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Existem duas formas de você se aproximar do som do Curumin. A primeira, para os menos atentos, é através dos discos e shows de nomes como Arnaldo Antunes e Karina Buhr. Vale consultar sua discografia indie: ele deve estar tocando bateria em algum dos discos. Outra forma é através dos seus discos autorias, que já são três. Há ainda uma terceira via, que é conferir o show que o paulistano de 39 anos, cujo nome de batismo é Luciano Nakata Albuquerque, traz este fim de semana a Fortaleza. Em cartaz na Caixa Cultural (Ingressos: R$ 20 e R$ 10), a estreia foi ontem, e segue com mais duas apresentações, hoje, 3, às 20h, e amanhã, 4, às 19h. Acompanhado de um super time formado por alguns dos principais nomes da cena independente nacional – Zé Nigro, Lucas Martins, Gui Amabis, Edy Trombone e Ricardo Hertz – Curumim apresenta o repertório do disco Arrocha, lançado em 2012 elogiado desde então. Por email, o músico conversou com o DISCOGRAFIA. Confira.

DISCOGRAFIA – Como será o show em Fortaleza? Quem te acompanha no palco?
Curumin – O show em Fortaleza vai ser baseado nos três discos que eu tenho e a formação é um trio: eu, na bateria e cantando, José Nigro no baixo e Lucas Martins na guitarra.

DISCOGRAFIA – Você já esteve outras vezes em Fortaleza. O que te marcou na cidade?
Curumin – Bom, além de eu estar outra vez na Cidade, eu tenho vários amigos aqui em São Paulo que, além de serem bons amigos, são aí de Fortaleza e são músicos muito impressionantes. Eu fico até pensando em Fortaleza como uma escola de música, mesmo, porque Fernando Catatau, Régis Damasceno, Rian, Dustan Gallas, até o Saulo, que não é daí, mas cresceu aí, Saulo Duarte. São músicos excepcionais e excelentes e que têm também uma qualidade técnica diferente, uma tranquilidade pra tocar e isso eu guardo bem forte de Fortaleza.

DISCOGRAFIA – Dessa vez, você apresenta o show do disco Arrocha. Queria que você me descrevesse esse novo trabalho.
Curumin – Bom, o Arrocha é um disco que foi feito aqui em casa, ele foi feito de uma maneira bem simples, mas bem efetiva, bem objetiva. A gente tentou usar o mínimo de coisas possíveis pra tá soando bem, tentou usar o mínimo número de instrumentos, de canais. Foi bem pensada a coisa das músicas também, a gente começou com umas oito músicas e depois foi ouvindo e, a partir daquilo, a gente sentiu o que tava faltando e foi buscando outros tipos de música e eu acho que esse disco vem nessa ideia que eu tenho explorado de fazer a música popular através dos diálogos com os softwares, os hardwares, a música eletrônica… E também uma tentativa de achar denominadores comuns entre vários ritmos, que são ritmos que a gente convive diariamente, desde o samba até o soul, até o funk carioca, até o arrocha, o maracatu, o reggae. Tudo isso tentando achar um denominador comum entre todas essas vertentes.

DISCOGRAFIA – Arrocha já tem três anos de lançado. O que mudou na sua relação com esse trabalho ao longo desse tempo? E na execução ao vivo, o que mudou nesse tempo?
Curumin – Ah, a coisa do ao vivo na verdade, na verdade, a gente tem feito há mais de três anos. A formação que a gente tem agora nesse trio e nesse esquema que a gente faz, com muitas máquinas no palco, isso a gente vem consolidando já faz uns dez anos. Então, é um show já bem maduro, bem sintonizado. Tem uma sintonia muito grande entre todos os músicos, a gente tá sempre tocando bem junto, tentando soar como uma coisa só, e eu acho que a gente consegue, porque esses dez anos trouxeram essa unidade, e também o show agora tem uma espontaneidade, cada dia sai de um jeito. A gente dá muita margem pra poder mudar as coisas no meio do show, é uma coisa que a gente queria desde o começo, que é esse uso orgânico das máquinas. A gente tá sempre tocando com as máquinas, mas a gente chegou num ponto bom de tocar com as máquinas de uma forma orgânica.

Capa do disco Arrocha

Capa do disco Arrocha

DISCOGRAFIA – Mesmo com mais de 10 anos de carreira, você ainda é um artista pouco conhecido entre o grande público. O que pensa disso? Incomoda?
Curumin – Olha, incomoda, claro, mas também sou muito orgulhoso com o que eu já conquistei. Tive poucas, mas importantes conquistas que me deixaram muito feliz. Eu sei que a música é um caminho muito longo e eu nunca tive pressa de reconhecimento e espero que se meu trabalho tiver alguma importância nesse mundo, que ele vá ser reconhecido.

DISCOGRAFIA – Conheço, tenho e gosto muito do JapanPopShow, disco em que você trabalha com Marku Ribas. Como aconteceu essa parceria e como foi trabalhar com ele?
Curumin – Ah, o Marku é um cara excepcional. O Marku marcou, desculpa o trocadilho besta. Ele foi um artista que eu sempre admirei muito e quando eu comecei a conhecer ele e ver ele tocar, ver fazer as coisas ao vivo, eu fiquei maluco porque ele é o tipo de artista muito visceral, de uma qualidade extraordinária: cantava muito bem, tocava bateria, tocava violão, tocava percussão. É um cara que vivia e respirava música em tudo que ele fazia e chamar ele foi muito natural. Além de ser um grande amigo também era um cara muito legal. É aquela coisa da velha guarda: um cara já experiente, que já viveu muita coisa, já rodou por muitos lugares, conheceu muita gente. Enfim, foi um prazer muito grande, é uma pena ele ter ido embora, queria ter feito mais coisas. Ficou um gosto realmente de querer fazer mais coisas com ele.

DISCOGRAFIA – Sua última vez em Fortaleza foi com o show em homenagem ao Bill Withers. Queria que você falasse desse trabalho. Como surgiu, com que frequência apresenta e o que tem mudado desde a primeira vez que fez esse projeto.
Curumin – Olha, a homenagem ao Bill Withers a gente não fez muitas vezes, a gente deve ter feito uns quatro ou cinco shows desse jeito, nesse formato. É um show que é muito bacana de fazer porque é um disco lindo, é um disco clássico que a gente toca, que é o Still Bill. Teve momentos especialíssimos como o show aí em Fortaleza, o show na Virada Cultural aqui em São Paulo. Mas eu acredito que a homenagem tem um pouco disso, é uma coisa efêmera. Eu gosto de fazer, eu acho legal, é interessante fazer porque é sempre um estudo pra gente e a gente sempre se aprofunda um pouco mais na música e em outras formas de expressão, mas eu acho também que não dá pra ficar vivendo disso, fazendo só isso. Eu tenho outros focos aqui, isso é mais pra dar um respiro, vir outras coisas, brincar com outras formas de fazer música.

DISCOGRAFIA – Ano passado você foi uma das atrações da Mostra SESC Cariri de Culturas, no interior do Ceará. O que lembra desse show? Queria que você falasse sobre a oportunidade de se apresentar em cidades menores, pelo interior do Brasil. Imagino que não seja frequente.
Curumin – Eu nunca vou me esquecer desse show. Foi um show muito especial, ao ar livre, de graça, na praça, tava cheio, as pessoas cantavam, dançavam. Foi muito especial, foi uma noite muito legal, fiquei muito feliz com aquele show. Eu, nesses um pouco mais de 10 anos de carreira, tenho feito bastante shows pelo Brasil e, inclusive, pelos interiores. Lógico que interiores sempre um pouco menos, mas sempre que pode eu faço. A gente tem um esquema que é simples, essa coisa de tocar em trio não demanda muita logística pra fazer show nos lugares. Eu adoro fazer show no interior, sempre que posso eu vou porque, às vezes, os interiores são mais carentes que os grandes centros e é muito importante fazer show nesses lugares porque você traz coisas diferentes, você troca, você vem de outro lugar, leva outras ideias, outros sons e isso sempre produz coisas muito legais. E é aquela coisa, eu viajo pelo Brasil há muito tempo e eu vejo que tem diferentes níveis de estímulo cultural e quanto mais tiver estímulo cultural em todos os lugares do Brasil mais esse País vai crescer e vai se transformar.

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DISCOGRAFIA – Além do trabalho próprio, você acompanha uma série de artistas como baterista. Como você se relaciona com isso? É uma carreira paralela? Tem vontade de parar, para se dedicar só ao trabalho autoral?
Curumin – Eu nunca pensei em parar pra me dedicar só ao trabalho autoral. Lógico que hoje em dia eu faço bem menos desses trabalhos só como baterista por causa do tempo e da dedicação que eu preciso pro meu trabalho, mas o fato é que eu gosto de trabalhar como músico também, é uma experiência diferente, uma experiência de também buscar a sonoridade de outra pessoa, você tenta ficar explorando as ideias de outra pessoa e eu acho isso muito legal, tentar vivenciar a música através de outra pessoa, eu aprendo muito com isso. É sempre uma aprendizagem poder me colocar nos ouvidos do Arnaldo Antunes, do Rodrigo Campos, do Russo Passapusso. São trabalhos que eu gosto muito de fazer e que eu não vou deixar de fazer tão cedo.

DISCOGRAFIA – Já existe um sucessor para o Arrocha em vista? Planos para um novo trabalho, projeto?
Curumin – Eu to começando aqui, agora nesse final de ano eu comecei a fazer só três músicas. A princípio eu ia fazer só um EP mesmo, mas aí é aquela coisa: começa a fazer um EP e começa a se animar pra fazer o disco todo, rs. Então a gente tá aí, botando lenha nessa fogueira, já tamos gravando algumas coisinhas e tal, e imagino que pro meio do ano que vem deva tá sendo lançado.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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