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Uma maratona de bandas de rock vai passar por Fortaleza neste domingo. Trata-se do I Festival Fortaleza Marginal, que contará com a presença das bandas Jonnata Doll & os Garotos Solventes , A.s.s.a.l.t.o Ao Céu, Plastique Noir, maquinas, Dago Red, Januei, Intuición e Monquiboy-boo e DJ´s. Além da música, o evento conta com gastronomia e um brechó. Importante: a renda do brechó será entregue ao músico Edson Van Gogh, para que ele compre novos pedais. Os dele foram esquecidos dentro de um táxi por dois amigos, que não sei se querem se identificar. O Festival acontece neste domingo, 13, a partir das 16h, no Casarão do Benfica (Rua Carapinima, 1884 – Benfica). Os primeiros 100 ingressos custarão R$5. Em seguida, passa para R$ 10.

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Jonnata Doll, dos Garotos Solventes

Jonnata Doll, um dos organizadores do I Festival Fortaleza Marginal conversou com o DISCOGRAFIA por email sobre o evento, a cena musical do Ceará e a temporada que os Garotos Solventes estão passando em São Paulo. Confiram.

DISCOGRAFIA – Como nasceu a ideia para o evento deste domingo?
Jonnata Doll – A ideia nasceu depois que vi uma playlist de bandas cearenses no facebook que alguém postou. Mas eu vi que aquela playlist não tava abarcando uma cena que eu vejo, mais coerente, ou seja pessoas vivendo um estilo de vida comum, compartilhando o mesmo espaço urbano. E ai pensei numa playlist que representasse essa cena, e aí consequentemente pensei: “posso fazer um festival com essas bandas.” Chamei meu amigo de longa data, o cineasta Andre Moura, e organizamos o festival com ajuda do Tiago do casarão do Benfica, local da festa. O casarão um lugar que ta aí na resistência, aberto a idéias.

DISCOGRAFIA – O I Fortaleza Cidade Marginal é formado somente por bandas de rock. Essa cena é unida? É fácil articular eventos com as bandas locais?
Jonnata Doll – A maioria é rock. O Intuición é eletro, mas tem uma atitude punk para caralho, mas tem o Januei, que é uma banda com toques regionalistas. O maquinas tem uma proposta lowfi. Mas, apesar das diferenças, é uma galera unida e mesmo as bandas distantes por contextos de vida diferentes, tem uma aproximação no som. O Dago Red, por exemplo, é influência para mim e outras bandas que estão no festival. Esse é um momento que não tem espaço para desunião, até por que é algo espontâneo, cena não se fabrica. Mas, como estou distante e não convivo com a galera, sé posso dizer que foi muito fácil articular.

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=Sm7dRwyopGE[/youtube]

DISCOGRAFIA – A ideia do evento é chamar atenção para uma cena musical em crise. Queria que você me falasse dessa crise. Onde estão os principais problemas e quais seriam os caminhos para uma melhoria?
Jonnata Doll – Essa história de crise. É papo do André. Na verdade, tem muita banda boa na Cidade, veteranas e novas. Mas não há espaço para fazer show, fica todo mundo dependendo do governo, ou movimentos organizados, como Fora do Eixo, para se articular. Mas é preciso ter casa de show, bares, para as bandas circularem de forma independente e cultivarem seu público e, principalmente, ocuparem e fazer acontecer na Cidade toda. Tem coisas rolando no Bom Jardim, no Pirambú. Mas tem que ser muito mais. O Centro, por exemplo, precisa ser ocupado com mais shows. Acho que a Prefeitura podia pegar leve com os bares e casas de show independente. As leis ambientais, às vezes, acabam indo contra a cultura, no momento que impede um lugar underground de fazer um som.

DISCOGRAFIA – Vocês já estão há um bom tempo morando em São Paulo. Como tem sido essa experiência? Já pode fazer um balanço sobre os frutos que colheram?
Jonnata Doll – Estamos fazendo em Sampa o que fizemos aqui. Vai levar muito tempo para construir um público como o nosso aqui. Mas estamos indo. É um longo caminho até o topo se quiser fazer rock, mas não há outro caminho, pelo menos para mim. Mas Sampa tem o fato de estar perto de outros lugares. É estratégico. Então, estamos tocando em BH, Rio de Janeiro, conhecendo artistas de todos os tipos e trabalhando com eles. Os shows no Sesc Pompéia, o Show Livre apresentado pelo Clemente (Inocentes), shows em puteiros da antiga boca do lixo, shows no Puxadinho da Praça, que é o espaço em Sampa equivalente ao CBGB para cena atual de musica underground paulista (e é gerenciado pelo incrível Tubarão o melhor dono de bar do mundo). São os pontos altos.

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=B88BhyeWJVI[/youtube]

DISCOGRAFIA – Como você compara o cenário paulista com o cearense em relação ao trabalho autoral. Quais as principais diferenças?
Jonnata Doll – A cena paulista tem muita coisa boa, o Tata Aeroplano, Gustavo Galo, Tigre Dentes de Dabre, Rafael Castro, Juliana R, são meus prediletos. Mas eles estão além do rótulo rock. Em matéria de rock, acho as coisas muito estereotipadas, em geral. As bandas de rock cearenses, como Verônica (Decide Morrer) e Glauco King, transpiram uma verdade, que você não sente lá.

DISCOGRAFIA – O disco de estreia dos Garotos Solventes já completou um ano. Como tem sido a resposta do público e como foi a recepção ao trabalho aí no Sudeste?
Jonnata Doll – Quanto ao disco, ele ainda ta correndo. Chegou agora nas lojas, como a Livraria Cultura. A (gravadora) Tratore ta distribuindo ele. Ta no Spotify, I Tunes, Deezer. Vejo muita gente que se identifica com as letras, com as mazelas ali, e ele ta servindo de contra-ponto ao rock caretão e másculo que ta pegando no momento. Acho que já chega a hora do próximo disco finalmente. Estamos vendo a melhor maneira de soltar ele, estudando possibilidades de selo, que chegam até nós. Inclusive uma gravadora grande. Mas, hoje em dia, um selo menor, bem empenhado, pode fazer um trabalho melhor que uma major desinteressada.

DISCOGRAFIA – Trabalho árduo, distância de casa e outros fatores costumam causar problemas em bandas depois de um tempo. Como está o clima dos Garotos Solventes em São Paulo? E como é a vida de vocês aí? Moram juntos, trabalham que dias, estão só com a banda ou estão com outros projetos?
Jonnata Doll – Eu e o Edson moramos em uma quitinete com o Biagio Recifense, que é meu parceiro em algumas músicas novas e também diretor da peça de teatro que eu e o Edson estamos compondo a trilha e atuando. O Leo mora com parte da Verônica Decide Morrer a alguns quarteirões.de distância. Estamos morando no centro, perto da República, área de michês e travestis e imigrantes nigerianos. Essa vivência e sufocos – às vez passamos dias comendo cuscuz berinjelas e ovos – nos aproxima bastante. Temos vivido a cidade de forma intensa, o wildside. O Saulo, já mora em Itaquera, na Zona Leste, longe para caralho com a mulher e filho. Ele trampa como tradutor numa agência de câmbio e às vezes em hotéis. Ultimamente, estamos fazendo teatro. A peça “Aquilo que me arrancaram foi a única coisa que me restou” une literatura beat e rock, num texto autoral e maldito. Fizemos um filme também, com o Dellani Lima, um sujeito beat e inquieto que já tem uma longa filmografia marginal. O filme é um longa baseado em num texto meu sobre a desintoxicação de morfina em meio a passagem do hercólubus, o planeta vermelho sem órbita (que vai detonar a terra ao passar perto dela em breve) que alguns fanáticos acreditam existir.

DISCOGRAFIA – O Dado Villa-Lobos continua sendo um nome muito próximo dos Garotos Solventes. Como tem sido essa aproximação com o ex-Legião?
Jonnata Doll – O Dado e a gente têm muitas referências comuns, a música punk e tal. No segundo disco tem contribuições dele. Gravamos imagens para um videoclipe juntos, que também vai estar na trilha do filme que eu fiz.

DISCOGRAFIA – Quais os planos de vocês para um futuro próximo?
Jonnata Doll – Recentemente fui chamado para cantar com a legião no show de comemoração aos trinta anos do primeiro disco e isso vai ser do caralho, legião urbana, o primeiro disco, foi muito influente para mim, na época que tava começando a compor.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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