Vamos-que-eu-já-VouO início década de 1970 mostrou-se uma verdadeira prova de fogo para Wanderléa. Ao mesmo tempo que os carrões envenenados descendo a Rua Augusta a 120 por hora estavam saindo de moda, a ditadura militar seguia com seu plano de repressões e caretices. No plano pessoal, ela ainda teve que encarar a perda de um filho de dois anos de idade e o acidente que deixou seu marido preso a uma cadeira de rodas. Para a musa da já cansada Jovem Guarda, uma boa novidade se fazia urgente.

E ela veio com o nome de Chuva, suor e cerveja, inédita que Caetano Veloso compôs ainda no seu exílio em Londres. Encantada com a canção, a Ternurinha decidiu gravá-la imediatamente, mas sua empolgação não encontrou eco na CBS. A gravadora que vinha lançando seus discos não queria ver a artista gravando frevo no lugar de rock. Foi aí que a mineira de  Governador Valadares rompeu com a empresa e com seu passado para entrar num momento de muita criatividade e desbunde.

Foram quatro discos apresentando repertório novo e uma cantora mais madura e moderna. Da cabeleira black da capa de Maravilhosa (1972) ao blues Segredo, de Mais que a paixão (1978), Wanderléa exorcizou dezenas de demônios em shows cheios de energia. E até encontrou um novo amor, o músico Egberto Gismonti, que a acompanha em Vamos que eu já vou. Como se espera de um dos gigantes da música instrumental brasileira, o músico encheu o disco de peso musical, num repertório brasileiro que ia de Rosinha de Valença a Roberto Carlos.

O frescor que se ouve em Vamos que eu já vou é como o vento que sopra nos cabelos de Wanderléa na capa do disco. Brasileiro, pop, progressivo e experimental o álbum entrou para a lista de clássicos nacionais que nunca perderam a juventude. Aí veio a década de 1980, o Globo de Ouro, a geração Cassino do Chacrinha e mais mudanças na carreira da intérprete. Para os que sempre lembram dela em Pare o casamento, vale visitar a época em que ela olhou para o futuro como a única forma de sobreviver aos apertos da vida.

Veja as faixas de Vamos que eu já vou (1977):
1. A terceira força (Erasmo Carlos/ Roberto Carlos)
2. Poema pra Léa (Juhareiz Correya/ Paulo Diniz)
3. Antes que a cidade durma (Altay Veloso)
4. Calypso (Geraldo Carneiro/ Egberto Gismonti)
5. Coisas da vida (Rosinha de Valença)
6. Café (Egberto Gismonti)
7. Vamos que eu já vou (Altay Veloso)
8. Carmo (Geraldo Carneiro/ Egberto Gismonti)
9. A felicidade bate à sua porta (Gonzaguinha)
10. Educação sentimental (Geraldo Carneiro/ Egberto Gismonti)
11. Relva verde (Altay Veloso)
12. Dança mineira (Aécio Flávio/ Tibério Gaspar)

>> Antes que a cidade durma (Altay Veloso) por Carlus Campos

WANDERLEA

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles