roberto-carlos-ao-vivo2014 partiu deixando a imagem de um dos maiores ídolos brasileiros mais suja do que pau de galinheiro. Mesmo estando ainda no trono brilhante da música brasileira, Roberto Carlos hoje não é mais que uma lembrança pálida do artista de outrora. E olha que ele nem precisava daquele papelão envolvendo a cinebiografia de Tim Maia para ser alvo de tantas críticas, piadas e achincalhes. Para isso, bastava observar que já tem algum tempo que ele frequenta mais as editorias de fofoca do que as de crítica musical.

De fato, é uma pena reconhecer que a produção artística atual do autor de Detalhes fica à sombra de falsos namoricos, manias e disputas judiciais. Vamos e venhamos, nem o próprio Roberto colabora pra melhorar esse quadro. Com uma preguiça gigantesca para reavivar o compositor de décadas passadas, ele prefere reafirmar o personagem cansado e os hábitos comprometedores que costumam alimentar a gana de quem pouco sabe sobre sua real importância. E tome capa feia de disco, músicas de qualidade esquálida, especiais de TV repetitivos (o último foi o melhor dos últimos 10 anos, pra se ter uma ideia), tons de azul e textos metidos a amante latino.

RCTodo esse preâmbulo é para chegar ao lançamento, no fim de 2014, do disco Duetos 2. Oito anos depois do primeiro, este segundo volume da série pesca 12 encontros realizados nos especiais de fim de ano da Rede Globo. E mais uma vez o vício em obviedades do Rei compromete o resultado. Assim como no primeiro volume, que tinha algo de mais interessante em relação a este segundo, o medo de vasculhar material realmente valioso compromete o disco. E olha que coisa de qualidade não falta nesses 41 anos de RC Especial.

Para se compreender o argumento, é preciso saber que boa parte dos nomes nacionais que realmente importam já passaram pelo palco real de Roberto. Aracy de Almeida, Altamiro Carrilho, Chico Buarque, Cássia Eller, Barão Vermelho só para citar alguns. Mas, este Duetos 2 gasta mídia com Cláudia Leitte, MC Leozinho e Zezé di Camargo & Luciano. O fato é que todos esses nomes poderiam estar no disco sem problemas. Desde que o conjunto não ficasse com cara de esmola depois de tanto tempo sem um lançamento de fato interessante.

E, quando me refiro a lançamento, pode ser livro, disco, DVD, especial de TV ou qualquer outra coisa. No entanto, com muito boa vontade, o que há de bacana neste novo Duetos são os pot-pourris que mesclam os repertórios do anfitrião e do convidado. Isso é feito com Alcione, demonstrando intimidade pessoal, e, melhor ainda, com Rita Lee, com os dois brincando com os pontos em comum das canções. A mistura de Angela e Eu e ela, ao lado do Neguinho da Beija-Flor também é bacana, embora eu não saiba explicar por que. Fora isso, nem as presenças de Jorge Benjor e Erasmo Carlos se impõem no disco.

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E não se impõem por que não foram chamados para isso. Não há desejo, por parte de Roberto, da produção ou da Globo, de renovar, refrescar e aquecer. Tudo é feito para ficar exatamente onde está. Sem riscos, sejam ou não calculados. Estagnado num personagem que pensa que não envelhece, Roberto Carlos desperdiça, anualmente, chances de rejuvenescer seu público. Mais sempre há de se ter esperança. Quem sabe pra esse ano a coisa vá.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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