é de sonzeira. É um disco excelente atrás do outro. É um tipo de samba, que ele é um dos poucos que faz”, elogia.

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A ideia do show de BNegão e Wilson das Neves é de promover um mistura de linguagens, influências e sons. Por, isso o repertório vai de Nelson Cavaquinho aos Seletores de Frequência. Mas, quem dá ordem a esse coreto é mesmo a batida do samba. “No fundo, música é uma integração. Tudo no mundo é música. E, principalmente, a música brasileira, tudo é samba”, filosofa Wilson das Neves, que já nem se surpreende mais com convites para misturar suas baquetas ao som de outros artistas. “Me faz viver mais. Se estão aprovando, é por que estou fazendo alguma coisa que preste”.

Aos 77 anos, Wilson das Neves exercita a modéstia para falar da própria carreira. O longo currículo, que ele inaugurou aos 14 anos, hoje é dividido entre a Orquestra Imperial, Chico Buarque (com quem toca há 17 anos) e dezenas de convites que recebe. Como cantor, ele estreou em 1996, tomou gosto e já lançou três discos onde dá voz às próprias composições (o último foi lançado no ano passado). E tudo por conta do acaso. Em 1996, quando preparava o repertório do disco autoral O som sagrado de Wilson das Neves, ele colocou sua voz como guia, para depois escolher quem iria dar a voz definitiva. Quando chegou com as canções, a gravadora CID achou não havia o que mudar ali. Assim ele se tornou cantor. Show Wilson das Neves + BNegãoBoa parte dessas histórias devem estar presentes no documentário O samba é meu dom, que Cristiano Abud prepara sobre o baterista. “Eles estão fazendo a edição, isso independente de patrocínio. Eles gravaram tudo e eu participando ali. Eu na escola de samba, eu na sinfônica. Ta bacana o negócio”, avalia Wilson das Neves, que garante manter com a bateria a mesma relação que mantinha em início de carreira. Apontando Art Blakey e Edgar Nunes Rocca (“Eu toco bateria por que ele me colocou pra aprender”) como seus bateristas preferidos, Wilson também não dispensa o contato com os novos para aprender coisas novas. “Ninguém é melhor do que ninguém. Cada um é bom no que faz. Não conheço um baterista brasileiro que toque igual a outro”, analisa. Sobre a nova turnê com BNegão, Wilson das Neves resume de forma muito simples. “Ta ótimo. Nós fizemos um show no Circo Voador e deu certo. Agora, tão convidando e nós vamos. A gente só vai onde é convidado que é pra não ser barrado”.

Serviço:
BNegão e Wilson das Neves
Quando: sexta-feira (10) e sábado (11), às 20h; domingo (12), às 19h
Onde: CAIXA Cultural Fortaleza (Av. Pessoa Anta, 287 – Praia de Iracema)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). À venda no local
Outras informações: 3453.2770

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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