lenineReconhecido como um dos maiores hitmakers de sua geração, gravado por vozes que vão de Maria Bethânia a Maria Rita, o pernambucano Lenine chega este fim de semana ao Ceará para uma breve turnê de três noites. A abertura foi ontem (31) no Crato, e segue hoje (1°) para Sobral até chegar amanhã (2) a Fortaleza. Na bagagem, o cantor e compositor traz apenas seu violão, único companheiro de palco nestas três noites acústicas. Com seu toque já conhecido, que costura a batida do maracatu com elementos do pop, ele apresenta canções marcantes como Hoje eu quero sair só, Paciência, Jack Soul brasileiro e Relampiano. Já envolvido com a produção do novo disco, sucessor de Chão (2011), o músico conversou com o DISCOGRAFIA por email e falou sobre suas influências, música brasileira e projetos socioambientais. Acompanhe.

DISCOGRAFIA – Shows somente ao violão nunca foram novidade pra você. Alguma vez pensou em gravar um disco só com violão?
Lenine – Ainda não, mas tenho sempre muito prazer em tocar somente com o violão.

DISCOGRAFIA – Sua música passeia por muitos estilos e nunca se prendeu a um rótulo. Para onde sua composição está indo atualmente? O que você tem ouvido?
Lenine – Cada caminho é um caminho. Tem canções que não precisam de nada, já nascem prontas e você foi só uma antena para isso. Retrato isso em uma música de Chão, chamada De onde vem a canção. O melhor de tudo é não saber para onde estou indo. Atualmente comecei a trabalhar meu novo CD e essa descoberta é o que mais me instiga. Tenho escutado muita coisa. (As bandas) Posada e o Clã, Rua do Absurdo, todos maravilhosos. Agora acabei de ouvir um disco do Vinícius Calderoni, um trabalho belíssimo com seu projeto 5 a Seco, que também trouxe Dani Black, o Tó Brandileone.

DISCOGRAFIA – Junto com o trabalho na música, você tem viajado com um projeto socioambiental apoiado pela Petrobras. Queria que você falasse sobre esse projeto.
Lenine – O maior significado dessa primeira tour socioambiental tem sido os encontros que antecedem a cada show. Nestas oportunidades acontecem uma grande troca de informações, de experiências, e isso tem ajudado em muito a continuar este sonho coletivo de melhoria, que todos os projetos, independentemente da área em que atuam, dividem. As pessoas por trás de cada sigla dividem um mesmo tipo de alma, de compreensão do mundo, a troca de vivências fortalece a todos. Isto tem sido realmente significante.

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DISCOGRAFIA – Esse ano estão sendo comemorados os 20 anos do disco Da lama ao caos. Ele te influenciou de alguma forma?
Lenine – Produzi o primeiro disco do Mestre Ambrósio, e o fato de toda minha família viver em Recife me deu a sensação de nunca estar tão distante da cidade. Mas, a verdade é que minha profissionalização se deu no Rio de Janeiro, onde moro desde 1980. E o Mangue(beat) foi um grito regional de emancipação estética. Nasceu e cresceu do estado para o mundo. Sou um torcedor e cúmplice.

DISCOGRAFIA – Pernambuco continua sendo um dos mais prolíficos celeiros musicais do Brasil. Você consegue acompanhar a música que se faz lá?
Lenine – Não sou muito fã de movimentos. Prefiro a movimentação. Acho que em cada estado desse país existe um grupo de pessoas instigadas e curiosas se expressando. Tem muita gente bacana. Eu não sou míope, não! Acho até que o Brasil nunca esteve tão bem de expoentes. Muitos compositores, intérpretes e solitários que tão produzindo muito. Aquela velha história que a música brasileira morreu é falta de informação. Aliás, qualquer tipo de crítica só existe a partir da informação que o crítico tem sobre as coisas. Então, “novo” é aquilo que você não sabe, por isso que é novo. Em relação a Pernambuco, indico o novo CD da Rua do Absurdo, chamado Limbo.

DISCOGRAFIA – Já tem um bom tempo, você tem uma agenda cheia de shows internacionais. Lembro, inclusive, de ter visto um cartaz enorme em Roterdã anunciando um show seu. O que as plateias do exterior mais esperam de um show do Lenine?
Lenine – Lá em 1993, quando lançamos o CD Olho de Peixe – a coisa começava a fomentar, a internet já facilitava uma busca pelo o que estava acontecendo na musica, no mundo – a primeira coisa que eu fiz foi uma pesquisa de festivais pelo mundo. Foi assim que abriu para mim essa relação de proximidade com vários países. Descobri que o tipo de hibridização que eu fazia dialogava com muita gente, independente da cultura e do lugar do indivíduo. Passei a estabelecer parcerias com russos, escandinavos, japoneses, espanhóis, os latinos todos – isso tudo muito antes da gente perceber a profundidade que essa rede nos dava. As plateias esperam uma boa musica. Não só de mim, mas de todos que se apresentam.

DISCOGRAFIA – Recentemente o Brasil perdeu dois ícones da cultura nordestina, que são João Ubaldo e Ariano Suassuna. De alguma forma, eles influenciaram sua música?
Lenine – Sim, acho que esses dois gênios influenciaram a todos. Especialmente Ariano, que tive o prazer de conhecer e conversar pessoalmente. Eles deixaram um grande legado e vão fazer muita falta.

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DISCOGRAFIA – Que planos você está traçando agora para a carreira? Seu último disco já tem três anos.
Lenine – Logo vem um novo trabalho. Já estou começando a pensar nisso. Mas antes faremos uma grande turnê de encerramento de Chão por todo o país.

DISCOGRAFIA – O que o público pode esperar dessa pequena turnê pelo Ceará?  
Lenine – Tocar no Nordeste, de uma maneira geral, é sempre muito gratificante. É no Nordeste que eu tenho a certeza de ser melhor compreendido. Além de rever os amigos, a família de minha esposa Anna Barroso é toda do Ceará.

Serviço:
Lenine, voz e violão
Sobral
Onde: SESC Sobral (Rua Boulevard João Barbosa, 902)
Quando: sexta (1°), às 20h
Quanto: R$ 5 + 2kg de alimento (comerciário); R$ 10 + 2kg de alimento (usuário/ conveniado)
Outras informações: (88) 3611.0964

SESC Fortaleza (R. Clarindo de Queiroz, 1740 – Centro)
Quando: sábado (2), às 20h
Quanto: R$ 10 (comerciário); R$ 15 (conveniado); R$ 20 (usuário)
Informações: 0800.2755250

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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