Mesmo que já estivessem acostumados a invenções sonoras, os fãs do Pato Fu ficaram chocados quando, em 2010, a banda mineira saiu com um disco tocado em instrumentos de plástico. Apesar da simpatia e do sucesso comercial de Música de brinquedo, o trabalho dividiu opiniões e quase encerrou as atividades do quinteto. Quatro anos e muitas histórias depois, o time liderado por John Ulhoa volta a pegar baixo e guitarra de verdade e lança o acelerado Não pare pra pensar.
O 12º álbum do Pato Fu encerra uma temporada de sete anos sem músicas inéditas. Em 2007, quando foi lançado Daqui pro futuro, a vocalista Fernanda Takai também estreava a carreira solo com o aclamado tributo a Nara Leão. “Esse disco vem num momento importante. Apesar de todos os trabalhos solo, nossa historia é contada no momento que o Pato Fu nasce”, comenta a cantora, por telefone. “Queria fazer um disco significativo para a gente e para os fãs. A gente não poderia repetir uma fórmula que já tivesse feito. O Música de Brinquedo deu muito certo e ficou no nosso repertório de shows. É um disco que tem vida própria. O grande desafio, agora, era fazer algo que descolasse”.
Para alçar esse novo voo, a banda surgida na efervescência criativa dos anos 1990 resolveu apostar nas pistas e criar um repertório alegre, elétrico e dançante. Não pare pra pensar traz 10 faixas assinadas por John e uma releitura de Mesmo que seja eu, de Roberto e Erasmo. No lugar do baterista Xande Tamietti, que acompanha a banda desde Gol de quem? (1995), agora quem assume as baquetas é Glauco Mendes, integrante do Tianastácia. “O Glauco é o mais roqueiro e não podia ser outro para substituir o Xande. Quando ele topou (entrar para a banda), foi ótimo. O John está feliz por que ele também anda de skate”, brinca Fernanda, que também convidou o baterista para seu último trabalho solo.
Produzido e mixado por John Ulhoa (casado com Fernanda), Não pare pra pensar foi gravado no estúdio caseiro da banda. Além das facilidades e praticidades de não precisar marcar horário de estúdio, isso proporcionou alguns momentos de orgulho íntimo para o casal. Um deles foi receber o “menino veneno” Ritchie, convidado da faixa Para qualquer bicho, para um café com biscoitos. “Ele é meu ídolo de adolescente, desde a época do Vôo de coração (1983). Eu pedi autógrafo quando ele foi lá gravar”, diz a vocalista assumindo que “foi com a geração dos anos 1980 que teve vontade comprar guitarra, montar banda”.
Segundo Takai, aquele sonho adolescente de montar uma banda de rock não perdeu a empolgação com o sucesso da carreira solo. “Eu não ia ficar feliz se tivesse escolher entre um e outro. Minha banda é o Pato Fu e, solo, eu realizo outros desejos. A banda que eu sonhei é o Pato Fu”. Isso explica a ausência de baladas em Não pare pra pensar, uma vez que essa porção mais lenta ficou reservada para seus projetos paralelos. Para ela, a banda também ajuda a partilhar decisões, erros e acertos. “No disco solo, eu tenho todas as escolhas à minha mão. Quando erro, sofro mais”, acrescenta. E, como banda independente desde 2005, cada passo musical e administrativo precisa ser muito bem calculado. “O sonho de qualquer indie brasileiro é ser indie como o Pato Fu, que, mesmo como independente, ganhou o Grammy latino (de melhor álbum infantil em 2001, com o Música de brinquedo)”.
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=HHEx9Mg78l4[/youtube]Agora, o plano para 2015 é conciliar os trabalhos do Pato Fu com a carreira de Fernanda Takai. No que se refere à banda, as matinês do Música de brinquedo também seguem em paralelo com o novo disco, que deve ganhar a estrada a partir de março. Mas, depois de um álbum infantil e de sete anos sem inéditas, o quê os fãs ainda esperam do Pato Fu? “Esse pós é muito importante. Tem fã que não gostou do Música de brinquedo. Ao mesmo tempo, muitas crianças que tinham sete anos quando a gente lançou o disco hoje têm 12 e querem ir ao Lollapalooza. A gente sabe que tem uma possibilidade de renovar nossa base de fãs. Mas, espero que os velhos fãs gostem do novo disco”.