CV (4)Se, atualmente, ainda parece improvável, há 35 anos, batizar uma banda como Camisa de Vênus era motivo para deixar muitas sobrancelhas suspensas e muitos olhares incrédulos. No entanto, foi esse o nome escolhido para o quinteto baiano liderado por Marcelo Drummond Nova. Filhos da geração roqueira dos anos 80, a banda fez história com uma postura explosiva, agressiva e afrontosa explícita em pedradas emblemáticas como Bete morreu, Eu não matei Joana D’Arc, Simca Chambord, Sílvia e Deus me dê grana.

Essas e todos os outros grandes sucessos do Camisa de Vênus, além de alguns rocks que passaram despercebidos, estão no set list que a banda preparou para comemorar essas três décadas e meia de transgressão e maus exemplos. No palco, além do vocalista e guitarrista Marcelo Nova e do baixista Robério Santana, únicos membros fundadores convidados para a festa, estão os guitarristas Drake Nova (filho do cantor) e Leandro Dalle, e o baterista Célio Glouster.

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Sobre a ausência de Eugênio Soares (guitarra solo), Karl Hummel (guitarra base) e Gustavo Mullem (bateria), Marcelo Nova diz que não quer mais comentar nada. Os músicos, presentes no álbum de estreia (1983), chegaram a reclamar do vocalista, que os impediu e usar o nome da banda numa série de shows que vinham fazendo com Eduardo Scott (ex-Gonorreia) nos vocais. “Esse assunto já está encerrado”, resume Marcelo, por telefone.

Tirando a questão com os ex-companheiros, o baiano de 63 anos se mostrou empolgado para falar sobre o convite do empresário para comemorar os 35 anos de uma das bandas mais desbocadas do rock nacional. “Quando o Valadão Júnior me chamou e disse ‘35 anos do Camisa de Vênus’, eu falei ‘puta merda, to velho pra cacete’”, brinca Marcelo, que, desde 1988, vem se dedicando à carreira solo que já rendeu sets discos, incluindo o inesquecível A panela do diabo (1989), dividido com seu guru Raul Seixas. “Eu ia nos shows na época do Raulzito e os Panteras. Quando eu vi um cara baiano, magro e esquisito como eu fazendo rock, ele me apontou um caminho”, conta.

Aliás, foi justamente Raul Seixas o pivô de outra polêmica que surgiu nos últimos tempos em torno do Camisa de Vênus. Em entrevista à revista Veja, Marcelo teria dito que Raul “bebia muito e às vezes não aparecia para as apresentações” marcadas para apresentar o disco em conjunto. A resposta veio através de um comunicado publicado no perfil oficial da banda baiana no Facebook, onde o vocalista se diz “surpreso” com a declaração. “Em todas as entrevistas que eu faço, e que o Panela do diabo é abordado, eu faço questão de dizer que, apesar do histórico pregresso de Raul, ele compareceu em todos os 50 shows que marcamos. Me senti mal de ver um artista da importância e magnitude de Raul, sendo colocado dessa forma na revista”, declara indignado.

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Passado o mal estar, o compositor volta a falar sobre sua banda que, décadas depois de Raul, também apontou caminhos para novos roqueiros dispostos a soltar os bichos no palco. Um dos exemplos mais notórios foi o Charlie Brown Jr, que convidou Marcelo para participar do Acústico MTV (2003). “O Chorão era um grande amigo. Um cara de temperamento explosivo, mas tinha uma admiração e um respeito que fez ele se aproximar de mim. Era um meninão de coração enorme”, relembra sobre o parceiro que voltou a encontrar na gravação da faixa Coração satânico, registrada no álbum Música popular caiçara (2012), da banda de Santos. Poucos meses depois do encontro, Chorão morreu de forma trágica.

Apesar dos elogios registrados pelo Charlie Brown Jr, Marcelo Nova se esquiva de ser uma influência para novas bandas. Por outro lado, ele sabe que a linha politicamente incorreta de sua banda fez história ao longo desses 35 anos. “Elementos como sarcasmo e ironia desapareceram do convívio social. As pessoas levam tudo ao pé da letra. Houve uma diminuição na capacidade de assimilar pensamentos”, protesta o músico que não teve problemas de chamar a “Sílvia” de “piranha” ou de espetar os adventistas, ainda na década de 1980. No entanto, apesar dos tempos mais chatos, ele conta que não sente saudade de nada em relação à década áurea do Camisa de Vênus. Mas, faz uma ressalva. “Antes, eu entrava num carro e ia direto, acelerando. Hoje, dói as costas. Acho que é um bom exemplo”, brinca.

Serviço
Quando: hoje (15), às 21h
Onde: Teatro RioMar (Rua Desembargador Lauro Nogueira, 1500 – Papicu)
Quanto: R$ 120 (plateia alta), R$ 150 (plateia baixa b) e R$ 170 (plateia baixa a). À venda em pelo Ingresso Rápido
Classificação etária: 14 anos
Telefone: 4003.1212

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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