FOTO PARA CONTRA CAPA CDPassando pelo microscópio a carreira de qualquer artista brasileiro, beira o impossível encontrar um que não tenha flertado com o samba. Seja se entregando com vontade ou apenas fazendo uma visita passageira, muitos compositores dos mais variados estilos já encontraram no pandeiro e no tamborim o molho ideal para seu cardápio musical. Foi isso que aconteceu com o compositor Rogério Soares, fisgado pelo samba que ele agora homenageia no disco Para o meu amor cantar.

O fortalezense de 56 anos já conhecia a importância do samba como muitos brasileiros conhecem. No entanto, há 15 ou 20 anos, ele morou no Rio de Janeiro e teve oportunidade de se tornar mais íntimo do ritmo mais brasileiro. Acompanhado de Luiz Melodia, Rogério subiu o morro do Estácio, conhecido como “o berço do samba”, e viu de perto o impacto que a batucada provoca nas pessoas. Chegou a ser convidado para uma festa com a nata dos compositores da comunidade. Com muita música, comida e bebida, a comemoração só acabou três dias depois.

Trabalho que já vinha sendo arquitetado na cabeça do compositor, Para o meu amor cantar começou a tomar forma há um ano e meio ou dois. “O desafio era fazer um trabalho de samba sem perder a continuidade do que eu vinha fazendo”, comenta Rogério, que até já gravou samba, mas nunca havia dedicado um disco inteiro ao estilo. Quando decidiu que era a hora, reuniu alguns amigos na empreitada. A base sonora foi feita ao lado do virtuose das cordas Carlinhos Patriolino e de Thiago Almeida, um dos melhores pianistas cearenses da atualidade. Em seguida, juntaram-se nomes como Hoto Jr, Manassés, Adelson Viana, Mimi Rocha e outros.

CAPA CD FINALCom exceção da ensolarada Dedos da delicadeza, parceria antiga com Dunga Odakam resgatada do baú de inéditas, todo o repertório foi feito especialmente para este novo disco. Parceiro constante de muitos projetos, Odakam também divide faixas como a chorosa Casa bela e Relógio do universo, bolero inspirado em Elis Regina (1945 – 1982). Outra presença frequente em Para o meu amor cantar é Raquel Nicolau, letrista em cinco faixas. É dela, por exemplo, a faixa de abertura Tá na hora do samba, que nasceu, curiosamente, por conta de um atraso a caminho de um samba. Também são dela os versos do notívago samba-canção Alma de menino (“Vem feito um sol no céu da noite. Clareia a escuridão por onde o amor se esconde”), ainda enfeitada pelo trompete de Hugo D’Leon.

Mais novo 14 anos que o irmão Ednardo, autor do Pavão Mysteriozo, Rogério nasceu em ambiente musical, presenciou saraus do Pessoal do Ceará e integrou o time do álbum Massafeira. Sozinho ou ao lado do irmão Régis, gravou cinco álbuns, participou de projetos especiais e fez muito show no Brasil e no exterior. Com o novo capítulo escrito em Para o meu amor cantar, ele precisou frear a produção de sambas que começou a vir em grande volume. “Ficaram muitas coisas de fora. Mas, é bom por que a seleção (do disco) ficou com uma liga muito legal”, avalia o cantor que agora planeja registrar o novo show em DVD. “O samba é um signo agregador. Ele reúne pessoas simples com outras sofisticadas. Até quem não gosta, tá ali batendo o pé”, aponta.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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