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Nos anos 1970, o samba vivia um tempo de boas vozes, arranjos modernos e grande popularidade. Era a bola da vez combinando qualidade e boas ideias. Foi a época do reinado de Clara Nunes, Beth Carvalho e Alcione, bem como do surgimento de ótimas desconhecidas como Renata Lu e Gisa Nogueira (irmã do João Nogueira). É a essa época que remete o segundo disco de Simone Lial.

Começando pelas apresentações, Simone é carioca de Ramos, onde cresceu ouvindo as histórias e melodias do bloco Cacique de Ramos. Filha de uma família de músicos, ela integrou o grupo Goiabada Cascão e fez parte da movimentação que deu nova vida à boemia da Lapa – mesma movimentação que nos presenteou com Teresa Cristina, Casuarina e outros nomes. Depois de muitos shows em casas cariocas, ela lançou o disco O amor daqui de casa em 2013.

Minha apresentação a esta moça de boa voz veio com o segundo disco: E toda dor que sofri será canção. A afinação é natural, sem forsação de barra. Essa moldura vocal embeleza os quadros poéticos compostos especialmente para ela. O repertório inédito (creio eu) foi todo composto por Maurício Maturo e Leo Maturo, com exceção de uma parceria deles com Simone (A paixão de um aprendiz) e outra com o produtor do álbum Fernando Brandão (Um amor tão delicado).

Se for para destacar uma faixa, fico com Da cor do mar, samba chorado que Simone canta graça e emoção. Ouvindo (agora) mais uma vez, também me encantei por Lá no meu sonho (“A melhor das namoradas não chega aos pés da madrugada e do amanhecer”), o que mostra que há mais por ser descoberto neste disco. No entanto as demais 10 faixas seguem numa linha de qualidade que faz de E toda que sofri será canção um aceno entre tantos outros discos que tentam copiar as fórmulas de Roberta Sá (que já andou se afastando do samba) e outras pseudo-neo-divas. Simone ganha destaque por revolver o terreno do samba em busca do som do verdadeiro tamborim e cavaquinho. Não, não há novidade nem vontade de renovar o gênero. Por isso é que é bom.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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