LU XXX ANOS 3 crédito Fernando Schlaepfer (1)
Por Larissa Viegas (larissaviegas@opovo.com.br)

A gente conversou com o Dado Villa-Lobos e o Marcelo Bonfá, que estão em Fortaleza com a turnê Legião Urbana XXX Anos. Antes de curtir o show, não deixe de conferir a entrevista que fizemos com os artistas! A do Dado está por aqui e agora você pode conferir a que fizemos com o Bonfá.

Discografia – Parte da Legião retorna aos palcos. Como é estar de volta aos palcos, carregando o nome da banda?
Marcelo Bonfá – A gente tá com uma resposta muito bacana desse projeto. Estamos na estrada desde setembro de 2015. A Legião não existe mais, esse é um projeto pontual em comemoração aos 30 anos do nosso primeiro álbum. Quando a gente tava na ativa, a gente tinha uma espécie de pacto, acordo, que o Renato gostava muito de dizer, que se um membro da Legião saísse, ela não iria mais existir. Mas eu e o Dado temos nos encontrado nesses últimos 10 anos (quando você tem 50 anos, a gente fala tudo em décadas – Risos) e quando a gente se junta para tocar essas músicas, acho que elas ganham um áurea interessante, pelo menos eu tenho percebido uma energia muito legal. E a gente tá com uma banda maneiríssima, tem músicos novos, garotos, amigos e supertalentosos, com uma sincronicidade muito legal.

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Discografia – Como se deu o convite para o André, que assume os vocais?
Bonfá – Lembro que salvei o André algumas vezes do tumulto da plateia, pra ficar no camarim com a gente. Então tem muita sincronicidade rolando nesses 30 anos, acho que não é à toa que se costuma comemorar certas datas, mas especialmente nisso, existe uma junção astrológica rolando, esse tal de ‘retorno de saturno’ que eu não entendo nada, mas tenho uma certa intuição e eu costumo pautar a minha vida com isso. Se você deixa um canal aberto com o seu ‘eu maior’, com a verdade mais verdadeira, essas coisas acontecem na sua vida. Então você começa a ver pessoas que tem maior sincronicidade com você mais perto de você, trabalhando.

Discografia – Quando você olha para trás e pensa nesses 30 anos do primeiro álbum da Legião, o que lhe vem à cabeça?
Bonfá – A gente era um bando de moleques, fazendo música para a molecada, a gente tava construindo alguma coisa. E a música é algo muito abrangente, tem o lado de todo mundo ali na banda. Esse trabalho foi construído por um grupo, não por uma pessoa só. Hoje, depois de alguns anos de afastamento desse trabalho, eu acho que a gente consegue subir ao palco com um pouco mais de autoridade, executar as músicas até melhores do que a gente fazia. A gente entende o que era mais irrelevante nesse trabalho hoje, então a gente chega em cima do palco e não tem brincadeira, é ‘pá e pum’, a gente sabe os arranjos, opta por um ou outro. Eu acho que os shows estão com as mesmas forças dos shows de 30 anos atrás , muito pesado. O Andrezinho é responsável por isso também, porque ele tem uma performance muito bacana, como amigo e fã da banda. E em momento algum ele quer ser o Renato. É um cara que tem uma história com a gente, tem um puta respeito pelo trabalho e uma admiração por todos que fica evidente.

Discografia – Que avaliação você faz hoje desse primeiro disco?
Bonfá – Ele é um álbum atemporal, como todas as músicas da Legião. Então, no show, que é de comemoração, a gente toca esse disco todo, de Será a Por Enquanto, que fecha o ciclo. Esse primeiro disco tá com a gente desde sempre. Quando a gente entrou na gravadora, já tinha ele. Claro que em um universo mais diferente, mais radical, mais violento. Porque a gente tocava ao vivo e era um bando de adolescente revoltado e a música é muito visceral. Ele tem uma variedade rítmica, tem reggae, disco, músicas mais alternativas, punk rock, e a gente vê isso no palco. É uma coisa muito bacana.

Discografia – Vocês eram muito jovens, enérgicos quando a banda começou. Como é estar no palco, hoje, mais maduro e pai de família?
Bonfá – Eu não esperava tanta receptividade. Tem sido uma coisa muito grande, muita intensa. Por todos os lugares que a gente passa, as pessoas cantam todas as músicas do início ao fim. E aquela galera ali da frente do palco é muito nova, tem uma mistura de crianças e elas cantam as músicas todas! Eu recebi uma vez uma cartinha de uma menina de, sei lá, nove anos, e ela fez um desenho todo colorido e é tão bonito, eu sou tão feliz de poder viver esse momento, ver as pessoas cantando as músicas da Legião. Porque é um trabalho que a gente fez durante muitos anos, com todo carinho, dedicação e eu acho que fomos muito importantes, muito relevantes, e eu percebo ao longo dos anos a importância. O que eu ouço o dia inteiro é isso, ‘a construção da minha vida, do meu caráter’, as pessoas dizem isso muito. São músicas que trabalham quase como um oráculo, elas despertam certos questionamentos dentro das pessoas que levam para uma coisa construtiva. É muito bacana mesmo.

Discografia – O Jonnata Doll (Jonnata Doll & os Garotos Solventes) participa do show de vocês, dentre outros grandes artistas. Como tem sido esse encontro com uma nova geração do rock nacional?
Bonfá – Ele (o Jonnata) virou nosso irmãozinho! Desde meu primeiro disco, ele é um cara maneiro, era meu amigo de estrada, como o Fernando Catatau, que faz um trabalho que eu gosto muito. Conheci muitos músicos em Fortaleza ao longo do tempo. E agora tem o Jonnata, que tem essa coisa contestadora e a performance dele no palco é muito legal.

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=iLx3KesvC2M[/youtube]

Discografia – O que você acha do atual cenário do rock nacional?
Bonfá – Muito tempo se passou, houve várias transformações nesse aspecto no Brasil. Teve um momento meio de bloqueio, que eu acho natural. As coisas são cíclicas e eu acho que a música popular tomou um pouco mais o campo e que esse tipo de rock, que teve uma força nos anos 1980, foi levado para escanteio. Mas neste momento se desperta de novo esse tipo de discurso, principalmente porque as músicas da Legião tem uma abrangência muito grande. O Brasil é um país tão grande, cheio de ritmos variados, e essa fusão toda é quase infinita, junto com o rock, que é uma música que podemos dizer que é fácil. A própria Legião começou com punk rock, que veio da Inglaterra, Nova York, dos grandes centros. Em cada cidade do mundo, essa música conseguiu agregar certas peculiaridades do ritmo local. Como o Brasil é muito grande, em todas as capitais você tem expoentes novos com ideias diferentes.

Discografia – Para vocês, qual é a obra-prima da Legião?
Bonfá – Eu acho tudo muito bacana e todas elas têm um espaço pra mim. Você está perguntando para uma pessoa que o ponto de vista é bem diferente do resto dos 25 milhões de pessoas que compraram os discos ou da população inteira que conhece o trabalho da Legião (risos). Mas não posso descartar Será e até músicas que não são da Legião, mas do Renato, do Aborto Elétrico, como Geração Coca-Cola, ou só eu e o Renato, como Soldado. Tem Metal Contra as Nuvens, que eu acho o máximo, Faroeste Caboclo, Vento no Litoral, Angra dos Reis. A maioria que a gente toca no show são obras primorosas.

Discografia – Recentemente, uma pesquisa do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) mostrou que o rock vem perdendo espaço entre o público para estilos popularescos como o sertanejo universitário. Tendo vindo de uma época em que o rock dominava as rádios, o que vocês acham que aconteceu de lá para cá?
Bonfá – O Brasil cresceu e a economia possibilitou uma classe mais desprivilegiada, digamos assim, acessar uma cultura um pouco mais vasta e a coisa ficou num âmbito muito regional. A música de hoje nada mais é que a demanda, o anseio desse tipo de coisa. Mas é o passo inicial para essa galera, que também está indo pro show da Legião, mesmo sem nunca ter visto um show de rock, e eu tenho percebido que as pessoas têm saído extasiadas. E eu fico realmente muito feliz de poder estar vivendo este momento, de estar participando dessa trilha sonora nesse momento importante do País.

Discografia – O que o público pode esperar do show de Fortaleza?
Bonfá – Fortaleza é um lugar que eu tenho muito carinho, que eu já estive várias vezes e que já apresentei meus projetos solo. Estaremos juntos de pessoas que eu curto, profissionais que estão com a gente e que são amigos de longas datas, então é um momento muito interessante.

Serviço:
Legião Urbana XXX Anos em Fortaleza
Quando: 11 de junho, às 21 horas
Onde: Centro de Eventos no Ceará
Quanto: R$ 160 (arena – inteora); R$ 220 (frontstage – inteira) e R$ 260 (camarote – inteira)
Pontos de vendas: Lojas DLT (Shopping Iguatemi, North Shopping Fortaleza e North Shopping Joquei); Lojas Ferrovia (North Shopping Fortaleza, Shopping Via Sul e North Shopping Parangaba); Single Idiomas (Shopping Villa Mango Open Mall – Avenida Silas Munguba, 3530) e online
Telefone: 3230 1917

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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