bendito samba (2)O dia mesmo foi quarta-feira, 2 de dezembro, quando se celebrou o Dia do Samba (a data se refere à primeira vez que Ary Barroso visitou a Bahia). No entanto, todo dia é dia de lembrar a importância dessa manifestação cultural que tornou-se nosso principal produto de exportação. Dos quintais aos palcos de teatro, o samba foi se modificando, ganhando espaços, mas nunca deixou de ser um instrumento de resistência de uma cultura que vem de longe.

Essa história pode ser conhecida melhor a partir de hoje, com o espetáculo Bendito Samba, que estreia na Caixa Cultural. O show vai costurar cerca de um século de canções de nomes como Noel Rosa, Assis Valente e Ismael Silva. Quem comanda essa viagem é Pedro Miranda e Nina Wirtti, jovens sambistas ligados à revitalização boemia do bairro carioca da Lapa. Ao lado deles, como convidado especial, mestre Monarco, portelense responsável por um dos capítulos mais gloriosos da história do samba.

“O Brasil todo acompanhou esse movimento de renovação do samba. Houve um resgate muito grande de samba, choro, frevo, maracatu, de voltar às origens. Hoje, isso vem dando fruto com novos instrumentistas e compositores. Vamos mostrar esse panorama, da obra mais tradicional à produção contemporânea”, detalha Pedro Miranda por telefone. Assim como faz Nina Wirtti, ele já está acostumado a misturar a nova e a velha guarda do samba monarco (4)em trabalhos solo. Isso ajudou à montagem do repertório de Bendito Samba. Com a chegada de Monarco e seus mais de 60 anos de Portela, o resultado ganhou ainda mais força.

Nascido em 1932, Hildemar Diniz era muito jovem quando ganhou o apelido de Monarco. Depois de mudar, para o bairro de Oswaldo Cruz, ele conheceu os compositores da escola azul e branca e tornou-se membro da sua ala de compositores. Com dezenas sucessos nas vozes de Zeca Pagodinho, Beth Carvalho e outros, ele é responsável por maravilhas como Vai Vadiar, Coração em Desalinho e Lenço. “O Monarco é um dos maiores representantes do samba. Ele acabou de lançar um disco de músicas inéditas, não vive só da obra pregressa”, destaca Pedro, apontando que a relação com o portelense nasceu como reverência e tornou-se parceria.

Além de Monarco, Pedro Miranda lembra que sua geração veio com vontade de valorizar os grandes nomes da história do samba e, ao mesmo tempo, apresentar novidades. Ele, Moyseis Marques, Teresa Cristina, Ana Costa e a banda Casuarina fazem parte dessa turma ganhou fama com o movimento que fez o público voltar a frequentar a boemia da Lapa no final dos anos 1990. Embora ache que essa requalificação se perdeu depois de um tempo, ele comemora o fato de encontrar núcleos de sambistas em todos os lugares do Brasil. “Hoje, o samba voltou a estar inserido na nossa cultura de uma forma mais ampla. Luiz Melodia, Zélia Duncan, Gilberto Gil fizeram discos de samba. O Caetano não fez um disco de samba, mas que dialoga com o samba. Até a bossa nova é meio samba, misturada com o jazz. O samba, antes era coisa de pobre e, agora, ganhou um lugar que merecia”, comenta.

Serviço:
Musical Bendito Samba
Quando: hoje e amanhã, às 20h; domingo, 6, às 19h
Onde: Caixa Cultural (Av. Pessoa Anta, 287 – Praia de Iracema)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Telefone: 3453 2770

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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