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Se o samba é a maior riqueza brasileira, ninguém defendeu mais esse tesouro do que Beth Carvalho. O apelido de “a madrinha do samba” já virou um clichê, mas é inevitável. Mais do que interpretar, ela adotou como missão descobrir, resgatar e dar visibilidade a essa produção. Por isso, essa carioca já dedicou projetos ao samba de São Paulo, ao samba da Bahia, e ao pagode carioca, sendo, inclusive, a responsável pela estreia de Zeca Pagodinho. Antes disso, foi em outro gênero do samba que ela estreou: a bossa nova. Na década de 1960, Beth participou de espetáculos ligados ao gênero, cantou com Taiguara e lançou um compacto com Por quem morreu de amor, de Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal. A consagração viria em 1968, com o sucesso de Andança no Festival Internacional da Canção. Até hoje um enorme sucesso, a canção abriu as portas para um LP de estreia, onde o samba aparecia seguindo as lições de João Gilberto.

O LP saiu em 1969, pela Odeon, e recebeu o título óbvio de Andança, para aproveitar o sucesso da canção. São 12 faixas, que passam por nomes como Vinicius de Moraes, Baden Powell e Paulo César Pinheiro. Até Marcos Valle, na época já mesclando a bossa com os sons negros americanos, aparece como compositor em Maria da Favela. Nome nunca ligado a Beth Carvalho ou ao samba, Milton Nascimento também aparece com um de suas composições mais dramáticas, Sentinela. No disco, o autor mais ligado ao universo do samba era Lupicínio Rodrigues (1914 – 1974), com a tristonha Nunca.

Logo depois de Andança, Beth Carvalho voltaria seu olhar para os morros cariocas. Iria atrás de compositores inéditos, sambas perdidos, personagens que ajudassem a mostrar um Brasil diferente, mais popular, mais distante da praia de Copacabana. E foi assim que ela descobriu pérolas de Cartola, Nelson Cavaquinho, Candeia e tantos outros. Foi também esse o período de maior reconhecimento popular da sambista. As décadas de 1970 e 80 vieram cheias de sucessos estrondosos nas rádios e shows lotados. Sem perder a qualidade, ela se mantém num posto elevado da realeza do samba. Uma defensora do melhor que o Brasil tem guardado.

Faixas:
1. Um amor em cada coração (Baden Powell/ Vinicius de Moraes)
2. Maria Aninha (Fred Falcão/ Paulinho Tapajós)
3. Fechei a porta (Ferreira da Silva/ Sebastião Mota)
4. O porto (Renato Rocha)
5. Carnaval (Carlos Elias/ Nelson Lins e Barros)
6. Andança (Edmundo Souto/ Danilo Caymmi/ Paulinho Tapajós)
7. Rumo sul (Edmundo Souto/ Paulinho Tapajós)
8. Sentinela (Milton Nascimento/ Fernando Brant)
9. Nunca (Lupicínio Rodrigues)
10. Samba do perdão (Baden Powell/ Paulo César Pinheiro)
11. Maria da favela (Paulo Sergio Valle/ Marcos Valle)
12. Estrela do mar (Marino Pinto/ Paulo Soledade)

>> Maria da favela (Paulo Sergio Valle/ Marcos Valle) por Carlus Campos

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About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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