o-quinto-beatle---livro-em-quadrinhos-conta-a-historia-do-empresario-da-banda-brian-epstein-1398804601254_300x420Semanalmente, dezenas de produtos chegam às lojas dissecando cada segundo da história do Beatles. São filmes, biografias, estudos, discos e DVDs que buscam, cada um à sua maneira, entender e explicar o que de fato fez de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr figuras mitológicas que atravessam gerações. No entanto, a grande maioria desses produtos se concentra nos quatro garotos que deram vida a clássicos como Love me do, She loves you, Taxman e tantas outras canções, resumindo outros personagens a notas de rodapé ou coadjuvantes.

Vivek Tiwary busca corrigir essa injustiça jogando luzes sobre a história do homem que descobriu o quarteto tocando no pouco convidativo The Cavern e, tomado pelo susto, resolveu tornar-se seu empresário. A vida, ao mesmo tempo, trágica e gloriosa de Brian Epstein é o foco da graphic novel O quinto beatle, lançada no ano passado no exterior e que agora chega ao Brasil pela editora Aleph. Premiado autor de espetáculos da Broadway, Vivek escreveu o roteiro, que foi ilustrado por Andrew Robinson (Conan Rei, Batman) e Kyle Baker (X-Men, Deadpool).

O quinto beatle é fruto de uma pesquisa de mais de 20 anos, que, dada a ausência de mais informações específicas sobre o personagem, se baseou em dezenas de entrevistas que com pessoas próximas a Brian Epstein. Mesmo sendo contada em formato de quadrinhos, a história do empresário sempre insatisfeito com o próprio sucesso é contada sem meias palavras, ressaltando suas vitórias, inseguranças, paixões e medos.

redirect_auto.phpFilho de uma família que veio da Lituânia, no final do século XIX com uma mão na frente e outra atrás, Epstein nasceu em 19 de setembro de 1934, quando as coisas em casa já haviam entrado nos eixos. De longe, ele tinha tudo para ser um vencedor. Elegante, sofisticado e inteligente, seu rumo poderia estar bem traçado no comércio que os pais mantinham em Liverpool. No entanto, dentro da própria cabeça, fervilhavam dúvidas e inseguranças que tinham como fundamento dois pontos: ele era judeu e gay.

Na época, a combinação dessas duas características beirava o insuportável na cabeça do jovem que nunca encontrou seu lugar no mundo. Vivendo numa sociedade ainda mais preconceituosa do que a atual, quando a homossexualidade era crime passivo de punição com cadeia, ele vivia dividido entre os próprios impulsos e a necessidade de se esconder. Mais ainda por que sua atração se dirigia principalmente para os ciclos sociais mais afastados do que foi criado. Percorrendo as áreas mais barra-pesada da cidade, ele se envolvia com homens que, invariavelmente, terminavam lhe roubando e espancando. Aliás, alguns eram pagos pelo próprio Brian para deixá-lo em condições inacreditavelmente degradantes.

O sentimento de culpa e a insegurança sobre se seus desejos sexuais eram ou não aceitáveis só pioravam pelo fato de ter recebido uma severa educação judaica. Até encontrar os Beatles, Brian Epstein achava que sua vida era o mais desolador fracasso. Já havia sido expulso da escola e do exército, além de ter desistido da carreira de ator. Pra compensar a falta de rumo, ele era um vendedor nato. E foi nisso que apostou na hora que se ofereceu para guiar a carreira da banda que, até aquele momento, acumulava um círculo fiel de fãs e nenhum senso profissional.

Brian Epstein reescreveu a história de John, Paul, George e Ringo e viveu para eles ao longo de seis anos. Desesperado no seu objetivo de fazer dos Beatles o maior nome do rock, maior até que Elvis Presley, ele dedicou dias e noites ao trabalho, sempre movido a grandes doses de remédios para dormir e acordar – todos receitados pelo mesmo médico que prometia comprimidos para “controlar” sua homossexualidade. Sentindo-se sempre só, mesmo em meio à multidão que cercava seu principal produto, Epstein morreu em 27 de agosto de 1967, aos 32 anos, vítima de overdose. Como nunca achava que seus esforços eram suficientes, Brian morreu sem saber que havia mudado o mundo.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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