humberto-teixeiraO Brasil conheceria muito pouco do Nordeste se não fosse Luiz Gonzaga. Foi o pernambucano que, com sua sanfona, levou a música, o linguajar, os modos e a cultura do povo “do norte” para os espaços mais improváveis do País, dos grandes centros às pequenas cidades interioranas. Em seguida, levou isso tudo para o exterior, o que até gerou uma falsa lenda de que os Beatles teriam gravado sua Asa branca. No entanto, esse voo não teria sido tão bem sucedido se ele não tivesse conhecido o cearense Humberto Teixeira em 1945.

É por conta disso eu o poeta Dideus Sales e o ilustrador Audifax Rios lançam agora o livro Humberto Teixeira – Muito mais que um letrista (Ed. Expressão Gráfica). A biografia escrita em sextilhas e setilhas (versos de seis e sete sílabas, respectivamente) celebra o centenário do “Doutor do Baião”, nascido em 5 de janeiro de 1915, e vem na sequencia de Luiz Gonzaga – Muito além de um sanfoneiro (2012), que também comemorou o centenário do seu principal parceiro.

Natural de Independência, a 309 km de Fortaleza, Dideus Sales é formado em Letras pela Faculdade do Vale do Jaguaribe e ministra palestras e oficinas sobre cultura popular. Radialista e escritor, ele já publicou mais de 10 livros com poesias e causos do interior, além de ter lançado quatro discos, incluindo parcerias com os artistas Acauã e Moreira de Acopiara. Já Audifax Rios nasceu em Santana do Acaraú, a 249 km da Capital, é cordelista, artista plástico, autor de livros infantis, cronista do O POVO e está às voltas com um novo romance ambientado no Mucuripe.

Amigos de longa data e muitos projetos, eles combinam na admiração a Humberto Teixeira que, além de compositor de clássicos como Baião, Respeita Januário e Asa branca, foi advogado e deputado federal atuante, principalmente, na área dos direitos autorais. “Eu vi a importância dele como um político que representava muito bem a classe artística. Além disso, ajudou a colocar o Nordeste no cenário nacional”, elogia Dideus, que vê a parceria de Humberto e Gonzaga como uma combinação perfeita que ajudou a elevar a cultura nordestina em nível nacional e internacional. “O Gonzaga era muito intuitivo e queria uma música que ajudasse a colocar o Nordeste no mapa. Ele teve um primeiro parceiro que não tinha nada a ver com Nordeste. Foi só com o Humberto que ele conseguiu”, explica.

Em Humberto Teixeira – Muito mais que um letrista, os versos de Dideus contam essa história desde o início, passando pela infância do compositor, reconhecimento como artista, trajetória política as homenagens feitas após sua morte em 3 de outubro de 1979. Entre essas homenagens, consta a Rodovia Humberto Teixeira, que liga Iguatu e Acopiara, e o filme O homem que engarrafava nuvens (2009), dirigido por Denise Dumont, filha do compositor.

Completando o texto, Audifax ilustra as páginas do livro com imagens coloridas que remetem ao trabalho anterior, sobre Luiz Gonzaga. Os artistas Miguel Lima e Xavier Marques também colaboram com imagens dos homenageados. Embora o texto seja mais adulto, as imagens ajudam a atrair também o público infantil. “É um livro feito para todas as idades. O público que não é muito de leitura, quando vê que é poesia, fica mais interessado, é mais fácil. Ele ajuda as pessoas a conhecerem esses personagens. Em seguida, elas podem ir atrás de pesquisar e conhecer mais ainda”, avisa o ilustrador.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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