02-05-201305-54-09EdyStarA ideia já nasceu fadada ao fracasso. Quatro nomes de pouca ou nenhuma exposição nacional reunidos para gravar um álbum onde todo tipo de ideia seria bem vinda. Até o nome da empreitada era maluco: Sociedade da Grã-Ordem Kavernista apresenta Sessão das 10. Apesar dos olhares desconfiados, a CBS bancou a aventura e quase se arrependeu. Execrado por público e crítica, o disco foi esquecido pela gravadora que optou por não gastar dinheiro com divulgação. O fato é que, 44 anos depois, ninguém estaria falando daquele lançamento se entre os associados não tivesse um rapaz de 26 anos chamado Raul Santos Seixas.

Muitos discos, sucessos, idolatrias e polêmicas depois, Raul Seixas tornou-se o maior ícone do rock nacional. Para adiantar os 70 anos de nascimento do baiano, completados no próximo 26 de junho, a banda Concreto Asfalto realiza nesta quinta-feira (30) um show gratuito no Estoril. Com direito a muito “toca Raul”, a apresentação passeia por muitas épocas e parcerias do compositor de Gita. Formado por Israel Ventura (voz, guitarra e violão), Thiago Probo (guitarra), Evaldo Dantas (bateria), Léo Almeida (baixo) e Davi Probo (teclados), o quinteto cearense ainda recebe como convidado especial o último kavernista vivo, Edy Star.

1971-Sociedade-da-Grã-Ordem-Kavernista-Apresenta-Sessão-das-10-CapaEdy Star não lembra como conheceu a Concreto Asfalto, mas, acha que foi na internet. Convidado para cantar numa homenagem a Luiz Gonzaga, ele resolveu chamar a banda, que se chamava Monomotor, para a gravação. A mistura de baião com rock deu certo e amizade com os cearenses ficou. Tanto que, quando surgiu o convite para fazer o repertório de Sweet Edy (1973), seu único disco solo, na Virada Cultural de São Paulo, ele chamou o grupo para acompanha-lo. Em visita ao O POVO, Edy adianta a apresentação em Fortaleza é um momento de homenagear Raul, mas, ele pretende lembrar também o kavernista Sérgio Sampaio. “Um verdadeiro gênio”, resume.

Por mais que já tenha feito de tudo nessa vida, Edy Star é sempre convidado a falar sobre o amigo Raul e os tempos de Sociedade Kavernista. De um modo geral, suas respostas são impublicáveis, mas não por que a pergunta ofende. “Essa idolatria é muito chata. Eu conheci o Raul com 15 anos. Ele era meu amigo, uma pessoa comum”, justifica. E foi por conta dessa amizade que surgiu a parceria do disco de 1971. Em seguida, foi a vez de Sérgio Sampaio chegar na CBS, onde Raul era produtor, acompanhando outro artista num teste. Aproveitando a oportunidade, o conterrâneo de Roberto Carlos resolveu mostrar suas composições e acabou ganhando um contrato (enquanto o outro artista foi dispensado). Por fim, eles queriam uma mulher na sociedade, e surgiu o nome de Miriam Batucada. Estava formado o quarteto.

Nascido Edivaldo Araújo de Sousa, o baiano de Juazeiro já fez cantou, pintou, atuou e apresentou espetáculos em cabarés europeus. E tudo o que ele faz é coberto de boas gargalhadas. Hoje, aos 78 anos, ele já não usa a imensa cabeleira, as roupas espalhafatosas e as maquiagens pesadas. Mas, o rebolado e o jeito elétrico permanece intacto. Isso ele deve mostrar no disco que vem montando com a produção de Zeca Baleiro. Sem muita pressa de concluir, eles já gravaram seis faixas, incluindo um dueto com Emílio Santiago em Ave Maria do morro. Ainda reunindo material, ele também pretende contar com Cauby Peixoto, Caetano Veloso e Ney Matogrosso neste segundo álbum solo em mais 40 anos de carreira.

Ao mesmo tempo que prepara o novo álbum, ele está envolvido com dois projetos. O primeiro é o documentário que vem colhendo depoimentos de vários amigos espelhados pela Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. E o outro uma série de 12 programas que misturam conversas e músicas. Por falar em música, é ela a base do seu trabalho e sustento atualmente. Sempre viajando pelo Brasil e exterior com um repertório de rock e bossas, ele não para de criar novas ideias. Uma delas é o show Jurassic Rock, quando dividiria o palco com o octagenário Serguei. Já pensou?

Serviço:
Concreto Asfalto toca Raul Seixas
Quando: quinta-feira (30), às 20h
Onde: Estoril (Rua dos Tabajaras, 397 – Praia de Iracema)
Quanto: gratuito

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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