_MG_7887_©edson_kumasakaNada de doces saborosos, super-heróis, animais falantes ou mundos mágicos cheios de cores. Para Carlos Careqa, o universo infantil é bem diferente do que se canta nos discos feitos para esse público. Para ele, com o reforço da internet, o pequeninos passaram a saber mais sobre assuntos que antes eram reservados somente aos adultos. E com direito a imagens! E é por isso que o cantor e compositor de Lauro Müller, Santa Catarina, está lançando Palavrão, um disco infantil para adultos que também pode ser entendido como um disco adulto para crianças.

Meses antes do Dia da Criança, Palavrão chega às lojas falando sobre a professora voluptuosa, o exame de fezes e o hábito de tirar meleca do nariz. Há espaço até para um avô mal intencionado e sua pílula azul. Usando seu sarcasmo peculiar, Carlos Careqa dá a esses temas uma boa dose de bom humor politicamente incorreto. “Não gosto do politicamente correto. Também não sou a favor de uma libertinagem geral, mas não podemos regulamentar a música ou arte em geral”, defende o compositor em entrevista por email.

Carlos_Careqa_Palavrao_-_Musica_Infantil_para_Adultos_7898515696305.600x600-75A ideia de fazer um disco sobre o novo universo infantil surgiu depois de Careqa observar alguns shows de música infantil e perceber que faltava uma dose de pimenta nesses trabalhos. “Vi que não havia nestes shows os temas que abordei. Também achei muito chato alguns discos infantis, sem pitadas de humor ou sacanagem”, explica ele que nem por isso despreza clássicos do gênero, como Os Saltimbancos ou A Arca de Noé. “Acho muito legais. São mais orgânicos e tem uma pitada de sacanagem também, como na Arca de Noé, que fala do professor de piano que bolinava com a aluna”.

Mas Palavrão não se limita a uma pitada de sacanagem. Revelar os perigos da autofelação ou do troca-troca, por exemplo, é bem mais do que muitos pais estão dispostos a conversar com seus filhos. A propósito, Careqa não tem filhos, mas recebeu a aprovação da sobrinha Bia Belon, 12 anos, “candidata a atriz”, segundo o tio. A inspiração para as 13 composições de Palavrão partiu mesmo de sua criança interior, que buscou uma linguagem acessível para baixinhos e altinhos. Entre rap, reggae, rock e balada, o disco contou com reforços de Mário Manga e Márcio Nigro nos arranjos, e participações especiais de Bruna Caram e André Abujamra. O projeto de R$ 35mil foi todo financiado pelos fãs, através da plataforma Catarse.

“Como não acho que seja somente um disco infantil, ele tem apenas o objetivo de divertir as pessoas”, resume Careqa, que fugiu das lições e conselhos que normalmente permeiam os discos infantis. O assunto pedofilia, por exemplo, tangencia a faixa O diamante azul do vovô, sem deixar nenhum tipo de alerta no ar. “Achei o tema interessante. Até levemente engraçado, pois isto é uma realidade de alguns homens mais velhos. Mas não levanto nenhuma bandeira sobre o assunto. Apenas comento”, simplifica.

Com 52 anos e mais de 30 dedicados à música, Carlos Careqa ainda é um desconhecido do grande público. Apesar disso, ele acha mais interessante a carreira independente do que se sujeitar às regras da indústria. “Quero fazer o meu trabalho e quem puder ouvir que ouça. Minha produção artística não depende do sucesso. Eu quero me comunicar com mais gente é verdade, mas não dependo somente do sucesso”, explica o artista, que chegou a chamar Palavrão de “projeto suicida”, já que ninguém o contrataria para fazer shows falando de troca-troca ou masturbação. “No começo, eu pensei isto mesmo. Mas tem um nicho no Brasil que ainda pensa e quer expor estas ideias para serem discutidas na comunidade. Eu sou assim mesmo desde sempre. Gosto de caminhar no fio da navalha. Gosto do risco. Por isso faço projetos assim e vou continuar fazendo”.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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