_C4A0070Em 2011, Zélia Duncan viajou o Brasil com o espetáculo Totatiando. Primeira experiência dela como atriz, a peça dirigida por Regina Braga dava vida a uma série de histórias, mulheres e situações escritas por Luiz Tatit, compositor paulistano que foi apresentado ao Brasil nos anos 1970 como integrante do grupo Rumo. Dono de um modo bem particular de fazer música, ele nunca imaginou que suas composições poderiam ser encenadas e até se surpreendeu com o resultado no palco.

“Fiquei encantado. A Zélia pegou outra dimensão das canções, que é o lado teatral. Claro que eu sabia que tinha personagens, mas eu não sabia que poderiam ser atuados. Você vê que os personagens são retirados da canção”, surpreende-se Tatit, que este ano lançou um novo disco com mais músicas e histórias. Lançado seis anos de Sem Destino, Palavras e Sonhos (Dabliú Discos) traz 13 faixas inéditas que falam sobre a inspiração que se arranca das mulheres, da vida cotidiana e da própria música.

CAPA_PALAVRAS E SONHOS_LUIZ TATITPara dar conta de tanto assunto, o álbum produzido por Jonas Tatit conta com convidados bem especiais. Juçara Marçal divide os vocais em Tristeza do Zé, feita em parceria como Zé Miguel Wisnik. “A conheço há muitos anos. Além de cantora, ela me acompanhava em situações universitárias porque tinha interesse na pesquisa”, explica ele, que também é professor da disciplina de Teoria Semiótica e Aplicação na Música Brasileira na Universidade de São Paulo. Outro convidado é Marcelo Jeneci, que divide a parceria, canta e toca piano na belíssima Estrela Cruel. “O Jeneci já é um pouco mais recente. Ele era só instrumentista, de piano e sanfona, e participava dos shows do Wisnik. Daí ele começou a participar dos meus discos e os efeitos que ele fazia deixavam a canção com um acabamento melhor”.

Outra convidada de Palavras e Sonhos é Ná Ozzetti, parceira inseparável desde os tempos do Rumo. É ela quem faz as vozes da onírica Planeta e Borboleta. Do grupo com quem lançou seis discos, entre 1981 e 1989, Tatit lembra que o prazer do trabalho coletivo era inverso à capacidade de fazer dele algo sustentável. “Ficamos 18 anos trabalhando no grupo sem ganhar um tostão. Naquele tempo não existia cachê como hoje”, comenta sem arrependimentos. Por outro lado, ele comemora o fato de manter contato com os antigos companheiros (as fotos que ilustram o álbum são do baterista do Rumo, Gal Oppido), embora não haja plano para uma reunião por conta da incompatibilidade de agendas.

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Já a carreira acadêmica de Luiz Tatit segue firme. Mesmo oficialmente aposentado desde 2014, ele segue na pós-graduação na Universidade de São Paulo com orientações de mestrado e doutorado, além de manter a disciplina de Teoria Semiótica e Aplicação na Música Brasileira. Para ele, ser um estudioso do objeto música não o deixa mais frio ou distante em relação ao ofício de compor. “A atividade acadêmica é de análise, que é o contrário da produção musical, que é síntese. Uma coisa não tem muito a ver com a outra”, analisa ele, acrescentando que sempre tenta separar os dois ofícios. “Na medida do possível, dedico períodos à vida acadêmica e outros à música. Mas, como sou uma pessoa única, às vezes um interfere no outro”, pontua.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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