Larissa Luz por Safira Moreira 2

A palavra do momento é empoderamento. Ela está em todos os jornais, campanhas publicitárias e vozes das pessoas dispostas a lutar pela igualdade de direitos que, embora não sejam novos, costumam ser ignorados. Desde atitudes particulares até ações coletivas, muito se tem discutido sobre como fazer para botar abaixo relações de poder que excluem grupos sociais de uma série de decisões sobre política, estética ou sociedade. Esse é o tema de Território Conquistado, novo disco da baiana Larissa Luz.

Lançado pelo selo Natura Musical, o segundo disco solo da ex-vocalista do Araketu foi dedicado a dez mulheres que contribuíram de alguma forma para esse empoderamento. São personagens como a escritora estadunidense Bell Hooks, a educadora baiana Makota unnamedValdita ou a cantora Nina Simone. “Juntei o desejo de gritar essas coisas, de transbordar enquanto mulher e reverenciar essas mulheres que não são reverenciadas”, explica Larissa sobre o conceito do disco que chega três anos depois de MunDança.

Para chegar a esse conceito, a cantora e compositora de 29 anos contou com a contribuição da antropóloga Goli Guerreiro. “A gente ia fazer uma música, mas, quando nos encontramos a primeira vez, vi que ela tinha de participar de outra forma. Ela me mostrou várias coisas que viu na África, de como as mulheres vivem, se arrumam”, explica Larissa que, ao lado de Pedro Tie, Jr Tostoi e Pedro Itah construiu uma trama de sons eletrônicos e orgânicos que mistura funk, soul, rock e hip hop.

Essa trama é azeitada e ganha mais sentido com letras fortes que falam sobre o que já foi conquistado. “Tem várias meninas deixando de alisar os cabelos, pintando suas tranças. E, quando acontece injuria racial na internet, as pessoas estão cobrando. Quero oferecer minha arte pra esse momento tão transformador”, cita Larissa Luz que recebeu algumas contribuições para reforçar esse discurso. A principal delas vem de Elza Soares, que se chega na faixa título. “Elza é a maior, um exemplo de mulher negra que resiste, que vai além. Ela é o poder”, resume a baiana que contou ainda com Thalma de Freitas e Manuela Rodrigues em Mama Chama.

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Todas negras, elas se irmanam em versos fortes que falam sobre a necessidade de mudar a história quando o assunto é respeito e tolerância. É o caso de Bonecas Pretas, um destaque do álbum que fala sobre a uniformidade de raças nos brinquedos, vitrines e propagandas. “Procuram-se bonecas pretas, procuram-se representação”, anuncia a artista. Já em Meu Sexo, ela levanta a bandeira do empoderamento feminino (“Quero acontecer sem ter que dizer: ‘Ei, é o meu sexo. Quem disse que é pra você?’”). Em Violenta, Larissa mira contra o opressor, seja ele quem for (“Minha vingança está sendo ver a sua decepção em não me atingir. Estou no controle”).

Usar a arte para denunciar desigualdades não é novidade, mas há algo de diferente acontecendo. “Quando você vê uma pessoa ignorante com um discurso de ódio e preconceito, com uma coisa completamente retrograda, a gente fica com um ódio que é combustível, motor para que se possa fazer alguma coisa. Eu revido com ódio. Revido com conteúdo, com argumento”, dispara Larissa completando que a revolta estimula a ação. “Quero acompanhar as discussões sobre quem a gente escolheu pra governar nosso País. Quem aparece na TV falando pra milhões de pessoas são esses caras que a gente despreza”.

Serviço:
Larissa Luz – Território conquistado
Participações de Elza Soares, Thalma de Freitas e Manuella Rodrigues
10 faixas
Natura Musical
Ouça aqui

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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