Por Paulo Renato Abreu (paulorenatoabreu@opovo.com.br)

silva_remixpremiere_splash650Foi com violino à mão e “cabeça de DJ” que Silva chegou até Portugal como convidado para cantar na final do X-Factor, programa de grande audiência na Europa. No Brasil, os dois discos dele, Claridão e Vista pro Mar, são sucessos de crítica e os fãs do capixaba conseguiram, por meio do financiamento coletivo, bancar shows dele em cinco capitais nordestinas no mês de junho. Atração no Anfiteatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura na última quinta-feira (4), Silva fala por email ao DISCOGRAFIA sobre rótulos, carreira internacional e a relação com a gravadora (Slap, da Som Livre).

DISCOGRAFIA – Silva, você tem conseguido marcar shows nas capitais nordestinas com o apoio dos fãs. Para você, como o financiamento coletivo e outras formas de participação do público tem alterado a relação entre artistas e admiradores?
Silva – Sempre achei a idéia de financiamento coletivo muito interessante e já participei de algumas campanhas para trazer o show das bandas que eu gosto. Fiquei muito feliz quando vi que todos os shows tinham fechado e que iriam acontecer. É uma recompensa enorme saber que em algumas cidades que você nunca passou tem pessoas com vontade de te ouvir ao vivo. Eu gosto de ter uma relação próxima com as pessoas que admiram o meu trabalho. Alguns eu conheço pelo nome e até sinto falta quando não vão a algum show. Hoje a gente tem tantas ferramentas que só fica longe do seu público quem quiser.

DISCOGRAFIA – A imprensa fala de uma nova geração da música brasileira e agrupa nomes como você, Cícero, Tulipa Ruiz, Clarice Falcão e outros. De fato, existe essa “nova MPB”? Há diálogo entre vocês?
Silva – Não sou um grande fã desse termo, mas é fato que temos vários artistas fazendo a música brasileira de hoje, mesmo que ela não seja mais tão popular assim. Eu tenho vários envolvidos com a tal “nova MPB” e acho que todos nós ainda estamos tentando entender o que significa de fato esse rótulo.

DISCOGRAFIA – Em especial em Vista pro Mar, seu som ganha ares de música eletrônica de décadas passadas e, mesmo não óbvio, seu trabalho é sucesso de crítica e público. Para você, o que torna seu trabalho pop?
Silva – Não sei explicar, nem te dizer uma fórmula, mas sei que gosto de me comunicar com as pessoas atrás da música. Venho de uma formação musical erudita e sempre convivi com pessoas que faziam música para satisfazerem seus egos e eu nunca quis ser isso. Meus compositores prediletos sempre tentaram entender a geração deles, o momento histórico que viviam e como contribuiriam para a produção musical de suas épocas. O que eu gosto é de fazer as coisas do meu jeito, de ser sincero e de fazer uma música que as pessoas possam entender e sentir prazer com ela. Acredito que isso funciona.

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DISCOGRAFIA – Há quem tenha preguiça e rotule os trabalhos musicais de “cult” ou de “hipster”. Você se incomoda com essas nomenclaturas? Para você, rótulos fragmentam e/ou distanciam o público?
Silva – Acho natural essa necessidade de rotular, principalmente o que é diferente do que se vê ou do que se ouve todos os dias. Por acaso existe rótulo mais engraçado que “alternativo”? Não caracteriza estilo musical algum e é extremamente genérico. Eu gosto de música pop e nunca tive preconceito com isso. Eu só não gosto de estereotipar meu trabalho ou de me fantasiar de alguma coisa que eu não sou. Como um “cantor de MPB”, eu provavelmente deveria me vestir de uma forma colorida e até tropicalista, mas escolhi fugir desse padrão e acho que esse caminho não tem volta. O mundo produz cada vez mais artistas e por bem ou por mal, rótulos são importantes para chamar atenção, atrair público e criar nichos.

DISCOGRAFIA – Você já se apresentou em programa de grande audiência em Portugal, o que tem te marcado nessas andanças internacionais?
Silva – É legal ver o que sua música causa em lugares tão diferentes. Em Portugal, eu senti que as pessoas gostavam bastante das partes mais melancólicas do meu trabalho. Já no Japão, percebi que eles estão sempre à procura de elementos que quebrem o que é óbvio e me elogiavam por tentar me afastar dos clichês da música brasileira. Essas experiências fora do país me ajudaram a abrir minha mente e a enxergar as coisas interessantes e ricas que existem espalhas por aí. Tenho um orgulho enorme de ser brasileiro mas nunca quis me limitar a fazer apenas o que é de raiz ou folclórico. Gosto da diversidade que existe no mundo.

DISCOGRAFIA – Você lança pela gravadora SLAP, mas produz os discos na própria casa, como é essa relação entre o lado “independente” e o lado “de gravadora”?
Silva – Quando a SLAP me procurou e me ofereceu um contrato eles já sabiam como meu trabalho era feito, pois eu já tinha um EP rodando pela internet. Eles sempre foram cuidadosos com isso e a única exigência que me fizeram era que eu continuasse a fazer um trabalho bom, independente de ser feito em casa ou num grande estúdio. Hoje eu produzo como um artista independente mas tenho o aparato técnico e burocrático de uma gravadora que entende o que eu faço. Acho que dei sorte! (risos)

DISCOGRAFIA – No seu próximo single, você reúne Lulu Santos e o fortalezense Don L, como nasceu essa parceria e o que esperar?
Silva – As minhas parcerias sempre vêm de uma atitude “cara de pau”. Eu sempre gostei do trabalho do Don L e na minha opinião ele é o melhor rapper brasileiro do momento. Eu estava em Tóquio numa academia de música da Red Bull e lá meus amigos eram unânimes ao dizer que a música precisava de um rapper, e era exatamente o que eu imaginava para a música. Eu logo pensei no Don L. Depois de algumas semanas eu soube que o Lulu gostava do meu trabalho e resolvi mandar um e-mail para ele com a versão demo da música e o convidando para participar. Foi uma surpresa quando ele me respondeu 20 minutos depois topando gravar comigo. Sempre usei a regra do “o não eu já tenho” e acho que se você faz seu trabalho com carinho as coisas acontecem. A música não vai ser tocada em Fortaleza, infelizmente. Mas na próxima vez eu toco sim e espero que com o Don L junto!

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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