michaelsullivancapacdAo longo dos anos 1980 e começo da década seguinte, uma dupla se tornou onipresente nos discos de grandes nomes da MPB. Jogando pra plateia, Michael Sullivan e Paulo Massadas criaram dezenas de sucessos que seguiam uma fórmula de forte apelo comercial, que combinava letras apaixonadas, melodias açucaradas e zero risco. Era um modelo mais elegante do velho brega. No ponto de vista do sucesso, essa combinação rendeu boas quantidades de dinheiro e popularidade, mas muito pouco foi além de lugar comum. Passados os anos, esse repertório não perdeu o ranço popularesco, mas ainda espeta os ouvidos fazendo lembrar o que se tocava nas rádios décadas atrás.

E, como o repertório ainda é forte, Micheal Sullivan (que encerrou a dupla com Massadas em 1994) ganha agora o songbook Mais forte que o tempo, com 17 sucessos repaginados com arranjos pseudo-contemporâneos. Digo “pseudo” por que tudo é tão datado e cafona, quanto na época que tocava no Cassino do Chacrinha. O esforço para mostrar que as canções são boas é imenso, mas pouco se consegue além de refrescar a memória de quem tem 30 e poucos anos.

Vamos ao faixa a faixa:
1. Me dê motivo – Sete anos depois de cantar a mesma música no disco Lanny Duos, de Lanny Gordin, Adriana Calcanhotto volta a visitar este sucesso de Tim Maia. Sem o vozeirão do síndico, ela aposta na melancolia. Interessante.

2. Um sonho a dois – Entre as dezenas de baladas românticas de Sullivan e Massadas, essa foi gravada por Joanna em 1986. Mesmo sem perder o ar juvenil, ficou bonitinha com Roberta Sá, Pedro Mariano e os Cariocas.

https://www.youtube.com/watch?v=nklFpdiBN_k

3. Amor perfeito – Nem Ney Matogrosso foi capaz de tirar o ranço desta balada lançada em 1986 por Roberto Carlos. Cláudia Leitte também chamou a atenção para esta canção, tempos depois. Entre os três, o Rei foi quem se saiu melhor.

4. Fui eu – Essa foi gravada primeiro pelo José Augusto, o que indica que não se poderia esperar muita coisa. Com a voz miúda de Fernanda Takai, a canção ganha aquele tom mais delicado. Mas a cafonice está ali.

5. Meu Dilema – O que Zélia Duncan fez de melhor por esta música foi dar um clima meio cool, diferente das explosões vocais de Fafá de Belém. Mais contida, a niteroiense canta bonito, escorada num arranjo de teclados e guitarra.

6. Talismã – Essa já foi de Leandro & Leonardo, mas agora ganha as vozes de Fagner e Monique Kessous. Sob uma batida de pagode paulistano, marcada pelo piano de Maurício Barbosa, a balada permanece tão açucarada quanto sempre foi. O refrão de rimas fáceis é vexatório.

7. Nem um toque – Rosana lançou esta em 1987, e fez sucesso no Globo de Ouro. Aqui, Jorge Vercillo faz um dueto consigo mesmo, brincando com graves e agudos. Parece interessante (principalmente pelo instrumental), mas não é.

8. My Life – Sullivan já fez parte do grupo jovenguardiano Renato e Seus Blue Caps, para quem deu este seu primeiro sucesso, que vendeu mais de um milhão de cópias. Aqui é Sandy quem coloca sua voz matematicamente afinada para trabalhar. Sem sal.

https://www.youtube.com/watch?v=_437r-0AJp4

9. Chuva fina – Nada mais anos 1980 do que a boy band Menudos, de onde saiu o falso portoriquenho Robby Rosa, que lançou esta canção. Zeca Baleiro fez uma bossinha melosa, mas bonitinha. A melhor do disco, apesar da concorrência fraca.

10. Entre nós – Sandra de Sá foi uma cliente assídua das canções de Sullivan e Massadas e fez se deu bem com isso. Em 1986, foram três músicas deles num disco só e todas fizeram algum sucesso. Essa foi uma delas, que aqui ganha a voz do próprio Michael Sullivan com sua esposa Amayle Lima. É ruim, mas a moça canta bem.

11. Vou fazer você mulherArnaldo Antunes nunca esteve tão deslocado na vida. Apesar do seu ecletismo notório, ouvir o ex-titã cantando “faz do amor o seu dever, quer mostrar, sentir prazer” é complicado. A propósito, essa foi lançada por Sullivan em compacto de 1979.

12. Não vá – Essa sim é maravilhosa e fez parte daquele disco de 1986 de Sandra de Sá. É brega, mas é ótima. Negra Li faz sua lição direitinho, sem ousar muito. Esse é o problema. Melhor o tom passional de Sandra.

13. Abandonada – Apesar de todo o incenso, Alice Caymmi ainda precisa comer muito feijão. Nesta balada de amor exacerbado, lançada por Fafá de Belém (a plenos pulmões) em 1996, a neta do Dorival tenta uma personalidade, mas parece mais perdida que cego em tiroteio.

14. Um dia de domingo – Dos maiores sucessos de Sullivan e Massadas, esta foi lançada por Gal Costa e Tim Maia em 1985. Por algum motivo que não se explica, aqui é o mesmo dueto que aparece. Talvez ninguém tenha mais coragem de cantar “faz de conta que ainda é cedo. Tudo vai ficar por conta da emoção”.

15. Retratos e canções – Mais uma daquele disco da Sandra de Sá, que agora ganha interpretação de Paulinho Moska. No quesito arranjo, esse é o grande destaque pelo toque funk soul, a la Vitória Régia. Taí, essa é boa!

13. Joga fora – Uma desconhecida banda Benditos regrava essa que ainda é um dos grandes sucessos de Sandra de Sá. Sim, é do mesmo disco de 1986. O arranjo faz tributo ao original, mas falta a voz de Sandra pra encorpar a coisa toda.

14. Whisky a go go – Essa foi gravada pelo Roupa Nova em 1984 e fez (e faz) um sucesso danado. Vamos e venhamos, é uma ótima faixa para show. Aqui, Carlinhos Brown tenta transformá-la num cruzamento de David Gueta com Timbalada. O resultado é fraco, forçado e sem graça. Fiquem com o original.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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