Foto: Divulgação

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Por: Marcos Sampaio (marcossampaio@opovo.com.br)

Com Sorria, Carol Andrade confirma seu talento para compor melodias assobiáveis e convida o público a comemorar as coisas simples da vida

Uma breve olhada em qualquer noticiário e recebemos uma onde de notícias ruins sobre conflitos, mal-caratismo e desonestidade. É quando estamos à beira de achar que não há solução, que Carol Andrade convida o olhar para as cachoeiras, ouvir o som dos pássaros e observar a riqueza da natureza. Cantora e compositora paulistana, ela acaba de lançar Sorria, terceiro disco de uma carreira de dez anos e uma ode às coisas simples da vida.

Formada em Canto Popular pela Universidade Livre de Música Tom Jobim, Carol divide seu tempo entre os trabalhos como artista e professora de canto. Chegou a pensar em seguir a carreira do pai advogado, mas a música falou mais alto. Aliás, ele, um poeta amador, e a esposa, violonista, formaram as primeiras influências da filha. Decidida pela arte, ela entrou para o grupo de jazz onde conheceu o parceiro, produtor e marido Alex Maia, com quem foi desbravar a noite nos barzinhos com música ao vivo. “Tocar na noite foi uma escola excelente, de sentir o retorno do público, meu cantar, minha expressão. Mas senti vontade de fazer algo com uma identidade maior e começaram a surgir as primeiras parcerias com o Alex”, lembra a artista por telefone.

Foi com Alex que Carol Andrade dividiu o disco de estreia, Vida Adentro (2006), feito de composições próprias interpretadas com voz e violão – a exceção foi uma releitura de Cigano, de Djavan. Em 2013, ela veio com Outras Mulheres, projeto de mais fôlego, onde dividiu o repertório autoral – de alta qualidade – com releituras delicadas para canções de Fátima Guedes, Rita Lee, Chiquinha Gonzaga e outras. “Foi o disco que me projetou em nível nacional. Com ele, dei um passo além, que foi fazer uma turnê na Europa. Nunca tinha saído do País pra levar minha música”, comemora.

Foi na época do lançamento de Outras Mulheres que Carol Andrade conheceu Rosa Passos, que resolveu apadrinhá-la. A cantora consagrada internacionalmente é quem escreve o texto de apresentação de Sorria. Com repertório 100% autoral, esse terceiro disco prima pela interpretação sutil e afinada da cantora. Os arranjos primam pela intimidade com o ouvinte, transitando entre uma pós-bossa nova, um jazz e um abraço caloroso. E tudo isso sem afetação e com muita positividade.

“Embora a história da nossa música seja belíssima, traz muito uma melancolia. Aposto sem medo de ser feliz em usar os meus valores na minha música”, comenta Carol que traz algo do que aprendeu com o budismo para sua arte. “A música é quase um mantra. Ela vai entrando e transformando”, acrescenta ela que vem usando a música como esse agente transformador. “Minha música é pra puxar essas sutilezas. Independente das condições sociais ou políticas, eu quero falar das coisas permanentes e que a gente não repara”, destaca.

E essas sutilezas estão espalhadas sobre os 38 minutos de Sorria, que vem ilustrado com as fotos coloridas de Anaryá Mantovanelli. O choro/frevo Alegre Sertão convida a largar a correria e cair na dança. Flor do Campo transforma a solidão em reencontro, em um dos momentos mais sublimes do disco. Valsarás tem algo de oração para falar sobre a passagem inevitável da morte. A jobiniana Poema do Amor Novo, bem pontuada pelo sax de Rafa Clarim, celebra a chegada do novo ao coração (“De praias antigas guardadas em mim, me traga chuvas de março”). No encerramento, Margarida é uma saudação à mãe, que tem “sorriso gostoso, voz de veludo e mãos arteiras”.

Com esse repertório de delicadezas, Carol alinha uma série de desejos. Com artista independente, ela quer criar mais conexões que permitam levar essas canções para muitos lugares. Quer viajar o Brasil com Sorria e, em seguida, voltar a se apresentar fora do País. “Eu quero o mundo”, resume antes de soltar uma boa risada.

Serviço:
Carol Andrade – Sorria
10 faixas
Independente
Preço médio: R$ 39,90

About the Author

Mariana Amorim

Jornalista, apaixonada por comunicação e envolvida com música! Acha que uma bela canção pode mudar o mundo. Coleciona livros, discos de vinil, imãs de geladeira e blocos de anotação. Apaixonada pelos garotos de Liverpool e pelo rapaz latino-americano.

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