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Com 33 anos, Ellen Gomes de Oléria dedicou quase metade desse tempo à música. Cantora, compositora, instrumentista e atriz, ela começou cantando em bares de Brasília, sua terra natal, e lançou o primeiro trabalho solo em 2009, o independente Peça. O disco teve uma boa repercussão, garantiu uma participação no programa Talentos, da TV Câmara, e chegou a Fortaleza com um show na Feira da Música de 2011.

No entanto, foi a participação na primeira edição do The Voice Brasil que garantiu fama nacional para a artista. Integrante do time de Carlinhos Brown, Ellen Oléria saiu como vencedora do programa, ganhou uma séquito de fãs e gravou um segundo disco que misturou composições próprias com regravações de Alceu Valença, Milton Nascimento e Jorge Ben Jor. O disco batizado somente com o nome da cantora teve repercussão enquanto durou o hype do programa, apesar de ter aumentado exponencialmente a popularidade dela.

Agora chega às lojas, Afrofuturista terceiro disco de Ellen que marca seu retorno para a cena independente. “Nunca tive sonho de fazer parte do casting de uma grande gravadora. É uma realidade muito distante da minha”, comenta a cantora, sem desdém, e agradecendo a experiência profissional e pessoal que conquistou enquanto esteve na Universal Music. No entanto, foi a independência que deu a ela a liberdade de falar sobre os assuntos que queria, se acompanhar dos músicos que queria e assinar a produção musical do próprio trabalho – junto com Felipe Viegas.

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E é para falar de amor que Ellen Oléria aproveita essa independência. No entanto, além do amor romântico, de alguém para alguém, Afrofuturista fala do amor entre as raças, do respeito às opções, do amor entre os homens de uma forma ampla. “Temos opções, quebrando os padrões, saindo dos porões, dê-me um punhado de palavra e fogo, faço minhas poções”, avisa ela na faixa-título. “Grande parte desse repertório foi apresentado em shows antes de gravar. Isso trouxe uma consciência maior, se manteria (cada música) apenas no show ou se entraria no disco. Com isso, a gente acaba tendo outro termômetro, que é a reação do público”, explica a artista que trabalhou nesse projeto por cerca de dois anos.

Musicalmente, Afrofuturista é um apanhado de ritmos que vai do forró estilizado ao pop, passando por diversos afluentes da música negra. Das 12 faixas do disco físico, oito são composições de Ellen, uma é parceria dela com a baixista cubana Yusa (Areia) e três são composições de amigos (o trabalho se completa com um remix Afrofuturo) – a edição digital ganha mais quatro faixas. Trocando o violão pela guitarra, ela ratifica cada palavra com uma pegada ora roqueira, ora black romântica.

E, junto com a sonoridade afropop, o novo disco reforça a militância da apresentadora do programa Estação Plural em diversos campos. Assim como faz na TV Brasil, Ellen fala sobre o universo LGBT e questões raciais sempre com o olhar do respeito. “Acho muito bonito esse projeto por que visa humanizar e aproximar as várias camadas sociais. A ideia é que troque pontos de vista sobre violências, exclusão e tolerância”, explica ela que também se prepara para voltar a atuar numa peça de teatro falando sobre a questão do negro no Brasil.

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Seja no palco ou fora dele, tratar sobre esses assuntos é importante para Ellen que analisa com cuidado o momento político que o Brasil vive. “Acho que a gente está diante de um golpe forte, de tirar o ar. Nós criamos as instituições para elas entenderem nossas necessidades coletivas, mas mistura-se muito a prática individual com a dimensão política. Precisamos revisar esses papéis da política. A gente tem um apagamento da ética na atuação política e isso se reflete no cotidiano. Mas a gente precisa acreditar, se recuperar da derrota do nosso projeto democrático. A gente precisa expandir essa cadeia de percepção”, comenta.

Serviço:
Ellen Oléria – Afrofuturista
13 faixas
Independente
Preço médio: R$ 29,90

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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