Para os artistas, o passar do tempo é sempre um risco. Há o medo de se repetir, cair na mesmice, se desconectar das novidades. Há os que aproveitam a experiência para se reinventar e outros que diminuem o ritmo e até mudam de rumo enquanto ainda estão no auge. Robertinho de Recife deixou essas preocupações de lado e somente aceitou um convite para voltar a tocar depois de 25 anos longe dos palcos.
Considerado um dos mais virtuosos guitarristas brasileiros de qualquer época, o pernambucano andava afastado dos shows e vinha se dedicando ao próprio estúdio e a uma prolífica carreira de produtor. O retorno aconteceu no Festival de Jazz & Blues, primeiro em Guaramiranga, durante o Carnaval, e, em seguida, em Fortaleza, na noite da sexta-feira (7). Em ambos, o músico revisitou o disco Rapsódia rock, lançado em 1990, que marcou sua, até então, despedida das apresentações.
Para Robertinho de Recife, hoje com 49 anos, esse retorno aos palcos é mais do que somente matar saudades próprias ou dos fãs. É também um ato de superação e coragem. Isso por que, há pouco mais de dois anos, um acidente o obrigou a colocar 18 pinos no braço esquerdo. Além das dores que ainda sente, é notório o esforço que ele precisa para dar conta de executar seu instrumento da mesma forma que fazia décadas atrás.
E ele deu conta com maestria. Vinte e cinco anos depois de apresentar seu Rapsódia Rock ao lado do maestro George Martin, o quinto beatle, Robertinho de Recife executou com uma destreza ímpar um repertório que passeou por Luiz Gonzaga (1912 – 1989), Ary Barroso (1903 – 1964), Maurice Ravel (1875 – 1937) e Carlos Gomes (1836 – 1896). Acompanhado de teclado, baixo e bateria, ele contou ainda com um DJ que reproduzia ruídos e partes de orquestras. Clássico, psicodélico e metaleiro, o guitarrista não dosou o peso do seu som e impressionou a plateia – que não chegou a lotar o Anfiteatro – com sua técnica. Até um tablet, com um aplicativo que simulava sons de guitarra, foi usado na apresentação.
No entanto, para além dos malabarismos sonoros que realiza na guitarra, Robertinho de Recife impressionou pelo jeito simples (com o devido sotaque pernambucano) como conversa com a plateia. O público riu quando ele contou que conheceu Ayrton Senna (1960 – 1994) na época que tocava com a Xuxa e, em seguida, tocou Pole position. “Eu fiz essa tentando ser tão rápido quanto ele (Ayrton)”, explicou o músico, que também não se negou a fazer pose para os fotógrafos.
Além das peças instrumentais dos seus oito discos, Robertinho de Recife reservou algumas surpresas para o público formado, principalmente, por antigos fãs. Uma delas foi quando teu o tom de Revelação (Clodô/ Clésio) para que o público cantasse os versos que ficaram conhecidos na voz de Fagner. Depois ele chamou Fausto Nilo para o palco. Muito emocionado, o compositor cearense, parceiro de Robertinho em Flor da paisagem e outras, falou da emoção de ver o amigo tocando mais uma vez ao vivo. Atendendo a muitos pedidos, eles ainda cantaram O elefante juntos. No bis, ele realizou outro desejo da plateia, que foi tocar Baby doll de nylon, hilária parceria com Caetano Veloso. Com muito improviso e simplicidade, Robertinho de Recife se despediu de uma plateia ainda extasiada sem deixar claro se a volta aos shows é definitiva. Ainda assim, ficou claro que, sempre que ele voltar, vai ter uma turma fãs esperando.