Fotos: Tatiana Fortes

Fotos: Tatiana Fortes

A saga do menino que cresceu encantado pelas paisagens de Minas Gerais e viu tanta gente partir num trem chegou ao fim na noite desta terça-feira (6). A história foi contada pelo Coral da UFC, num espetáculo que estreou em 1° de novembro de 2013, no teatro do Centro Dragão do Mar, e rendeu 30 apresentações. A despedida acabou tendo um toque especial por conta da presença do homenageado da história: Milton Nascimento.

Em Fortaleza para apresentar a turnê Uma Travessia, onde comemora 50 anos de carreira, o compositor carioca de acordes mineiros esteve presente na sessão de despedida de Menino, realizada somente para convidados. Depois que todos estavam sentados, o compositor chegou discreto, acenou meio tímido e foi para seu lugar. E ali permaneceu imóvel diante da plateia previamente avisada de que era proibido qualquer tipo de abordagem ao artista. Ou seja, nada de selfies ou autógrafos. Foi somente no bis que o homenageado se juntou ao elenco que apresentou De magia de dança e pés.

Com regência e direção de Elvis Matos e Erwin Schrader, o espetáculo Menino costura episódios da vida de Milton Nascimento ao longo de 19 canções. O coral é formado por 36 vozes, reforçadas por flauta, violões e tambores. Da infância em Minas, passando pelas manifestações políticas das décadas de 1960 e 70, até a atualidade, a peça já teve mais quatro mil espectadores.

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“Uma das homenagens que mais me emocionou nos últimos anos foi esse espetáculo da UFC. O trabalho feito por eles é simplesmente incrível! Desde a primeira música já foi susto”, elogia Milton em entrevista por email. Ele, que recentemente foi tema de outro musical (Nada será como antes, de Charles Möeller & Claudio Botelho), disse que ficou “maravilhado” com cenário, atuação e roteiro da peça cearense. “A vontade era de assistir isso ainda mais umas mil vezes de tão bonito que é”, confessa. Das canções apresentadas, Milton até aponta sua preferida. “Tudo é lindo! Mas, pra falar a verdade, Sentinela quase me matou”.

Sobre os 50 anos de carreira, Milton Nascimento não nega o orgulho do que construiu e ressalta que sempre fez o que fez com naturalidade e sem forçar o próprio talento. “Tudo que aconteceu na minha vida até hoje eu considero muito especial. Desde quando comecei a tocar na noite, aos treze anos de idade, junto com Wagner Tiso. Éramos tão jovens que tínhamos que se esconder na cozinha dos lugares que a gente tocava pra fugir dos agentes do Juizado de Menores”, lembra.

Aos 71 anos, Milton diz que continua gostando do palco e das turnês. Quanto ao sucessor de …E a gente sonhando (2010), ele revela que o novo disco já está gravado e trará parcerias com guitarrista gaúcho Ricardo Vogt. Mas, embora diga que os fãs terão novidades até julho, o compositor também avisa que não tem pressa de encerrar a turnê Uma travessia. “Quero rodar mais um pouco. Quero fazer as coisas naturalmente”.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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