zabelecapaalbumA família Gomes anda tendo muito o que comemorar nos últimos tempos. O que seria um projeto especial e passageiro para comemorar os 60 anos de Baby do Brasil, tornou-se uma grande turnê internacional que já se estende por mais de dois anos e está prestes a se transformar no primeiro DVD da nova baiana. Ao lado da niteroiense, seu filho Pedro Baby se confirma como um dos grandes guitarristas de sua geração. Criativo e eclético, ele faz valer o DNA nobre de Pepeu Gomes, seu pai. Além destes, um novo membro do clã também reaparece entre elogios da crítica.

Trata-se de Zabelê, que lançou recentemente seu primeiro trabalho solo. Pra quem não lembra, a segunda filha de Baby e Pepeu foi uma das integrantes do SNZ, trio vocal dividido com as irmãs Nana Shara e Sarah Sheeva. Inspiradas numa penca de grupos femininos norte-americanos, as irmãs faziam aquele pop radiofônico e oco que está cansado de ser clonado pela indústria. Ainda assim, o trio rendeu três discos e alguns sucessos temporários que ninguém lembra mais. O SNZ permaneceu junto até 2009, quando se apagou sem fazer falta.

Seis anos depois, Zabelê volta a se aventurar na música com um disco independente que traz apenas seu nome na capa. Para esta aventura solo, a carioca reuniu a nata da nova música brasileira. São nomes como Pedro Sá, Alberto Continentino, Marlon Sette, Ricardo Dias Gomes e Kassin. No comando dessa turma está o produtor Domenico Lancellotti. O repertório é todo inédito e composto por essa mesma turma, além de uma faixa de Luisa Maita e outra da própria Zabelê.

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Como cantora, a filha de Baby está muito longe da potencia vocal da mãe. Em alguns momentos, chega a fazer vergonha seu registro tão esmaecido. Com uma voz que fica entre Céu e Bárbara Eugênia, mas sem um pingo da sensualidade dessas, Zabelê é salva pela altíssima qualidade e simpatia do repertório. Cada música parece ter sido escolhida a dedo e arquitetada de forma cirúrgica, mas sem perder a espontaneidade. E sim, tem muita leveza nas interpretações. O que falta é só voz.

Sem querer emular velhos hits de Baby e Pepeu, o trabalho solo de Zabelê prima pela elegância de um repertório pop. Nossas noites (Continentino/ Domenico), por exemplo, cheira a cinema francês, enquanto Cara de cão (Gustavo Benjão/ Domenico) parece sobra dos transambas de Caetano Veloso – e mais ainda quando se ouve a voz de Moreno Veloso no dueto. Prática (André Carvalho), escolhida para abrir o disco, traz a mensagem dos novos baianos (“Vem cantar, vem viver que o medo foi embora”), mas expõe na cara do ouvinte a interpretação pálida da cantora, que se sai bem melhor na balada Enquanto desaba o mundo (Kassin). Atenção (Marcelo Callado/ Quito Ribeiro) também parece ter saído de um disco de Baby Consuelo, lá dos anos 1980, mas isso não se coloca como regra. E é por isso que vale conferir a estreia de Zabelê, que se conseguir botar mais voz pra fora e reunir um novo repertório à altura do primeiro, pode vir a fazer um barulho interessante no futuro.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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