Ithamara Koorax 02Em 1990, Ithamara Koorax era uma jovem estreante na música que se apresentava ao lado de Paulo César Pinheiro na casa paulistana Vou Vivendo. Uma noite, que tinha tudo para ser igual às outras, ganhou um brilho especial por conta de uma das pessoas da plateia que, encantada com a voz da niteroiense, resolveu subir ao palco e dar uma canja. Era Elizeth Cardoso, uma das grandes damas da música brasileira. Aquela participação especial cresceu, tornou-se amizade, carinho e uma cumplicidade que durou até o fim da vida daquela que ficou conhecida como “a Divina”.

Passados 25 anos da morte de Elizeth, ocorrida em 7 de maio de 1990, Ithamara ainda lembra com saudade da madrinha artística que a ensinou tanto sobre como levar a carreira adiante. É por isso que ela preparou a homenagem Ithamara Koorax canta Elizeth Cardoso, espetáculo que chega este fim de semana a Fortaleza. Em três noites na Caixa Cultural, a intérprete – considerada pela Downbeat como uma das cinco melhores vozes de jazz no mundo – passeia por épocas diferentes da trajetória da homenageada, como o samba-canção, o sambajazz e a bossa nova.

“Elizeth foi e continua sendo essencial na minha vida. Então, eu precisava prestar meus agradecimentos dessa maneira, revisitando sua obra”, explica Ithamara, por email, sobre o show que celebra também seus 25 anos de carreira. Ainda pouco conhecida em seu país, a cantora de 50 anos é dos nomes fortes da música brasileira no exterior. Depois do selo de qualidade dado pela Downbeat, uma das principais publicações de jazz no mundo, ela mantém uma movimentada agenda internacional, tanto de shows como de gravações. Infelizmente, boa parte dessas gravações permanece inédita no Brasil, como Bim bom, o songbook que fez com as composições de João Gilberto.

É com essa experiência testada pelo mundo que Ithamara aborda um dos legados mais preciosos da música brasileira. Ela conta que a seleção de repertório foi complicada, diante das mais de cinco dezenas de discos lançados por Elizeth Cardoso. “Primeiro selecionei 60 músicas e fui peneirando até chegar às 30 canções divididas em blocos. Ao longo da minha carreira, gravei várias músicas do repertório da Elizeth, inclusive a faixa-título do disco Canção do amor demais (1958). Também incluí (no show) o samba Inquietação, que gravei com Elizeth no último disco dela”, explica a artista que precisou adaptar seu fraseado sereno e macio às canções passionais de Elizeth.

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Ithamara considera o dia em que conheceu Elizeth Cardoso como o primeiro prêmio que a música lhe proporcionou. O contato foi curto, já que amizade começou quando a Divina já estava bastante debilitada com o câncer de estômago. “Rolou uma angústia porque a Elizeth lamentava não ter mais tempo para me ajudar. Eu falava que tudo que ela havia feito já era o bastante. Muito mais do que eu poderia sonhar”, lembra a afilhada, que herdou uma imagem de São Brás, santo de devoção de Elizeth, e a lição de manter a liberdade artística acima de qualquer coisa. “Elizeth é o exemplo máximo de várias coisas que hoje estão fora de moda: ter voz, técnica vocal, postura elegante no palco”, sublinha Ithamara.

Serviço
Quando: sexta-feira (08) a sábado (09), às 20h; domingo (10), às 19h
Onde: CAIXA Cultural Fortaleza (Av. Pessoa Anta, 287 – Praia de Iracema)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). À venda no local
Telefone: 3453.2770

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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