FILIPE CATTO CANTA CASSIA ELLER _ 18-04-15-13No segundo semestre de 1990, uma versão de Por Enquanto, da Legião Urbana, com versos de I’ve Got a Feeling, dos Beatles, fez relativo sucesso nas rádios brasileiras. Levada só no violão, a versão chamou a atenção de algumas pessoas pelo tom melancólico e sentido que aquela voz transmitia. Poucos sabiam mesmo se era um homem ou uma mulher cantando, mas era Cássia Eller se lançando como cantora em seu disco de estreia.

Lá em Lajeado, Rio Grande do Sul, um garoto ouviu aquela voz grave e doce, e também se impressionou. Vinte e cinco anos depois, Filipe Catto, já estabelecido como uma das grandes vozes de sua geração, resolveu homenagear a cantora em um tributo que chega hoje a Fortaleza. No palco da Caixa Cultural, o gaúcho de 28 anos expõe as semelhanças e diferenças que tem com a garotinha atrevida que mostrava os peitos e cuspia durante os shows. Embora mais contido, ele também assume a porção roqueira e a admiração pela artista falecida em dezembro de 2001. Confira a seguir entrevista em que o cantor fala sobre como este tributo se reflete em seu trabalho autoral.

O POVO – Queria começar com a história desse show em homenagem à Cássia. Como nasceu, seleção de repertório, o que queria mostrar na obra dela.
Filipe Catto – Eu queria fazer uma homenagem sincera, de fã mesmo. Queria cantar aquele repertório que temos em comum, as músicas que eu poderia ter gravado, que têm a ver com minha voz também.

OP – Como você entrou em contato com a obra da Cássia? Lembra a sensação da primeira vez que ouviu?
Filipe Catto – Eu sempre adorei a figura da Cássia, da televisão, das rádios… Sempre achei ela muito autêntica! E aquela voz forte… Eu lembro de ouvir Por enquanto no rádio, nos anos 90, e de me encantar com aquela interpretação tão sentida. Depois fui conhecer Malandragem, ECT e me apaixonando pela versatilidade e o carisma da Cássia.

Foto 1 Crédito Pops LopesOP – Você é um homem de voz aguda. Cássia uma mulher de voz grave. De que forma essa contradição foi trabalhada na hora de transpor as músicas dela para sua voz?
Filipe Catto – Eu acho que isso foi o elo de ligação: essa estranheza, esse lugar da androginia. O fato das nossas vozes serem diferentes foi uma das coisas que eu me intensificava com a Cássia, e a verdade é que cantamos no mesmo tom. Não tive de transpor os tons das músicas. Nessa região intermediária entre o masculino e o feminino da voz rolou o encontro.

OP – Sempre percebi uma certa inclinação da sua música para o rock, mesmo que ainda tímida. Você tem vontade de mergulhar mais nesse estilo?
Filipe Catto – Eu venho do rock, né? Minhas primeiras experiências com a música são rock. Eu me tornei um intérprete, mas no início era um vocalista. Eu acho que o rock sempre vai estar no meu trabalho, como inspiração e inclinação, mesmo quando eu cantar um samba.

OP – Além da Cássia, quais suas referências no rock?
Filipe Catto – Toda a geração 80 e 90 do pop e do rock nacional me influenciou muito, porque eu ouvia a radio Pop, e esses caras tocavam lá. De Rita Lee a Lobão, eu adoro esse cancioneiro. Amo também PJ Harvey e Jeff Buckley, Stones, Doors…

OP – De que forma esse show em homenagem à Cássia dialoga com sua obra autoral? Tem vontade de registrar esse tributo?
Filipe Catto – Não tenho. Esse é um projeto que só se justifica no palco, é um show de um fã para seu ídolo. Esse repertório é definitivo na voz da Cássia, é uma delícia de cantar ele com a galera, mas hoje minha prioridade é me nutrir dessa energia para colocar na minha história. O Tomada é consequência desse show, com certeza. Sinto que ele só existe porque eu fiz o show em homenagem a Cássia. Nesse sentido, o show cumpriu esse papel.

OP – Cássia Eller tem um início mais roqueiro, mas encerrou a carreira numa linha mais calma, mais MPB. Você tem preferência por um desses lados do trabalho dela?
Filipe Catto – Eu adoro tudo, sabia? Adoro ela cantando “Rubens” e também adoro ela cantando Nando Reis. A Cássia era um monstro da voz, tudo que ela cantava era verdade.

OP – Sobre Tomada, como tem sido a repercussão desse novo trabalho?
Filipe Catto – To amando o Tomada! É um disco muito amado, com parcerias lindas… Sinto que estou num momento muito privilegiado, podendo trocar com as pessoas que eu admiro.

OP – Queria que você me falasse desse disco novo, que diferenças e semelhanças ele tem em relação ao Fôlego.
Filipe Catto – Eu acho que a essência é igual: é um disco de cantor, de intérprete. O que muda é a estética, a linha de repertório. O Tomada é um disco sobre amor nos dias de hoje, é um disco sobre 2015. O Fôlego é mais nostálgico, mas ambos são muito pessoais. São facetas diferentes da mesma pessoa.

OP – Depois de uma experiência bem sucedida com Dadi e Paul Ralphes, o que você queria do produtor Kassin para o novo álbum?
Filipe Catto – Queria que o Kassin me surpreendesse, que me trouxesse possibilidades novas. Queria me ouvir de uma forma nova, queria saber qual era o olhar dele e dos envolvidos sobre minha música. Acho importante tudo isso. O Tomada marca o início de uma época de parcerias na minha carreira. Eu sempre fiz tudo muito sozinho, precisava deste olhar pra poder dar uma reciclada e continuar a jornada.

OP – Seu disco de estreia saiu por uma grande gravadora. O que achou dessa experiência? Sendo o novo feito através de edital, você sentiu mais liberdade para trabalhar?
Filipe Catto – As duas formas são bacanas, eu não vejo o mercado como “gravadoras são do mal e o independente é do bem”, como as pessoas adoram separar. Trabalhar com o projeto na verdade traz muito mais responsabilidades, o que é maravilhoso porque o aprendizado é imenso. Eu acho que ter trabalhado com gravadoras me preparou para trabalhar independente neste projeto.

OP – 2016 já está chegando. Quais são suas expectativas para este novo ano?
Filipe Catto – Quero viajar muito, cantar muito e voltar logo pra Fortaleza com o repertório do disco novo!

Serviço:
Filipe Catto canta Cássia Eller
Quando: hoje, 17, a sábado, 19, às 20h; domingo, 20, às 19h
Onde: Caixa Cultural (Av. Pessoa Anta, 287 – Praia de Iracema)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Telefone: 3453 2770

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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