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Perdão pelo atraso de um dia, mas certos assuntos não podem passar em branco. Ontem foram comemorados os 75 anos de Roberto Carlos, talvez o maior astro da música brasileira. De fato, é uma data a ser celebrada, mas também nos obriga a colocar esse personagem em perspectiva.

Em 57 anos de carreira, Roberto tornou-se mais que um grande compositor e cantor brasileiro. Ele é um personagem da cultura brasileira, que gera discussões, mudou regras e mantém toda uma mitologia a seu redor.

Popular e sofisticado em doses diferentes, ele se transformou ao longo das épocas e conseguiu diferentes resultados. No início, tentou um caminho pela pilantragem e pela bossa nova, mas pouca gente lembra. Encontrou abrigo na Jovem Guarda e se transformou em ídolo da juventude com uma breve passagem pelo rock, embora fosse mais interessado em serestas e canções do rádio.

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O próximo passo foi absorver a black music que vinha dos Estados Unidos e fazer seus melhores discos ao longo da década de 1970. Mais velho, ele chegou aos 1980 como um Sinatra brasileiro, cercado por orquestras e canções de amor. Em toda essa estrada, uma enorme popularidade acompanhou o ídolo que manteve sem esforço o título de Rei.

Mas aí chegaram os anos 1990. A popularidade ficou e a qualidade começou a cair. Para o público gigantesco que lotava – e lota – estádios para ouvi-lo, ele passou e entregar canções falando sobre taxistas, gordinhas, mulheres de óculos e baixinhas. A clara posição populista gerou muita renda e empatia com parte dos fãs, principalmente aqueles que cabiam nas características descritas nas novas músicas.

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Nada contra o repertório popularesco e meio cômico, mas o que vem de Roberto merece uma cobrança maior. Sim, por que ele tem acesso aos melhores estúdios, músicos e compositores. mas a verdade é que, há mais de 30 anos, o Rei deixou a ousadia nas mãos do parceiro Erasmo Carlos e se encastelou num mundo ilusório, preguiçoso e repetitivo.

É bem verdade que o passado perdoa muitos dos pecados de Roberto Carlos. Mas é lamentável vê-lo como um autocover que canta com as mesmas canções com a mesma emoção há décadas. E ainda tem os especiais de TV, que hoje se limitam a ser vitrine de artistas populares que estão fazendo sucesso nas trilhas de novelas. Eles desfilam ao lado de Roberto, ganham uma história pra contar em revistas e partem sem impressionar ninguém.

Mas existe uma esperança quando se fala em Roberto Carlos: ele está vivo e é um intérprete espetacular. Sua capacidade de comunicar com as massas ainda é enorme. Por isso, ele poderia usar esses pontos em benefício próprio para construir novas parcerias, olhar para os novos compositores, construir novas pontes. Vê-lo ao lado de Jeneci, Samuel Rosa, Tulipa e tantos outros seria uma forma de abrir caminho para que tantos jovens conheçam o passado glorioso do Rei Roberto. Mas, como ele fecha os olhos para o novo, ficará conhecido pela jovem guarda como aquele cara que proíbe biografias. Sim, esse cara é o Roberto.

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=2prF3jC6H9M[/youtube]

Ranking do Rei (dados do Ecad):
Obras mais executadas nos últimos cinco anos:

1. Esse cara sou eu
2. Como é grande o meu amor por você
3. É preciso saber viver
4. Além do horizonte
5. Detalhes
6. Emoções
7. Sentado à beira do caminho
8. Gatinha manhosa
9. Eu te amo, te amo, te amo
10. Do fundo do meu coração

Obras mais gravadas:
1. Emoções
2. Como é grande o meu amor por você
3. Detalhes
4. Jesus Cristo
5. Sentado à beira do caminho
6. Se você pensa
7. Nossa Senhora
8. Proposta
9. Olha
10. Quero que vá tudo pro inferno

– Intérpretes que mais gravaram obras de Roberto Carlos:
1. Erasmo Carlos
2. Maria Bethânia
3. Cauby Peixoto

– Autores mais gravados por Roberto Carlos:
1. Erasmo Carlos
2. Carlos Colla
3. Mauro Motta

– Obras executadas em TV Aberta que mais renderam direitos autorais para Roberto Carlos nos últimos 5 anos:
1. Como é grande o meu amor por você
2. Além do horizonte
3. Esse cara sou eu

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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