Foto: Leo Aversa

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Está lançado o desafio: pegue todos os discos de Djavan e conte em quantos deles você reconhece de nome pelo menos uma faixa conhecida. Raro vai ser o álbum lançado nos 38 de carreira do alagoano que não vai trazer, no mínimo, uma canção que tenha ficado grudada na memória. Seja na própria voz ou nas suas dezenas de intérpretes, onde se inclui todos os cantores de barzinho do Brasil, a obra do autor de Flor de lis tornou-se uma baliza de qualidade e popularidade para muitos que vieram depois dele.

Isso se comprova no box Obra completa de 1976 a 2010, lançado pela Sony Music. Tal qual dito no título, a caixa luxuosa traz os 18 discos lançados entre o inaugural A voz, o violão, a música de Djavan e Ária, trabalho exclusivamente de intérprete. Desse pacote, ficaram de fora apenas dois discos ao vivo (de 2011 e 2014), as regravações dançantes de Na pista, etc (2005) e o mais recente Rua dos amores (2012). Para compensar essas ausências, foram montadas duas coletâneas de participações especiais em trabalhos nacionais e internacionais.

Entre Fato consumado (1976) e Maledeto, única inédita lançada em 2014, a obra de Djavan seguiu um rosário de sucessos que transitou entre o refino poético e melódico, e o apelo popular. O autor tem uma explicação para o próprio sucesso. “É a mesma que dou quando falo da heterogeneidade do meu público. Dentro da minha obra existe uma diversidade enorme de influências produzidas no País e fora. Minha música é formatada sob essa gama de diversidades. Talvez, isso me facilite alcançar gostos de todos os jeitos”, teoriza por telefone.

Box Djavan_tampa final_FINALO ex-meio de campo do CSA reforçou essa ideia quando se debruçou sobre os próprios discos para produzir a caixa que chega às lojas. Ouvindo um a um, ele pode ver o que ficou datado, corrigir pequenos escorregões e relembrar histórias. São lembranças que nascem na insegurança do primeiro álbum, quando o produtor Aloysio de Oliveira deu destaque aos sambas do compositor. A dúvida sobre se essa seria a melhor opção foi embora quando o ex crooner da boate carioca Number One entendeu que o produtor via uma variedade de ideias sintetizadas naqueles sambas. “Você imagina que são todas as fichas num projeto que você desejou tanto. Um disco que você espera que seja a condução de uma vida. Um disco que deu a partida numa carreira que eu tenho trazido com muita alegria”, avalia.

Ainda nesse mergulho, Djavan lembrou amigos músicos, como o percussionista Marku Ribas (1947 – 2013), que tocou em seu segundo disco, e os raros parceiros. Cacaso, Aldir Blanc, Chico Buarque, Gilberto Gil e mais alguns poucos nomes dividiram a canções com o alagoano. Na mesma proporção, foram poucos os convidados desses 24 álbuns lançados (incluindo os dois feitos para o mercado estrangeiro). “Isso acaba sendo por que eu sempre tive gosto pelas etapas que envolvem a música. Eu componho, toco, produzo. Adoro ficar administrando os pensamentos, o que dá uma tendência natural a fazer as coisas sozinho”, supõe adiantando que, por outro lado, valoriza convidados como Stevie Wonder e Paco de Lucia, que passaram por seu trabalho.

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Aos pouquinhos, de 1989 para cá, Djavan foi reforçando as parcerias familiares trazendo os filhos para seus discos. Cantando e compondo, Flávia Virgínia foi a primeira, depois seguida pelos irmãos Max e João Viana. “A parceria com meus filhos sempre foi muito profícua porque eles são muito musicais. Sempre trocamos muitas informações sobre o que estamos ouvindo”, comenta o pai revelando que foi Max Viana quem lhe apresentou a flamenca La noche, registrada em Ária (2010).

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Passado esse momento de reavaliação da carreira, Djavan já se volta para um novo trabalho inédito, previsto para setembro de 2015. Compositor prolífico, ele não é de ficar olhando para trás e requentando o já feito. Tanto que confessa que nem lembrava de boa parte das canções incluídas nos discos de raridades. “Eu sempre tive mais gosto pelo futuro que pelo passado. O que não conheço é mais interessante do que o que eu já sei. Tenho o compromisso de ir em frente”, fala com firmeza o homem de 62 anos que, no início da carreira, pediu ajuda a Deus para vencer na vida como cantor. Ao que parece, o criador ouviu seus apelos.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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