Por André Bloc (andrebloc@opovo.com.br)

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O Brasil, injustamente, já odiou Elza. Mulher forte, independente, combativa e que lutou contra os vícios do então marido, o jogador Garrincha (1933 – 1983), sem nunca fazer o papel de donzela que o País esperava de uma mulher negra e pobre. Com talento e esforço, no entanto, Elza se fez justiça até subir ao patamar de uma das maiores intérpretes da história da música brasileira. Sábado e domingo, ela chega à Fortaleza para, pela primeira vez, interpretar as canções inéditas de seu novo repertório. O show A Mulher do Fim do Mundo, baseado no CD homônimo, chega ao Teatro RioMar com a responsabilidade de suprir a expectativa por uma das apresentações mais celebradas do ano passado.

Com uma cadência quebrada de samba, sob arranjos recheados de rock, afrobeat e até violinos de música erudita, o disco mostra Elza por inteiro. Negra, forte, visceral e única. “Mulher do fim do mundo/ Eu sou e vou até o fim cantarrrrr”, versa na canção-título, com os “erres” puxados que fizeram sua fama. Em Fortaleza, a procura pela apresentação amanhã, às 21 horas, foi tanta que foi aberta outra sessão, no domingo, às 20 horas. O repertório conta com as 11 faixas do novo CD e mais quatro sucessos: Pressentimento, Malandro, A Carne e Volta Por Cima.

Para Elza, o CD é uma declaração pelo direito de expressão de minorias, que, espelhada em sua própria vida, é pautada na luta. “Hoje, eu acho que as mulheres se conscientizaram mais um pouco. É preciso falar mais, é preciso falar sempre. Eu me expresso eternamente como mulher, contra a homofobia, contra o preconceito”, defende, em entrevista exclusiva por telefone. Daí a força de versos como “Eu vou ligar prum oito zero/ Vou entregar teu nome (…)/ Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim”, da canção Maria da Vila Matilde, em eco com a Lei Maria da Penha.

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O projeto foi idealizado pelo produtor Guilherme Kastrup, diretor-geral do show, e traz Elza sentada em um trono em meio a um cenário com mil sacos de lixo. Para a cantora, que contracena com outros 15 artistas, A Mulher do Fim do Mundo foi um presente dado por Kastrup e o restante da produção. “Eles já tinham preparado tudo e precisavam de alguém para cantar e fui escolhida. É um presente, uma descoberta. E tudo muuuito bem montado e muito forte”, ressalta.

Parte dessa força vem da visceralidade da experiência. “Passa sempre um filme na minha cabeça. Passa a minha luta. Quando comecei a gravar, eu tinha perdido um filho. Eu não parei, mas essa dor, essa comoção, transparece de verdade”, fala, relembrando de Gilson, que faleceu em julho após um quadro de infecção urinária.

Emoção, força e voz, Elza garante um produto intenso no convite para uma apresentação única de um CD escolhido o melhor do ano pela Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA). “O CD é foda. É pra foder mesmo”, conclui, cheia de “esses” chiados, enquanto recita o título da quarta faixa do disco.

Serviço:
Elza Soares – A Mulher do Fim do Mundo
Quando: amanhã, às 21 horas, e domingo, às 20 horas.
Onde: Teatro RioMar (Shopping RioMar, Piso L3/ Rua Des. Lauro Nogueira, 1500 – Papicu).
Quanto: Plateia Alta: R$ 90 (inteira)/ R$ 45 (meia); Plateia Baixa B: R$ 120 (inteira)/ R$ 60 (meia); Plateia Baixa A: R$ 150 (inteira)/ R$ 75 (meia). À venda no link
Telefone: 4003 2051.​

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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